Respeito externo pela nossa agricultura

Publicação: 11/05/07

Por: GAZETA MERCANTIL

Há uma nova geração de agricultores com uma capacidade gerencial imensa. A Unctad acaba de realizar um grande evento no Brasil, para discutir o futuro das commodities agrícolas no mundo, ao qual compareceram representantes de mais de 80 países pobres de todos os continentes. O mundo olha o crescimento da produção e exportação brasileiras de alimentos com admiração e respeito, e, infelizmente, com temor. Nos últimos quatro anos o País passou a primeiro exportador mundial de carnes bovina e de frango, de etanol e do complexo soja (grãos, farelo e óleo) e antes já éramos líderes em café, suco de laranja, açúcar e tabaco.


Muitos dados apresentados pelo Brasil chamaram a atenção dos participantes do evento: o primeiro foi o espetacular aumento da produção de grãos nos últimos 15 anos (120%), enquanto a área plantada cresceu menos que 20%; o segundo foi o impressionante salto na produção de carnes, em que avulta a de aves, que foi de 113% em 15 anos! A experiência em agroenergia, especialmente em álcool de cana, foi outra atração. Participações no PIB, na geração de empregos e nas exportações impressionaram bastante.


E duas perguntas freqüentaram todas as discussões: quais os fatores que levaram o Brasil a tamanha expansão e qual o potencial ainda existente? E, adjacente a estas, outra questão: as negociações na OMC ajudaram?


É claro que as vitórias brasileiras nos painéis da OMC contra os europeus no açúcar e contra os americanos no algodão mudaram os paradigmas para as futuras negociações. Mas até hoje tiveram pouco efeito sobre o comércio agrícola brasileiro.


O que realmente contribuiu para esta extraordinária performance do campo foi a atitude dos produtores rurais. Há uma nova geração de agricultores no Brasil com uma capacidade gerencial imensa: são jovens que dominam as tecnologias agrícolas, zootécnicas e veterinárias, providos de grande sentido de responsabilidade social (preocupados com a sustentabilidade ambiental, econômica e social da empresa rural), e que trabalham com informações em tempo real sobre mercados, influência do clima sobre o desenvolvimento das culturas no mundo todo, e movimentos políticos para o campo.


Outro fator determinante para o sucesso foi tecnologia. O Brasil detém a melhor tecnologia tropical do planeta e a Embrapa é o melhor símbolo atual disto, associado com IAC, IB, IZ, Iapar, IMA e dezenas de órgãos de pesquisa nos diversos estados, e até instituições privadas, como o CTC e a Codetec. E, por último, políticas públicas ligadas à renegociação de dívidas, ao aumento de recursos para crédito rural e, sobretudo, à “desamarração” cambial de 1999.


Mas nosso potencial ainda é muito grande. Hoje cultivamos 62 milhões de hectares com todos os produtos agrícolas e temos mais de 200 milhões de hectares de pastagens, dos quais 90 milhões são aptos para a agricultura: 1,5 vez a atual área plantada.


O crescimento horizontal é, portanto, inegável, e nenhum país do mundo tem tal chance; o vertical é também impactante, porque as médias de produtividade ainda são baixas, apesar dos líderes que temos em todas as culturas.


Mas, para transformar esse potencial em realidade, há ainda muito que fazer: uma política de renda, com ações contracíclicas, é essencial, e o seguro rural vem aí para isto. Lição de casa na área da defesa sanitária, da rastreabilidade e da certificação já vem sendo feita.


Investimentos em tecnologia seguem importantes porque este é um tema dinâmico: se pararmos de investir, ficaremos para trás. Abertura de mercados, seja através da OMC ou de outros organismos negociais, seja através do marketing público e privado, é fundamental. Caso contrário, para que crescer?


E a solução definitiva do estoque da dívida, hoje perto de R$ 62 bilhões, precisa ser feita com urgência.


Há, portanto, muito o que fazer, tanto do lado privado quanto do lado público. Estratégias devem ser estabelecidas, respeitadas as questões ambientais, laborais e socioeconômicas.


Tudo isto exige organização dos produtores rurais. Num país democrático como o nosso, políticas setoriais só são implementadas se tiverem o apoio da sociedade em geral. Para que os brasileiros compreendam o real papel do agronegócio em suas vidas – especialmente os urbanos -, é preciso saber o que se passa e o que deve ser feito.


E isto só acontecerá se os produtores de todos os rincões se organizarem, juntando seus escassos recursos para promover seu setor. Sindicatos, associações, cooperativas, agroindústria, todos os agentes das cadeias produtivas devem se somar nesta tarefa. Não se pode aceitar que estejam separados, como se contendores fossem, produtores rurais pequenos, grandes, familiares, médios.


Todos são soldados da mesma guerra: a guerra pelo desenvolvimento do Brasil e por seu papel no combate à fome no mundo.


(Gazeta Mercantil/Caderno A – Pág. 3)(Roberto Rodrigues – Coordenador do Centro de Agronegócio da FGV, presidente do Conselho Superior do Agronegócio da Fiesp, professor do Departamento de Economia Rural da Unesp (Jaboticabal). Próximo artigo do autor em 1 de julho)

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.