O apresentador do SBT construiu um império rural com o dinheiro que ganhou na televisão. Agora, o empresário quer criar uma marca própria de carne e exportar café |
POR Fabiane Stefano Todos os dias o apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho, chega às 9 horas no seu escritório de 400 metros quadrados no bairro de Pinheiros, em uma das regiões mais valorizadas da cidade de São Paulo. Do 27º andar da torre de vidro, Massa tem como vista a típica paisagem paulistana, um mar de edifícios, carros e o caos urbano. Mas diante do cenário de concreto, o empresário enxerga muito além. Pastos cobertos de gado, lavouras de soja, milho, feijão e café estão nas miragens rurais do apresentador. Pouca gente conhece, mas Ratinho é muito mais que o polêmico comunicador do SBT. Hoje, Massa se tornou um grande produtor rural com 19 fazendas no Paraná e Mato Grosso do Sul, que juntas somam mais de 26 mil hectares. Estima-se que a Agropecuária Café no Bulé – nome inspirado no bordão televisivo do apresentador – fature cerca de R$ 50 milhões por ano. E planos rurais é o que não faltam na mente do roedor. Um dos mais ambiciosos é lançar uma carne com marca própria, projeto que Ratinho vem negociando com a rede Carrefour. Outra idéia é exportar vitelo para a Europa, fruto da parceria com o pecuarista Ivan Zurita, também presidente da Nestlé do Brasil. Detalhe: o roedor entrou no agronegócio apenas em 1998. A trajetória rural de Ratinho é o resultado da bem-sucedida carreira televisiva desse paranaense de 47 anos. Boa parte do que os gordos contratos de Massa rendiam acabou sendo convertido em terras, gado, máquinas e implementos. Hoje, o salário do apresentador no SBT está na casa de R$ 1 milhão – fora os ganhos com merchandising. Além da atividade agrícola, o Grupo Carlos Massa atua também na área de rádio, ração canina, cervejas, tintas. “O investimento vem do apresentador. Mas cada negócio tem de ser autosustentável”, conta Sérgio Alves, controller do grupo. Durante a semana, Ratinho se divide entre as funções executivas do grupo e o trabalho na televisão. “Ligo todos os dias para todas as fazendas”, conta Ratinho. Já nos fins de semana ele assume sua porção fazendeiro. A bordo de um King Air B200, Ratinho deixa a capital paulista toda sexta-feira e segue em direção a suas fazendas. Lá confere pessoalmente o que lhe foi relatado durante a semana. E não é qualquer coisa que convence o Ratinho rural. Afinal de contas, Massa nasceu e cresceu no campo. Seu pai era lavrador em uma fazenda de café em Jandaía do Sul, cidadezinha próxima à Londrina. Nessa época, o empresário não queria saber da vida no campo. Seu sonho era trabalhar no rádio. Paradoxalmente, o dinheiro que ganhou como comunicador voltou para o mundo rural. “A fazenda em que meu pai era lavrador eu comprei”, costuma dizer com orgulho o empresário. Hoje, o forte da Café no Bule é a atividade pecuária. Ratinho atua de ponta a ponta no quesito bois. De rebanho de corte a alta genética passando por inseminação, venda de bezerros e matrizes. São 30 mil rezes concentradas nas fazendas do Mato Grosso do Sul. O rebanho comercial é fruto de dois cruzamentos: matrizes Nelore com a raça de origem britânica Devon ou com o Simental sul-africano. Ambas as misturas criam uma carne mais macia, com a gordura entremeada. O abate é feito no Frigorífico Independência. Mas um novo projeto está movimentando os veterinários do grupo. Em 2006, a previsão é de inseminar cerca de 7 mil vacas com semên simental para a produção do chamado vitelo branco. A carne é feita a partir de bezerros com 4 meses de idade e será exportada para a Europa. O projeto é feito em parceria com a AgroZurita, do pecuarista Ivan Zurita, que irá fornecer o sêmen, e com o Alfeu Mozaquatro, dono do frigorífico responsável pelo abate do corte. Foi justamente pelas mão de Zurita que Ratinho começou a investir pesado em gado de elite. Do presidente da Nestlé, o apresentador já gastou pelo menos R$ 2 milhões em touros, prenhezes e matrizes. Alguns animais ficam hospedados na Agrozurita, em Araras, como o touro Colemann e as vacas Cherie e Kandy. Outros já foram transferidos para as fazendas de Ratinho para transmitir a genética sul-africana para o rebanho comercial. Esse contato com o melhoramento genético atraiu o apresentador para a pesquisa científica. No momento, estão sendo desenvolvidos nas fazendas Café no Bulé 8 trabalhos de pesquisas em parceria com a Universidade de São Paulo. Todos os trabalhos são sobre IATF: Inseminação Artificial por Tempo Fixo. A técnica permite a sincronização do período de inseminação das matrizes. “Queremos elevar em 10% o índice de prenhezes”, explica o veterinário Luciano Penteado, gerente de todas as fazendas. Para Ratinho, abrir suas propriedades para a comunidade científica é uma forma de ter acesso antecipado à tecnologias que podem levar anos para chegar ao mercado rural. Do mesmo jeito que sua equipe quebra a cabeça para implantar novidades nas fazendas. Estão em estudo o cultivo da chamada cenourete (menor e utilizada para pestiscos), milho verde e frutas. “Lucro, o homem quer lucro…”, brincam seus funcionários. É nesse espírito que o apresentador quer diversificar cada vez mais as atividades da Café no Bulé. Além de soja, milho e feijão, o café se tornou uma das principais apostas do grupo. Por isso, no final de 2004, Massa comprou a Fazenda Ubatuba em Apucarana, no Paraná. A propriedade era conhecida como uma das mais produtivas do grão nos anos 70. Depois da chamada Geada Negra, em julho de 1975, os cafezais foram devastados e a Ubatuba migrou para a cultura de soja, que ganhava espaço na época. Com a venda para Massa, a fazenda retorna à cafeicultura. Já foram plantados 1,2 milhões de pés da variedade arábica. A primeira colheita virá apenas em 2008. Mas quando estiver em plena atividade, o café deve faturar aproximadamente US$ 1,2 milhão – nas cotações de hoje – e será voltado à exportação. A investida no café, no entanto, começou de trás para frente. Primeiro, o apresentador criou e licenciou a marca Café no Bulé. Dentro dos saquinhos, o grão torrado é produzido pelo Café Damasco, de São Paulo. Hoje, a marca é a quinta mais vendida no País. Aliás, Ratinho gosta de exibir os números alcançados dentro de seu grupo. Na mesma medida, e é um obcecado por custos baixos. Esse é um traço comum entre os empresários da cidade que colocam seu dinheiro no campo. As exigências são altíssimas, isso porque a fazenda tem de render tanto quanto os juros pagos pela aplicação em fundos de renda fixa (hoje na casa dos 16% por ano). Não é para menos que escritório paulistano gastou boa parte do mês de janeiro desenhando o planejamento de 2006. A estratégia é diminuir os custos. Os minutos dos celulares pré-pagos dos funcionários vão ter de encolher nessa safra. Afinal, o agronegócio não anda numa fase boa …. Nem para os ratos da cidade. |