Renda agrícola cai, mas a urbana sobe

04/06/2012 
  

 
 
Por Arícia Martins | De São Paulo | Valor Econômico


Depois de crescer com força em 2011, uma combinação de preços menos robustos e condições climáticas severas já comprometeu um bom resultado para a renda agropecuária neste ano, que deve seguir na contramão da renda urbana em 2012. No ano passado, a receita agrícola total avançou 17,6% sobre 2010 nas estimativas da MB Agro, maior alta nessa comparação desde 2008. Nas cidades, a massa salarial subiu 4,7% no ano passado. Para este ano, a consultoria estima uma queda de 6% na renda agropecuária, enquanto a massa de rendimentos nas regiões metropolitanas deve crescer 5,7%, segundo a MB Associados, já descontada a inflação.


Com as quebras de safra provocadas pela estiagem e a desvalorização de commodities no mercado global, as regiões que dependem mais da agricultura, dizem especialistas, devem sentir com mais força o impacto das safras menos rentáveis em suas economias. Por outro lado, a inflação menor, o aumento de mais de 14% do salário mínimo e negociações salariais bem sucedidas sustentaram uma elevação de 6,2% do rendimento médio real dos ocupados nas seis principais regiões metropolitanas do país em abril, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), na comparação com o mesmo mês do ano passado.


As economias do Nordeste e do Sul, que estão enfrentando secas rigorosas, já sofreram o baque da menor produção agrícola. A atividade nordestina encolheu 1% na passagem do último trimestre de 2011 para o primeiro deste ano, enquanto a queda no Sul foi de 0,4%, feitos os ajustes sazonais, segundo o Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) para cada região. Em igual período, a atividade econômica no país aumentou 0,15%, segundo o indicador do BC. Pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,2% na mesma comparação.


A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) aponta que a safra 2011/2012 de grãos no Sul foi 17,9% menor do que a anterior. No Nordeste, o recuo foi de 15,9%. Na primeira região, o destaque negativo foi a soja, cuja produção caiu 35,4% no período. A estiagem também afetou a colheita de algodão em caroço (menos 22,6%), feijão (menos 17,6%) e milho (menos 2,9%) do Sul. Já no Nordeste, a pior quebra de safra foi a de feijão, que encolheu 43,9%.


“Há um efeito multiplicador disso em todos os elos da economia. O produtor deixa de consumir e o setor de empregos acaba sentindo”, afirma Ana Laura Menegatti, analista da MB Agro. Números do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) corroboram a avaliação.


No Nordeste, o setor agropecuário eliminou 16,4 mil vagas no primeiro quadrimestre do ano. Em igual período do ano passado, o saldo negativo foi menor, de 11,7 mil. No Sul, foram criados 6,2 mil empregos formais pelo ramo entre janeiro e abril, número ligeiramente abaixo dos 6,5 mil postos abertos nos primeiros quatro meses de 2011.


No Centro-Oeste, por outro lado, o desempenho do setor agrícola deve puxar a reboque a economia por mais um ano. A safra de soja 2010/2011 na região, segundo a Conab, avançou 3% sobre a anterior, com destaque para o Mato Grosso, cuja produção subiu 6%. Já a de milho, que tem representatividade menor, cresceu 45,4%.


A bonança no Centro-Oeste, contudo, não impede que a MB Agro projete retração de 6% para a renda agrícola este ano. “A renda é preço versus quantidade. A variável quantidade já está inferior. Os preços vinham muito bem no começo do ano, mas com o aumento da colheita global e perspectiva de uma safra muito grande nos EUA, há uma queda nos preços das commodities”, explica a analista. Ela acrescenta que o milho, o trigo e a soja serão as matérias-primas que terão preços desvalorizados caso a expectativa sobre a colheita de grãos americana se confirme.


Devido aos efeitos da seca, os preços de alguns grãos estão em alta no mercado interno. A soja e o feijão subiram 11,7% e 6,9%, respectivamente, no Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) de maio. Já outros preços agrícolas estão em queda livre no indicador. O milho recuou 7,8% em maio; a laranja registrou deflação de 16%, e a cana-de-açúcar caiu 0,5%. Fabio Silveira, sócio-diretor da RC Consultores, aponta que os preços agrícolas começaram a ceder na terceira semana de maio, com queda de 0,5% em relação a semana anterior, segundo cálculos da consultoria.


Silveira explica que o cenário externo de demanda enfraquecida, junto a safras melhores ao redor do mundo e estoques altos, deve derrubar cotações de matérias-primas neste ano. De acordo com suas projeções, o preço do algodão deve cair 30% no mercado doméstico em 2012; o do café, 25%; o açúcar deve sofrer redução de 15% e o milho e a soja devem recuar 6% e 5%, respectivamente. “Esses produtos são muito influenciados pelo que acontece no mercado internacional. Se cai o preço lá, ele também cai aqui”, observa o economista, que espera crescimento zero para a renda agrícola neste ano.


Com cotações mais tímidas, os investimentos em commodities nas bolsas também acabam migrando para outros ativos, movimento que, segundo Silveira, é um círculo vicioso. “O investidores ficam um pouco assustados e acabam derrubando os preços nesses mercados. Quando os movimentos especulativos cedem, os preços dos produtos também cedem.”
 
 
 

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