O sistema de franchising foi o modelo de negócios encontrado em 2006 pelo empreendedor Eduardo Simões para expandir sua rede de cafeterias, a Scada café, criada a partir de um quiosque no Prudenshopping, em Presidente Prudente, interior paulista. Em janeiro de 2009, a Scada café inaugurou sua quinta unidade, a primeira em São Paulo, no shopping Bourbon Pompeia. Simões relata que já tem outras quatro unidades comercializadas e a meta é chegar a 15 lojas até o final do ano. Se alcançar o objetivo, o empreendedor estima que sua receita anualizada com a cobrança de royalties chegará à casa dos R$ 400 mil. Seu ganho como franqueador também virá da cobrança da taxa de franquia, que ocorre uma vez, na assinatura do contrato com o franqueado, e varia entre R$ 30 mil e R$ 40 mil, dependendo do porte da unidade.
E este é só o começo. Para 2010, a meta de Simões são 35 lojas comercializadas. Em cinco anos, os planos do empresário contemplam tornar a Scada café uma rede de grande porte, com presença em 10 Estados, e dar início ao desenvolvimento de uma estratégia de internacionalização. “O franchising permite uma expansão rápida, uma vez que os investimentos são feitos com recursos de terceiros. E as unidades são comandadas por empreendedores, não por funcionários”, diz Simões. “Em contrapartida, é preciso oferecer ao franqueado condições para a obtenção de bons resultados. É a satisfação dele que faz o sucesso de uma rede”, complementa.
Simões entrou no mercado de cafeterias em 2004, com um investimento de R$ 20 mil em um ponto de café quase falido no Prudenshopping. Depois de meses estudando o mercado, investiu outros R$ 130 mil para remodelar o layout do quiosque. Ele também introduziu um cardápio variado e passou a trabalhar com cafés gourmet. “Não planejava franquear, mas passei a receber ofertas de interessados”, recorda o empreendedor. Em 2006, ele montou uma loja de rua, também em Presidente Prudente, que serviria de modelo para a futura franquia, e investiu R$ 250 mil na formatação de seu sistema de franquia, com apoio da consultoria Global Franchising. A estratégia de Simões, em suas palavras, “é oferecer ao franqueado uma loja com personalidade, com produtos de primeira linha e inovadores, acordos vantajosos com fornecedores e todo o suporte operacional necessário, da escolha do ponto ao marketing e com uma consultoria intensiva no dia-a-dia”. Segundo o franqueador, as unidades da Scada café apresentam um faturamento mensal de R$ 45 mil e uma rentabilidade de 22% a 25% do faturamento.
Ricardo Figueiredo Bomeny, presidente da Associação Brasileira de Franchising (ABF), diz que é cada vez maior o número de pequenas e médias empresas que estão adotando o franchising como canal de desenvolvimento de seus negócios. “É um sistema que permite propagar o alcance geográfico de uma marca em uma velocidade maior e com investimentos menores”, diz o executivo.
Entre 2001 e 2007, o número de redes franqueadoras no Brasil dobrou, saindo de 600 para 1.197. Até 2008, a estimativa da ABF é que o número de redes tenha superado 1.300. Em sua maioria, as redes são originárias de pequenas e médias empresas. O número de unidades franqueadas também apresenta forte expansão. Em 2001, as redes contavam com 51 mil pontos de vendas. Em 2008, o número de unidades chegou a 69 mil, após um crescimento de 5,5% no ano. O faturamento do setor de franchising no ano passado alcançou R$ 53 bilhões, com crescimento de 17%. A estimativa da ABF para 2009 é bastante otimista. A previsão é de um crescimento de 5% no número de pontos de venda e de 12% a 13% no faturamento do setor.
Para Bomeny, o forte crescimento do franchising brasileiro é decorrência da maturidade que o sistema alcançou no país. “Hoje a indústria de shopping center nos privilegia em qualquer plano de expansão que execute”, diz o executivo. Uma prova de maturidade, relata o executivo, é a baixa mortalidade de redes no país nos últimos anos. “Não temos estatísticas a respeito, mas sabemos que hoje são raras as redes que fecham”, diz o presidente da ABF. Segundo Bomeny, o franqueador hoje está consciente de que o sistema não é apenas mais um canal de vendas para seus produtos, mas um negócio que depende da parceria estreita entre as partes, uma vez que o insucesso do franqueado reflete na imagem da marca.
