02/01/2013
Embarques de abacaxi e derivados produzidos em Minas cresceu 724% de janeiro a outubro. Pêssegos e uvas também tiveram resultado surpreendente, diversificando a pauta do estado
Marta Vieira
Na batalha perdida, em 2012, das exportações de Minas Gerais para a Europa, entre mortos e feridos do ranking de vendas, abacaxis, pêssegos e uvas despontaram como novos e promissores destaques do comércio do estado com o exterior. Os três itens mostraram taxas surpreendentes de variação positiva, diante dos valores apurados no ano passado, embora a receita dos embarques de todo o grupo de frutas e derivados mineiros, que têm no Velho Continente seu principal destino, tenha sido ainda muito tímida, comparada à locomotiva do minério de ferro e do café.
Segundo estudo feito pela Central Exporta Minas, braço da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, o abacaxi e derivados ficaram na dianteira das exportações de janeiro a outubro de 2012, dado mais recente disponível nesse critério de apuração de informações, com um crescimento de 724,5% da receita de vendas, que somou US$ 123,3 mil. Os embarques de pêssegos aumentaram 231,8%, contabilizando US$ 3,9 mil, e os de uvas alcançaram US$ 5,8 mil, um acréscimo de 178,8% na mesma base de comparação.
Até então, o limão e a manga, que sofreram um revés nas exportações em 2012, costumavam dominar as estatísticas de comércio exterior. Quando analisado o resultado geral das frutas e derivados, o estado apurou US$ 2,973 milhões, amargando uma queda de 51,8% em relação aos registros dos primeiros 10 meses do ano passado. Em meio ao mau desempenho devido à crise na Europa e nos Estados Unidos, o diretor da Central Exporta Minas, Ivan Barbosa Netto, afirma que a fruticultura mineira tem conquistado mercado crescente no histórico dos últimos anos, como consequência de investimentos na produção e no embarque que exigem muita tecnologia, principalmente em se tratando da fruta fresca.
“Chegamos a registrar demanda da África do Sul para a nossa fruticultura neste ano, mas não conseguimos atender. Os produtores do Jaíba (polo irrigado do Norte de Minas) não tinham fruta disponível para entregar”, afiram Ivan Barbosa. Relatório do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) indicou que as vendas externas totais de Minas no mercado internacional foram de US$ 30,792 bilhões entre janeiro e novembro de 2012, ante 37,987 nos mesmos meses de 2011. Houve uma queda de 18,9%. As compras da União Europeia, de US$ 6,982 bilhões, diminuiram mais de um quarto, numa retração de 25,73%.
Outra explicação para a boa performance que o segmento das frutas tem apresentado são ações específicas de apoio aos exportadores organizadas pela Central Exporta Minas em parceria com instituições da iniciativa privada, como a Federação das Indústrias do estado (Fiemg) e o Sebrae Minas. A participação em grandes feiras do setor no exterior é uma das iniciativas.
A produção mineira de abacaxis consiste no terceiro maior polo da fruta no Brasil e vem crescendo desde 2010. No ano passado contou com uma estimativa de safra de 251,3 milhões de frutos. A assessora técnica da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento Márcia Paiva observa que fora do circuito europeu a Argentina respondeu pelo grande volume exportado em 2012, impulsionado também pelo aumento da remuneração ao produtor. A tonelada do abacaxi colhido no estado saiu de um valor médio de US$ 240,44 em 2001 para US$ 618,35, representando elevação de 157%. “A tendência é de crescimento contínuo da lavoura, mas os resultados das vendas vão depender do clima e de como os preços ao produtor se comportarem”, observa.
IMPACTO Para os produtores do Jaíba, os efeitos da crise europeia não são tão graves quanto se esperava. “O europeu continua querendo consumir as nossas frutas, mas não está mais disposto a pagar o mesmo, por isso houve uma necessidade de ajuste dos preços”, afirma Jorge Luiz Raimundo de Souza, presidente da Associação Central dos Fruticultores do Norte de Minas (Abanorte). O desafio nas exportações, agora, além da manutenção da regularidade na entrega e da qualidade consistente, está na adequação dos custos.
Uma das dificuldades dos produtores, de acordo com Raimundo Souza, é reduzir as despesas da logística de embarque. Os produtores do Jaíba trocaram o embarque aéreo pelo marítimo da manga Palmer, este ano, para tentar reduzir as despesas: por avião, pagavam US$ 1,5 por quilo da fruta, enquanto o despacho por meio do navio gira entre US$ 0,30 e US$ 0,40 por quilo. A diferença no tempo de chegada do produto, entretanto, impõe desafios técnicos. São cerca de 12 horas de trânsito aéreo da mercadoria, ao passo que por mar, contado o processo de desembaraço aduaneiro, as frutas levam 20 dias para chegar ao cliente, embora acondicionadas em contêiner refrigerado.
Testes agora são com a banana-prata
A banana-prata abre, em 2013, a cortina para novos mercados de exportação buscados pelos produtores do Jaíba. Desde novembro a fruta recebe tratamento especial de monitoramento da qualidade e é alvo de testes relativos à tecnologia de armazenagem e conservação para embarque ao exterior, por meio de convênio firmado com a agência japonesa Jica, de cooperação internacional. Participam do programa técnicos da Jica representantes da Secretaria de Estado da Agricultura, Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) de Minas Gerais, Federação da Agricultura e Pecuária de Minas Gerais (Faemg) e a Central Exporta Minas.
O objetivo do trabalho é melhorar a competitividade dos produtores a partir da melhoria da qualidade dos frutos, conta André Caxito, gerente da Emater/Projeto Jaíba. A banana-prata sai do Jaíba com destino ao entreposto de Contagem da Centrais de Abastecimento de Minas (CeasaMinas), onde uma equipe da Jica avalia de 10 a 12 atributos referentes à qualidade da fruta, desde a homogeneidade ao teor de açúcar e à coloração da casca e do próprio produto. Os relatórios vão orientar o produtor nas lavouras. Inicialmente, 81 agricultores e 61 empresários do setor aderiram ao programa e tiveram suas áreas integradas a um sistema de georreferenciamento.
“Quando a qualidade melhora, o produtor recebe melhor remuneração e a exportação é uma janela e tanto para ser trabalhada. Ela força a melhora de qualidade na gestão da propriedade e impõe práticas agrícolas mais controladas”, afirma André Caxito. Na Faemg, o coordenador da assessoria técnica, Pierre Vilela, destaca a importância do sistema de conservação da banana-prata que está sendo estruturado em parceria com a Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes).
Os testes do processo, orientado para oferecer o melhor custo/benefício aos produtores, começam em fevereiro nos laboratórios da Unimontes. Um contêiner estacionado vai simular durante 25 dias as condições do transporte da fruta de Janaúba ao porto de Roterdã, na Holanda. “A intenção é que a gente faça o teste definitivo da exportação enviando um conteiner à Europa no segundo semestre do ano que vem”, afirma o coordenador técnico da Faemg.
Simulação semelhante de conservação foi feita para a exportação da manga Palmer do Jaíba. Só na pesquisa com esse fim destinada à venda da banana-prata no exterior, o investimento está orçado em R$ 500 mil pelos parceiros do programa, de acordo com Pierre Vilela. “A fruta é um produto novo e há grande avidez do mercado internacional pelas novidades”, afirma. O sucesso do embarque enriquece a pauta das exportações mineiras e contribui para tornar realidade a política de diversificação do comércio do estado com o exterior, como observa o diretor da Central Exporta Minas, Ivan Barbosa Netto. “Há mercados promissores para a fruticultura mineira, como a China e o mundo árabe”, diz.