05/10/2002
Principais importadores, Estados Unidos, Europa e Japão, pagam 50% a mais pelo grão sobre o produto convencional. Tradicional exportador de café em grãos e de solúvel, o Brasil ingressa aos poucos na disputa pelo mercado internacional de café orgânico (sem agrotóxico), com demanda crescente, sobretudo, na Europa, nos Estados Unidos e no Japão. Os embarques brasileiros devem ficar em 70 mil sacas de 60 quilos este ano, um salto de 191%, sobre as exportações de 2001, segundo a Associação do Produtores de Café Orgânico do Brasil.
Os volumes destinados ao mercado externo este ano representam 70% da produção brasileira do grão, de 100 mil sacas. O preço da saca de café orgânico é 50% superior ao do tipo convencional.
Apesar do crescimento, os volumes exportados são pequenos, se comparados aos grandes negociadores internacionais, como o México, países da América Central e o Peru – que concentram mais de 50% das vendas mundiais, avaliadas em 1 milhão de sacas por ano. Contudo, o Brasil tem um potencial ainda a ser explorado e pode ficar entre os três maiores exportadores mundiais nos próximos anos.
“Por suas condições geográficas, o Brasil tem potencial para ser um importante exportador, diz Sidney Paiva, diretor do Café Bom Dia, que produz orgânicos desde 2000.De fato, o crescimento da demanda mundial, de 20% ao ano, tem levado diversas torrefadoras brasileiras a investir no produto.
Investimento
O Café Bom Dia, por exemplo, começou produzindo 5 mil sacas em 2000, volume que deve oscilar entre 20 mil e 24 mil sacas este ano, das quais mais de 50% serão destinadas ao mercado externo. “Nossa produção dobra a cada ano”, afirma Paiva. A empresa exporta café orgânico torrado e moído, solúvel e em grãos para os EUA, Europa, Japão, Argentina e Canadá. A empresa tem planos de produzir 45 mil sacas em 2003.
A empresa Native, controlada pelo grupo Balbo, de Sertãozinho (SP), iniciou a produção de café orgânico em 1997 e passou a negociar o grão em março de 2001. “Criamos um padrão de café Native, com a finalidade de resgatar a bebida que era consumida há 40 anos no Brasil, completamente diferente dos cafés que o mercado oferece hoje”, diz Leontino Balbo Júnior, diretor da Native, que também vende açúcar orgânico. Para Balbo, apesar do crescimento do consumo no Brasil, a base ainda é muito pequena. “A tendência é de crescimento acelerado, de pelo menos 30% ao ano.”
Estratégia
A Native começa a alinhavar estratégia para introduzir o produto no exterior. “Estamos em três redes de supermercados de Cingapura e negociamos com outras duas grandes redes norte-americanas que vendem somente produtos orgânicos”, diz Balbo. A Native produz café orgânico expresso, cujo preço de venda sugerido ao consumidor final é de R$ 0,80, café instantâneo, com preço de R$ 5,90, e em pó, que por sugestão da empresa, deve chegar ao consumidor final cotado a R$ 3,60.
Outra empresa que ampliou consideravelmente a produção de orgânico, nos últimos três anos, foi a Café Santa Clara, que tem em Minas Gerais uma unidade de rebeneficiamento do grão e torrefadoras no Ceará e Rio Grande do Norte.
A produção da empresa deve ficar entre 200 e 250 toneladas este ano, em comparação com as 60 toneladas produzidas em 1999. “Nossas exportações representam 10% da nossa produção e vão para os Estados Unidos e para a Inglaterra”, diz Vicente Lima, diretor da Café Santa Clara .
É cada vez maior o número de empresas que investe neste segmento. A remuneração é entre 40% e 50% maior sobre a cotação do produto convencional.
Recentemente, o Café do Ponto lançou a marca Aralto Orgânico. Outras empresas que disputam palmo a palmo a preferência dos consumidores brasileiros e estrangeiros são a São Braz Alimentos (PB), Café Maratá (SE), Ipanema Agrícola (MG), Sassi Alimentos (SC), Café Bom Jesus (RS) e Gazzola Chierighini Alimentos (SP), (com marca Ituano).
No Brasil, existem 15 entidades certificadoras de orgânicos, com destaque para a Associação de Agricultura Orgânica (AAO), o Instituto Biodinâmico (IBD) de Botucatu (SP), a FVO-IFOAM (Farm Verified Organic – International Federation of Organic Agriculture Movement) e ICS/JAS (International Certification Services – Japan Agricultural Standards), entre outras.