A ABF, relata Bomeny, está trabalhando para que a Lei do Franchising, que estabelece as normas da relação entre franqueadores e franqueados, torne-se ainda mais rígida, reduzindo a entrada no sistema de empreendedores pouco comprometidos com seus parceiros. Uma das propostas é o estabelecimento de um prazo mínimo de dois anos entre a abertura da empresa e o início da expansão por meio do franchising. “Queremos atrair para o sistema empresas consistentes, capazes de promover um crescimento sólido de seu negócio”, diz o executivo.
O consultor especializado em franchising André Friedheim, da Francap, relaciona cinco fatores que considera determinantes para o sucesso de uma rede de franquias. O primeiro é que a empresa detenha um conceito de negócio já testado, composto de um bom produto ou serviço com um diferencial competitivo e uma marca reconhecida pelo mercado. O segundo ponto é que o conceito do negócio tenha um apelo geográfico amplo, ou seja, possa ser reproduzido além do local de origem. Outro tópico importante é que a empresa esteja estabelecida em um mercado crescente. O mercado e o produto não podem ser de ocasião, fruto de modismo, mas uma tendência de consumo. O quinto ponto é que a empresa deve estar estruturada para oferecer suporte operacional e de marketing para os franqueados.
Friedheim relata ainda que o franqueador deve estar preparado não só para as vantagens do sistema, mas também para lidar com os fatores que limitam seu negócio. O principal deles é o baixo poder sobre os franqueados, que são proprietários e gestores de seus negócios e não empregados que obedecem a ordens. Uma mudança de estratégia, exemplifica o consultor, é muito mais complicada em uma rede de franquias, onde os gestores das unidades precisam ser convencidos das mudanças, do que em uma empresa convencional. Friedheim lembra ainda que o desenvolvimento de uma boa rede de franquias é um empreendimento de longa maturação, que exige grandes investimentos iniciais e cujo retorno é lento, só ocorre quando o número de unidades franqueadas gere a escala suficiente para isso. “Franquear não é para aventureiros, é para quem planeja em longo prazo”, diz o consultor.
Para Maria Alzira Linares, fundadora da rede de lavanderias Lavasecco, a parceria franqueador-franqueado é o fator determinante para o sucesso de uma rede de franquias. Linares foi executiva do setor financeiro durante 20 anos, mas no final dos anos 90 decidiu mudar de vida e tornou-se franqueada da rede de lavanderias 5àSec , em Alphaville, na grande São Paulo. Linares relata que apreendeu muito sobre o negócio, mas, após cinco anos, em 2005, optou por não renovar seu contrato e partiu para o desenvolvimento da própria marca.
O sucesso da iniciativa levou outros franqueados do setor a consultarem a empreendedora sobre a possibilidade de aderirem à sua bandeira. “Não havia planejado isso, fui me preparar, consolidei a marca com a abertura de novas unidades, contratei a Consultoria Cherto e passei a franquear no final de 2006”, relata Linares. Segundo a empreendedora, sua estratégia é estabelecer um relacionamento próximo aos franqueados, com o acompanhamento constante de cada operação, por meio de um sistema de visitas e reuniões regulares. Linares também aposta na transparência do relacionamento e na inovação com foco em aumentar a rentabilidade do franqueado. Segundo Linares, há muitos franqueadores que empacotam suas inovações em novos formatos que são oferecidos aos franqueados. “O franqueador deve ganhar com os royalties, que vêm do sucesso do franqueado, não com a venda de ´inovações´ aos seus parceiros.”
Hoje a rede Lavasecco é composta por oito unidades próprias e quatro franqueadas. Até o final de 2009, a expectativa é fechar acordo com três novos franqueados e abrir cinco novas unidades. Sua estratégia é de uma expansão moderada, chegando no máximo a 10 franqueados, cada um com potencial para multiplicar o número de suas unidades.