Marisa Cauduro/ValorBielawski, dono das redes Viena e Ráscal: “Esse Brasil novo exige velocidade grande para crescer e não temos dinheiro” Quem conhece Roberto Bielawski, dono da rede restaurantes, lanchonetes e cafés Viena e Ráscal, sabe que ele não pára quieto. Agitado, ele pensa e fala rápido e, agora, tem pressa para fazer o negócio da família, fundado há 32 anos e com 70 unidades, ficar bem maior. “Esse Brasil novo exige velocidade grande para crescer e nós não temos dinheiro suficiente”, diz o empresário, que está negociando a venda de uma parte da empresa à Advent, uma das maiores empresas de private equity do mundo.
A operação – a primeira a ser feita pelo fundo Lapef IV, que tem US$ 1,3 bilhão para investir na América Latina – deve ser fechada entre duas e quatro semanas e não inclui a marca Ráscal, que conta com seis restaurantes e deve ganhar mais dois em breve.
O negócio com a Advent permitirá a Bielawski vender seus quitutes em aeroportos, onde, em geral, não se pode comprar comida de boa qualidade. A Advent é dona do Grupo RA, empresa familiar comprada no início deste ano, e que detém a concessão para vender refeições nos aeroportos paulistas de Congonhas e Cumbica e mineiros de Pampulha e Confins. O grupo RA também possui serviço de catering aéreo, mas Bielawski não tem planos de operar nesse campo.
Com o Grupo RA, a Advent já soma uma carteira de oito empresas no Brasil. A aquisição da RA, em que os antigos donos ainda têm 15%, foi a última feita pelo fundo Lafep III. A operação com a rede Viena faz parte do “plano de consolidação no mercado de refeições”, informou a Advent, que também é dona da Brasif, empresa que possui as lojas duty-free nos aeroportos brasileiros, da seguradora J. Malucelli, Atmosfera (lavanderia), Asta Médica (laboratório), Atrium Telecom, Microsiga, e CSU CardSystem.
“Vamos começar a operar nos aeroportos de Congonhas e Cumbica já em 2008”, diz Bielawski, que quer expandir os negócios além das fronteiras de São Paulo, onde tudo começou, e Rio, onde tem 50% da operação e Angel Domingo Testa como sócio (ver tabela ao lado). “Estou estudando os mercados de Brasília, Porto Alegre e Belo Horizonte. O importante é termos unidades em lugares de grande tráfego, como aeroportos e shopping centers”, diz Bielawski.
Ele abriu sua primeira loja em 1975 num dos pontos de maior fluxo de pessoas na cidade de São Paulo – o Conjunto Nacional, complexo de lojas e escritórios instalado nas esquinas da avenida Paulista com rua Augusta e com a alameda Santos.
Naquele ano Bielawski tinha grandes dúvidas sobre o que fazer da vida. Aos 25 anos, ele havia terminado a Faculdade de Economia e Administração da USP – depois de ter passado três anos na Europa, longe da ditadura no Brasil – e pensava em fazer a pós-graduação nos Estados Unidos. Mas para isso, teria que deixar a namorada Liane Ralston para trás e ainda conseguir uma bolsa de estudos já que o dinheiro estava curto. O jovem economista desistiu de viajar aos EUA e propôs ao pai, Artur, abrir um pequeno negócio, inspirado na sanduicheria Ponto Chic, no Largo do Paissandu, e no restaurante Massa DOro, onde se comia de pé ou sentado em banquetas.
A idéia de vender comida de qualidade a preço acessível deu certo. Havia fila para comprar a coxa-creme e o delicatessen, um sanduíche de pão italiano recheado de queijo derretido e outras iguarias. Roberto casou com a namorada, que acabou virando sócia.
Mas os tempos hoje são outros e para enfrentar a concorrência é necessário muito dinheiro. “As parcerias vão viabilizar o crescimento”, diz Bielawski. Afirma que, além da parceria com o Ra, da Advent, está aberto a buscar parceiros nas praças onde for abrir negócios. “Em Brasília, vou buscar um parceiro.”
A idéia do empresário é abrir 10 novas lojas, dentre as diversas bandeiras que possui, por ano. No segmento de cafés, por exemplo, a meta é ter 20 unidades da bandeira V.café em quatro anos, apenas em São Paulo. Por enquanto, essa bandeira possui apenas uma loja na Livraria Cultura do Conjunto Nacional. “A chegada da Starbucks trouxe profissionalização a esse tipo de negócio”, diz o empresário, referindo-se à gigante americana que já opera lojas nos mercados do Rio e São Paulo.
Pedro Herz, dono da Livraria Cultura, diz que as duas novas unidades a serem abertas, provavelmente, no início de 2008 – uma no Shopping Iguatemi de Campinas (SP) e outra no Shopping Bourbon em São Paulo – serão equipadas com o V.café. Apenas Herz está investindo cerca de R$ 3 milhões em cada uma.
Bielawski prefere não informar o faturamento de seu negócio, mas os investimentos são de valor nada desprezível. O V.café que funciona na Cultura, por exemplo, exigiu cerca de R$ 500 mil. Emprega 23 funcionários, em dois turnos, e faz 1,2 mil atendimentos por dia. Para a bandeira Viena Express, que possui 23 unidades, os planos de expansão também são importantes e o investimento para instalar uma nova unidade varia de R$ 600 mil a R$ 900 mil.
“A idéia é abrir 10 lojas por ano”, diz Bielawski. Isso para a rede Viena. Quando o assunto é Ráscal, que não está sendo negociado com a Advent, o empresário abre um sorriso e não abre os planos. Mas comenta, bem humorado, que seu filho de 22 anos, que acaba de voltar de Boston, onde formou-se em música, resolveu trabalhar na cozinha. “Ele me disse que não dá para viver de música no Brasil”. Outro dia “papai Roberto”, ao passar num dos restaurantes Ráscal, encontrou o filho já à vontade, de uniforme branco. “Olha, ele estava bem bonito!”