Região Oeste Baiano, o maior celeiro de grãos

Por: Valor Econômico

VALOR ESTADOS
04/06/2010 
  

Conhecida como grande produtora de soja, arroz, algodão e milho, a Bahia quer diversificar o perfil do seu agronegócio com o resgate de culturas tradicionais como o cacau e o café. No oeste baiano, maior celeiro de grãos do Estado, produtores e governo se unem para construir uma nova rodovia, avaliada em R$ 100 milhões, que vai ajudar a escoar as safras de 1,3 mil produtores do entorno. Já na área da ovinocaprinocultura, o Estado investe no melhoramento genético dos rebanhos e dispara um programa de doações de animais para estimular a criação em pequenos núcleos familiares. Com recursos de R$13 milhões, a iniciativa já entregou mais de 30 mil caprinos e ovinos para 7,5 mil famílias de agricultores em 126 municípios.


\”O trabalho de melhoramento genético dos animais tem a região do semiárido como foco\”, explica Eduardo Seixas de Salles, titular da Secretaria da Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri). O governo também apoia projetos localizados para fomentar o agronegôcio. Para fortalecer a cultura de cacau, vai renegociar a dívida de 3 mil produtores com o Plano de Desenvolvimento e Diversificação Agrícola na Região Cacaueira do Estado da Bahia, conhecido como PAC do Cacau, que prevê a revisão de R$ 963,5 milhões em débitos dos agricultores.


Segundo a Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia (SEI), pelo menos cinco municípios baianos tornaram-se estratégicos dentro do cenário da agricultura baiana, entre 1999 e 2007. A lista inclui as cidades de São Desidério, com 7,7% de participação no setor agropecuário baiano; Barreiras, com 4,5% de representatividade; e Luís Eduardo Magalhães, com 2,6% – todas localizadas no oeste baiano, região conhecida pela produção de soja. O município de Formosa do Rio Preto, com uma fatia de 2,1% do agronegôcio estadual, na mesma região, ainda concentra culturas de algodão, milho e café. Já a cidade de Juazeiro, no Baixo Médio São Francisco, dona de 3,3% do setor, ganha destaque pela cultura de frutas para exportação e fruticultura irrigada.


\”O produtor do oeste baiano tem propriedades de 1,5 mil a 40 mil hectares, em média, com alto grau de mecanização das lavouras, rotação de culturas e matriz produtiva variada, composta princi
palmente de soja, algodão, milho e café\”, explica Walter Horita, presidente da Associação de Agricultores e Irrigantes da Bahia (Riba), criada em 1990.


A Aiba tem 1,3 mil associados, que representam mais de 90% da área plantada do oeste baiano. A soja é a cultura dominante da região, com 1,1 mil produtores espalhados em 1 milhão de hectares. O algodão reúne 140 produtores em 270 mil hectares e o milho aparece em 350 propriedades, com 170 mil hectares plantados.


Para prover uma melhor infraestrutura logística para o escoamento da produção, a Aiba e o governo estadual investem na Rodoagro, que ligará a rodovia BA-459, conhecida como Anel da Soja, ã BA-225, localizada no município de Formosa do Rio Preto. A via de 200 quilômetros, avaliada em mais de R$ 100 milhões, atravessa os municípios de Barreiras e Riachão das Neves e deve beneficiar mais de 1 milhão de hectares de plantações.


Em Piatã, na Chapada Diamantina, os produtores estão ganhando fama nacional pela qualidade do café produzido na região. No ano passado, o grão de um dos fazendeiros da cidade foi considerado o mais saboroso do Brasil e outros três produtores locais ficaram entre os dez primeiros colocados em um concurso nacional de qualidade, organizado pela Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA).


Vencedor do concurso do melhor café do Brasil, Antônio Rigno de Oliveira planta café em uma área de 80 hectares na Fazenda São Judas Tadeu. Colheu mil sacas em 2009, com um faturamento de R$ 400 mil, e deve entregar 1,5 mil sacas neste ano, com receitas de até R$ 600 mil. \”A mercadoria vai para o Japão e Europa\”, diz.


