Pequenos produtores comemoram a possibilidade de poder vender seus produtos, que já são premiados internacionalmente, em todos os estados do Brasil
A regulamentação do Selo Arte “é o sonho dos nossos antepassados se concretizando”. Assim define a produtora Maria Lucilha de Faria, de São Roque de Minas (MG), na Serra da Canastra, medalhista do Mondial du Fromage em Tours, em Paris.
“Vem das nossas gerações a expectativa por esse momento histórico no queijo artesanal. Poder contar com esse grande avanço será para nós pequenos produtores uma esperança. Esperança na melhoria da burocracia, na autenticidade do nosso produto e o reconhecimento para todos que querem e desejam ir pelo caminho da legalidade”, diz a produtora.
Ivair José de Oliveira, também de São Roque de Minas (MG), classifica o Selo Arte como o registro de nascimento do queijo artesanal. Para ele, a certificação vai ser muito importante para os pequenos produtores poderem vender em todo o país.
“É um passo muito grande que está sendo dado, e é de suma importância para nós produtores que lutamos há tanto tempo para termos um reconhecimento e poder mostrar nossos produtos em outros estados. Por que no nosso estado podemos comer e no outro não pode. Só porque passa a fronteira o produto já não é mais comestível?”, questiona o vencedor das categorias bronze e superouro no Mundial de Paris.
Para o presidente da Associação de Produtores de Queijo Canastra (Aprocan), João Carlos Leite, o selo arte também é a realização de um sonho e vai melhorar a vida dos produtores de queijo do país. “A Lei veio corrigir uma falha histórica com a produção agroartesanal brasileira. Era o nosso sonho. Hoje, podemos dizer que a nossa cadeia produtiva tem uma origem legal, que até então não existia. Então, ganhamos o direito de existir legalmente”.
Leite lembra que a valorização de produtos com valor agregado é uma tendência do mercado mundial, principalmente no Brasil. “O consumidor quer esses produtos que agreguem outros valores, sejam sociais, ambientais, gastronômicos, culturais, principalmente de pequenos produtores. O mercado é avido por esses produtos, mas eles não conseguiam chegar no mercado pela falta de uma legislação que os reconhecesse. Agora, temos o mercado, temos a legislação que nos dá origem e vamos produzir e acessar esse mercado”, diz o presidente da Aprocan.
Prêmios internacionais
Os queijos que até então não poderiam ser comercializados em um estado diferente de onde foram fabricados são reconhecidos internacionalmente. Em junho deste ano, os queijos artesanais brasileiros ganharam 59 medalhas na 4ª edição do Mondial du Fromage em Tours, em Paris.
Uma das produtoras premiadas é Maria Lucilha de Faria, de São Roque de Minas (MG), na Serra da Canastra, que trouxe para o Brasil três medalhas de prata, em três maturações de queijo.
“Poder participar ver de perto a organização e a qualidade dos queijos franceses me deixou deslumbrada, e pude ver de perto que temos potencial e podemos sim produzir os melhores queijos do mundo, precisamos apenas de apoio”, conta Lucilha, que levou os queijos para a França no meio das roupas, dentro da mala, por falta de autorização.
O produtor Ivair José de Oliveira, também de São Roque de Minas (MG), conquistou uma das medalhas superouro inéditas para o Brasil, além de um bronze, em sua segunda participação no mundial.
“A emoção sobe, vem choro, alegria, vem tudo, a gente lembra da trajetória do nosso queijo. Foi fantástico e até inacreditável. Vai ser uma forma a incentivar mais produtores como nós a vir para esse processo de legalização, que vale a pena esse investimento e essa luta do dia a dia”, diz Ivair.