Mesmo diante dos preços mais baixos em algumas sessões e com as incertezas sobre consumo do café no pós pandemia, o café brasileiro continua sendo o mais competitivo no mercado.
Desde o início de junho o mercado de café vem enfrentando oscilações que já eram esperadas por analistas de mercado, em um momento que a entrada da nova safra brasileira pressionar os preços na Bolsa de Nova York (ICE Future US) e também pelas condições climáticas que devem ditar o ritmo de mercado até o fim da colheita. Mesmo diante dos preços mais baixos em algumas sessões e com as incertezas sobre consumo do café no pós pandemia, o café brasileiro continua sendo o mais competitivo no mercado.
Guilherme Morya, analista de café do Rabobank, o café do Brasil continua sendo mais competitivo no mercado. Entre os principais motivos para deixar o país nesse patamar estão: custo de produção, diferentes tipos de café produzidos no Brasil e especialmente em 2020, a desvalorização do real ante o dólar. "Por mais que a gente esteja exportando um pouco menos que no ano passado, essa depreciação do real favorece a cadeia produtora", afirma o analista.
Além das questões de mercado, a situação dos países concorrentes em 2020, por conta da pandemia, também chamam atenção do analista e colaboram para que os preços do café brasileiro continuem mais atrativos. Na produção da América Central, a colheita está mais lenta e produtores enfrentam problemas na mão de obra, consequência da Covid-19 e que vem impactando diretamente na produção local.
Colheita de café no Brasil safra 2020/21
Em Honduras, Guilherme destaca que já era esperado uma quebra de pelo menos 10% na produção deste ano. Consequência do clima no ano passado não ter sido favorável para a produção e resultados dos preços baixos que os produtores enfrentaram também no ano passado, havendo uma diminuição de investimento nas lavouras, resultando mais uma vez na produção.
Já no caso da Colômbia, o Rabobank ainda trabalha em um cenário de estabilidade de produção, com cerca de 13.9 milhões de sacas. "A gente acredita que eles sofreram mais com problemas logísticos nesse primeiro semestre. Em janeiro, feveiro, março e abril teve uma queda nas exportação, mas a gente já está esperando que haja uma recuperação da Colômbia até o final do ano", destaca.
Mesmo com a possível recuperação, Guilherme destaca que no segundo semestre é esperado que o Brasil continue sendo competitivo, principalmente porque o Brasil está ganhando cada vez mais espaço em novos mercados. "A África também está passando por um momento turbelento nas exportação e a gente pode ver que o Brasil está ganhando esse mercado", destaca.
Preços e demanda
As previsões do Rabobank para o terceiro trimestre é de altos e baixos para os preços do café. Segundo Guilherme, a volatilidade de café deve continuar, com uma possibilidade de melhora nos preços apenas no quarto trimestre de 2020. "Somente no quarto trimestre a gente pode começar a pensar em um cenário um pouco diferente, dependendo bastante da demanda e do Brasil que colhe menos no próximo ciclo", destaca. Afirma ainda que as condições climáticas devem continuar sendo acompanhadas de perto durante todo o período.
Diante da pandemia do Coronavírus, o Rabobank trabalha com o recuo de 0,5% (um milhão de sacas) para o ano de 2020. Os dados do banco indicam que até janeiro o consumo era mantido sem maiores problemas, mas a pandemia mudou o cenário. "A gente considera positivo em vista de tudo o que a gente enfrentou. O consumo de café foi bem resiliente diante do cenário", destaca. Além disso, a flexibilização de importantes consumidores como Europa e Japão, indica a retomada do consumo no ciclo 2020/21.
Guilherme destaca que apesar da alta do dólar, a relação de troca que o produtor faz na compra de fertilizantes garantiu bons negócios para o produtor que fez a compra no primeiro trimestre de 2020. "Os preços estavam bem mais competitivo e a relação de troca estava bem melhor que em 2019. O produtor conseguiu remunerar muito melhor que em relação a 2019. Se a gente for olhar o preço dos fertilizantes estava em um patamar mais atrativo, apesar de estar relacionado ao dólar", comentou. Destaca ainda que os bons negócios foram possíveis porque no mercado internacional, os preços de fertilizantes não registraram alta, enquanto o preço do café foi valorizado no início do ano.
Os dados do Rabobank indicam que neste atual momento o produtor precisaria de 3 sacas para garantir 1 tonelada de fertilizante. "Agora nesse momento ele perde um pouco porque o preço se reajustou, mas no período do ano passado o mesmo indicador apontava que o produtor precisava de 3.7 sacas para comprar uma tonelada. Estava mais caro ano passado porque o preço do café estava baixo e a depreciação do real não estava embutido", afirma.
Por: Virgínia Alves
Fonte: Notícias Agrícolas