As dívidas do setor cafeeiro referentes ao Fundo de Defesa da Cafeicultura (Funcafé), contraídas há cerca de um ano e com vencimentos entre os dias 1º e 31 de outubro de 2001, foram prorrogadas por um prazo de até 60 dias, conforme determinação do Ministério da Agricultura e do Abastecimento.
De acordo com instrução interna do Banco do Brasil, estão alongados os débitos ligados ao custeio da colheita de julho deste ano, pré-comercialização de 1998/1999 e 1999/2000 e custeio de tratos culturais de 1996/2001. As dívidas com o Funcafé, no Brasil, giram em torno de R$ 1,3 bilhão, sendo que Minas responde por cerca de 50% do total. A solução do Governo, de acordo com o presidente da Comissão Nacional de Café da Confederação Nacional de Agricultura (CNA) e diretor-tesoureiro da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), João Roberto Puliti, é apenas paliativa. Segundo ele, integrantes da CNA e do Conselho Nacional do Café (CNC) estão, desde agosto, buscando uma solução definitiva para o questão do endividamento do setor. “Estamos propondo o pagamento das dívidas no prazo de 20 anos, com três anos de carência, e juros de 8,75% ao ano.
Já estivemos em Brasília conversando com deputados mineiros ruralistas, lideranças partidárias e até com o ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, tentando negociar o melhor para o cafeicultor. Estou confiante de que vamos conseguir reverter a situação atual”, comentou João Roberto. O diretor-tesoureiro explicou que a forma atual de quitação das dívidas prejudica os cafeicultores. “A falta do pagamento em dia provoca inadimplência, o que dificulta sensivelmente a atividade do setor. Não queremos dar o calote, mas, com o aviltamento dos preços, a crise e a seca, dificilmente o produtor de café conseguirá sobreviver se não tiver um incentivo por parte do Governo”, ponderou. João Roberto não ficou surpreso com o fim da política de retenção do café, anunciada oficialmente em Londres no final de setembro. “A retenção, no primeiro ano, foi inteligente e funcionou bem. Depois ficou complicada, devido principalmente à atitude do Vietnã de ter espalhado muito café pelo mundo, cobrando US$ 17,00 a saca de 60 quilos.
Com isso, a saca no Brasil está sendo vendida na faixa de US$ 40,00, quando o preço ideal deveria ser de US$ 100,00″, explicou. A implantação de programas de marketing, na opinião do presidente da Comissão Técnica do Café da Federação da Agricultura de Minas Gerais (Faemg), Breno Pereira de Mesquita, será fundamental para dar mais fôlego ao desenvolvimento do setor cafeeiro em Minas Gerais e no País. De acordo com ele, uma medida concreta que poderia ser implementada o quanto antes seria a inclusão do produto na merenda escolar. “O Brasil consome cerca de 13 milhões de sacas por ano.
No curto prazo, poderia crescer 50%”, comentou. Quanto ao mercado externo, Breno acredita que o marketing poderia ajudar o Brasil a vender café a países que estão ingressando na economia de mercado. “Os jovens consomem de tudo, Coca-Cola, McDonalds e o café poderia ser outro produto. Seria uma estratégia interessante”, comentou o dirigentes da Faemg, acrescentando que, quanto mais mercado, mais oportunidades de venda. Breno Mesquita informou que uma equipe formada por publicitários e profissionais de marketing, contratados pelo Conselho Deliberativo de Política Cafeeira, subordinado ao Ministério da Agricultura, já está trabalhando na confecção de campanhas voltadas para o aumento do consumo de café no País e no exterior. O presidente da Comissão Técnica do Café salientou também que vê o problema do endividamento dos cafeicultores como obstáculo ao crescimento do setor. “Esse problema, aliás, não é apenas do produtor: é municipal, estadual e federal, pois provoca desemprego”, comentou. Segundo ele, aproximadamente 60% dos municípios mineiros têm o café como atividade econômica, não necessariamente a mais importante.
Ele ressaltou, ainda, que demissões no setor podem ocorrer também devido à relação custo/receita. “O custo da produção da saca de 60 quilos é de R$ 150,00, enquanto o preço pago no mercado é de mais ou menos R$ 100,00. O grande problema é a demissão, que poderá ser medida após o período da safra, no final de outubro”, afirmou Breno Mesquita.
(Folha da Manhã/MG)
Autor: Agroclubes – Data: 9/10/2001 23:42:39 – http://www.agroclubes.com.br/coluna_leitor/colunas.asp?coluna=886&mensagem=273&codigo_produto=886