Rendimento da safra de café na berlinda

Um cenário registrado há duas safras volta a ser visto nos cafezais brasileiros neste ciclo 2017/18, de bienalidade negativa.

À medida que a colheita avança na região Sudeste – a principal produtora de café arábica do país -, há registros, como ocorreu na safra 2015/16, de um volume de grãos miúdos acima do esperado.

Os cafés graúdos, mais demandados para a exportação, são classificados como peneiras 16 ou 17 acima, principalmente. Até agora, porém, a colheita em regiões produtoras de arábica de Minas Gerais e da Alta Mogiana tem mostrado um menor percentual de peneiras altas, o que significa que a produtividade final da safra pode ser afetada. Isso porque devem ser necessários mais grãos para encher uma saca de 60 quilos. As dúvidas sobre o potencial de produção podem ter efeitos nos preços internacionais do café arábica, que caíram 10,87% até junho.

Na região da Cocapec, em Franca (SP), onde a colheita de café atingiu 30% da produção esperada, o percentual de grãos peneiras 17 a 18 está em 25%, considerando o que foi retirado dos cafezais até agora. De acordo com Jandir Castro Filho, gerente comercial de café da Cocapec, o normal seria um percentual de 30% a 35% de cafés com essa classificação. Ele explica que chuvas insuficientes no período de granação do café, entre dezembro e janeiro passados, afetaram o tamanho dos grãos.

A cooperativa espera receber 1,100 milhão de sacas de café na atual safra – bem abaixo das 1,650 milhão de sacas do ciclo anterior, devido à bienalidade negativa.

Há “visivelmente, mais grãos miúdos”, diz Carlos Alberto Paulino da Costa, presidente da Cooperativa Regional de Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), sobre o café colhido até agora na região da cooperativa mineira. Segundo ele, normalmente, a proporção de grãos peneira 16 acima é de 50% a 60% do total, mas nesta safra está abaixo de 50%.

“Choveu menos do que o necessário e as temperaturas estavam altas em dezembro e janeiro”, afirma, referindo-se à fase de enchimento dos grãos. “Isso desequilibrou o metabolismo da planta e adiantou a maturação do café”, acrescenta o dirigente. Os cooperados da Cooxupé colheram até dia 1º de julho 35% da produção esperada de 6,8 milhões de sacas de café.

Com produção também em Minas Gerais, a Ipanema Coffees tem a maior parte de seus cafezais irrigados, mas verificou a colheita de grãos mais miúdos em sua propriedade de Alfenas, que não é totalmente irrigada, segundo o CEO Washington Rodrigues.

Ele afirma que, de uma maneira geral, áreas não irrigadas devem registrar o problema. Nas irrigadas, diz, há uma fatia de 40% a 45% de cafés de peneiras 17 e 18. Onde os cafezais contaram apenas com as chuvas, esse percentual cai para 30%. Com grãos menores, é preciso um volume maior de café para encher uma saca de 60 quilos. Normalmente são necessários cerca de 500 litros para esse fim, mas “há produtores reportando que vai ser preciso 580 litros”, afirma o CEO da Ipanema.

Pela última estimativa da Conab, divulgada em maio, a produção de café arábica na safra 2017/18 deve somar 35,426 milhões de sacas, 18,3% abaixo das 43,382 milhões do ciclo anterior. A previsão de uma produção menor é decorrência do ciclo de bienalidade negativa, que afeta principalmente o arábica. Só para a região Sudeste, maior produtora de arábica, a Conab estima colheita de 32,9 milhões de sacas, 19,2% abaixo das 40,738 milhões da safra precedente.

Se a incidência de grãos de peneiras mais altas continuar abaixo do esperado, o volume final de produção do país na safra 2017/18 pode ser afetado, concordam as fontes do segmento.

Gabriel Reis Lacerda, agrônomo da Fundação Procafé, de Varginha (MG), diz que a entidade fará um trabalho neste mês para avaliar o rendimento da colheita no Estado. Embora a Procafé ainda não tenha números, Lacerda afirma que “a percepção é de que os grãos estão menores”. Ele reitera que o tamanho do grão não implica prejuízo para a qualidade do café, mas pode impactar a produtividade da safra.

Mesmo áreas de café irrigadas têm registrado grãos menores. É o caso da fazenda Santa Mônica, em Machado, no sul de Minas. Na propriedade de Arthur Moscofian Jr., fundador do Café Santa Mônica, a proporção de cafés peneira 17 acima está em 25%. Na safra passada, foi de 40%.

De acordo com Moscofian, mesmo com a irrigação houve impacto do menor volume de chuvas porque a evapotranspiração foi maior que a quantidade de água jogada nos cafezais. A fatia de cafés de peneiras mais altas também está menor na região da Cooperativa Agrária de achado (Coopama). De acordo com Pedro Oliveira, da área de comercialização da cooperativa, na safra 2016/17, 35% a 40% dos grãos eram peneira 17 acima. Os volumes recebidos na atual colheita mostram um índice de 20% de cafés com essa classificação.


Fonte: Valor Econômico

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