Com a recuperação da lavoura, a meta de Oliveira é chegar a 3,5 mil sacas em 2011. Quanto começou o negócio, em 2000, Oliveira tinha apenas três funcionários. Hoje, são 15 empregados fixos e, durante a colheita, reúne até 200 colaboradores. Segundo especialistas, o café de Piatã é reconhecido pela qualidade por conta da localização das plantações – os cafezais estão a 1,4 mil metros de altitude -, pela grande frequência de dias ensolarados, poucas chuvas e baixas temperaturas no inverno.


Para João Lopes Araújo, presidente da Associação dos Produtores de Café da Bahia (Assocafé), que reúne 600 produtores, a safra de café deste ano na Bahia deve render 2,5 milhões de sacas e R$ 650 milhões em receitas. O Estado ocupa o quarto lugar no ranking nacional de produção, atrás de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo. \”Vamos gerar mais de 300 mil empregos em 2010.\”


Segundo Araújo, a Bahia tem 12 mil produtores de café em mais de 150 municípios – 85% são de pequeno porte. Até dois terços da produção é do tipo arábica, espécie produzida no Estado há quase 200 anos. \”O maior desafio para o café baiano é o mesmo do Brasil: trabalhar com preço baixo\”, analisa. \”A falta de lucro estagnou a produção durante anos.\”
A meta da Assocafé é levar ao pequeno produtor mais assistência técnica, melhor fluxo de capital com linhas de crédito para o custeio e estrutura comunitária nas áreas de concentração da produção. \”A maioria dos fazendeiros não tem acesso à internet ou a outras fontes de informação.\”


No primeiro trimestre do ano, a Agência de Fomento do Estado da Bahia (Desenbahia) aprovou R$ 5 milhões em financiamentos para o agronegócio. O montante representa um crescimento de mais de 50%, em comparação ao mesmo período de 2009, quando foram aprovados R$ 3,3 milhões. A maior parte dos recursos vai para os produtores de grãos e algodão do oeste baiano, pecuária e o setor de legumes.


\”Há uma forte tendência no Estado de crescimento da agricultura familiar, que concentra 650 mil estabelecimentos, ante 95 mil propriedades consideradas não familiares\”, analisa Luiz Mário Vieira, coordenador de acompanhamento conjuntural da SEI. Por outro lado, há uma inversão na área ocupada. Enquanto os pequenos agricultores ocupam áreas estimadas em 9 milhões de hectares, os grandes produtores exploram 20 milhões de hectares.


Para equilibrar esse quadro, o governo estadual investe em onze programas de fomento somente para a agricultura familiar, como o Sertão Produtivo, criado em 2008, que entregam caprinos e ovinos para pequenos criadores. Com
um aporte de recursos de R$ 13 milhões, a iniciativa é direcionada para a região do semiárido – 93% do rebanho da Bahia está na região, caracterizada por escassez de água e de forragens para a alimentação dos animais. Entre os objetivos do programa estão o incremento da renda dos agricultores e a melhoria genética do rebanho.


O rebanho caprino da Bahia é considerado o maior do Brasil, com 4,5 milhões de cabeças, enquanto o de ovinos é o segundo do país-depois do Rio Grande do Sul – com 2,5 milhões de cabeças. \”Até o final de 2009, o Sertão Produtivo entregou mais de 30 mil animais para 7,5 mil famílias de agricultores em 126 municípios\”, diz Eduardo Salles, da Seagri.
Em um prazo de 18 meses, cada família contemplada com cinco fêmeas deve entregar o mesmo número de animais a um segundo grupo. A ideia é garantir a sobrevivência do projeto e ampliar o volume de agricultores beneficiados. No início do ano, foram distribuídos 310 caprinos no município de Cotegipe, no oeste do Estado, para 60 famílias.

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