Responsável pela maioria dos alimentos, pequeno agricultor também pode ser guardião do ambiente


Porto Alegre – Os agricultores familiares já são responsáveis por 40% de toda a renda gerada no meio rural brasileiro e geram 8 a cada dez postos de trabalho no campo, hoje, segundo os dados do governo federal. Também produzem a maior parte da comida consumida pelos brasileiros. No futuro, segundo especialistas presentes aos eventos preparatórios da 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, os agricultores familiares também serão os grandes guardiões do meio ambiente. E mais: poderão até mesmo receber dinheiro por isso.


A discussão sobre o futuro da agricultura familiar foi tema central na abertura da plenária do Conselho Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável (Condraf), no início da noite de ontem (4). A sessão contou com a presença do ministro Miguel Rossetto, do Desenvolvimento Agrário.


Para Ignacy Sachs, socioeconomista polonês radicado no Brasil e na França, a manutenção dos sistemas ambientais básicos, como rios e florestas, deverá, no futuro, ficar a cargo dos agricultores familiares. “Quem pode fazer isso melhor que eles, que já o fazem tradicional e historicamente?”, perguntou ele. Sachs acredita, também, que as comunidades tradicionais da Amazônia, como índios e seringueiros, poderiam executar o papel de guardiões da mata com mais eficiência do que um serviço de guarda florestal.


“A primeira coisa que a agricultura familiar tem de cuidar é do equilíbrio do meio em que produz. Uma empresa pode esgotar os recursos naturais de um local e se mudar para outro país. Uma família não: se um pai sabe que seu filho, seu neto terão que viver daquela terra, ele vai se empenhar em preservar aquele sistema”, explica o italiano Paulo Croppo, assessor da divisão de Desenvolvimento Rural do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação. Ele foi outro dos participantes da plenária do Condraf. “Não é uma visão maniqueísta, é econômica. Os interesses são distintos: um precisa cuidar, o outro pode não cuidar. É só isso.”


Croppo acredita que as sociedades vão progressivamente perceber que, racionalmente, o sistema da agricultura familiar é superior ao do agronegócio. “As pessoas vão ver que o melhor sistema não é aquele que produz mais dólares pelas exportações, mas não gera empregos e degrada o meio ambiente. O ideal é ter um equilíbrio entre dinheiro, geração de empregos e sustentabilidade ambiental.”


Segundo dados citados por Sachs em sua conferência, em média, são necessários 200 hectares de soja, produto típico do agronegócio, para gerar um único emprego. Café e cacau, precisam de 30 hectares para gerar um posto de trabalho. Já a horticultura, tipicamente familiar, gera um emprego por hectare, e o cultivo de flores, 15.


A 2ª Conferência Internacional sobre Reforma Agrária e Desenvolvimento Rural, evento organizado pelas Nações Unidas em parceria com o governo brasileiro, acontece a partir de segunda-feira (6), na capital gaúcha. A plenária nacional do Condraf também termina na segunda.

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