Publicação: 27/02/07
A reclamação da indústria sobre o real apreciado frente ao dólar não se aplica em todos os setores da produção. Ao contrário de alguns segmentos prejudicados pelo baixo preço no momento da exportação, outros, como medicamentos e eletroeletrônicos comemoram a oportunidade de serem mais competitivos. Além disso, especialistas avaliam que o real valorizado traz benefícios para a macroeconomia que se espalham por diversos outros segmentos, como o mercado de capitais, serviços (telefonia e energia) e até para o agronegócio. No caso dos setores beneficiados, o aumento da competitividade ocorre devido a dependência de insumos importados. Já na macroeconomia, um dos principais beneficiados é o consumidor. “Os importadores são muito beneficiados pelo real valorizado. Além disso, eles distribuem esses ganhos para outros setores, como o varejo, por exemplo. Essas importações ajudam no controle inflacionário, o que não deixa de ser um ganho para a economia”, avalia o o gerente de consultoria e exportação da Aduaneiras, Luiz Martins Garcia.
O economista-chefe da Austin Ratings, Alex Agostini, é enfático ao dizer que todos ganham com o real valorizado. “Há uma série de ganhadores com a desvalorização do dólar. Primeiro, percebemos o aumento do poder de compra, uma vez que a inflação está pressionada para baixo. Isso ajuda, inclusive, setores como telefonia e energia a diminuírem preços”, diz Agostini apontando outros beneficiados. “Alguns setores, como o agronegócio, apesar de exportarem a preços menores, também compram insumos mais baratos. Além disso, o câmbio baixo ajuda a fortalecer o mercado de capitais, aumentando o volume de recursos externos no País e ajudando empresas a captarem com um custo mais baixo”.
O economista diz ainda que o ambiente macroeconômico oriundo, entre outros motivos, da valorização do real, está levando o Brasil para outro patamar. “As reservas externas estão sendo ampliadas cada vez mais. Isso oferece mais segurança para o investidor externo e ajuda na atração de capital”, diz Agostini antes de se referir aos setores que tem enfrentado dificuldades com o câmbio, como calçados e têxteis. “O atual patamar do câmbio está premiando a eficiência. Além disso, acredito que os setores que estão sendo prejudicados com o câmbio estão pagando uma espécie de pedágio para usufruir de benefícios muito maiores no futuro”, prevê o economista.
Já o gerente da Aduaneiras, lembra que o Brasil está envolvido com a política do câmbio flutuante, não cabendo ao governo interferir no dólar. “O câmbio tem funcionado de acordo com as regras de mercado. Ou seja, a oferta está maior do que a procura. Isso porque, as exportações foram pressionadas por commodities que se comportaram muito bem. Isso elevou a oferta de moeda estrangeira e por mais que o Banco Central tenha realizado compras, ele não dá conta desse montante”.
Esses fatores já fazem Garcia esperar por um dólar abaixo de R$ 2 em 2007. “Até mesmo a solução do governo para minimizar a queda do câmbio não tem tido efeitos. Os exportadores que poderiam deixar até 30% do faturamento no exterior não têm feito, uma vez que o rendimento interno é maior do que o obtido nas aplicações externas”, enfatiza.
Exportação
O economista da Austin Rating, Alex Agostini, afirma que não há o que fazer para depreciar o real. “Mesmo que o governo derrubasse os juros, o câmbio não chegaria a R$ 2,50 como querem alguns setores. Até mesmo porque, apesar do Real estar se apreciando, continuamos batendo todos os recordes de exportação. Talvez, isso signifique que o câmbio ainda não tenha atingido seu ponto de equilíbrio”, teoriza Agostini.
O assessor econômico da Associação Brasileira de Bancos Comerciais (ABBC), Everton Gonçalves, concorda com certos benefícios trazidos pela valorização do real, como controle inflacionário, recuperação salarial e do poder de compra, mas diz que a economia, principalmente da indústria, já “acendeu o sinal amarelo”. “Temos de tomar cuidado para não nos transformamos apenas em exportadores de commodities, pois corremos os risco de uma desindustrialização”. Apesar de admitir que a inflação tem permitido a queda dos juros, e que um câmbio mais valorizado significaria inflação, Gonçalves lembra que o custo para uma empresa se financiar continua alto.
Para ele, a solução de mercado mais cabível na situação atual seria reduzir ainda mais os juros. “Reduzindo mais a taxa de juros, poderia haver uma minimização dos efeitos do câmbio, e o custo para financiar ficaria menor”.