02/04/2014
A fruta mais consumida no mundo tem seu nascimento no campo, berço de milhares de nascimentos, onde a dor se espalha no parteiro mais do que na própria mãe árvore. Ser produtor não é sinônimo de bons ventos e mares tranquilos, não é sinônimo de bonança e dias calmos; ser produtor é lutar contra o mercado que o oprime, é lutar contra as estimativas escusas de safra, é lutar contra o clima, e, este último, que se agigantou nos meses de janeiro e fevereiro, e fez secar o líquido aminótico das placentas, imprimiu ainda mais o sofrimento. Resultado: safras comprometidas, qualidade comprometida, produtores apreensivos.
O campo foi e continua sendo o principal pilar da economia brasileira, historicamente agrário. O consumo consciente de café arrasta transparência e dignidade para dentro do processo, impulsiona a qualidade e dá esperança ao pequeno produtor, além de preservar a fauna e flora. Envolver as torrefações e o consumidor final fortalece a cadeia e aproxima seus elos.
Produzir qualquer coisa no Brasil não é tarefa fácil, todos sabem o esforço que é empreender, e, no ramo do café, cada vez mais o elemento criatividade e relacionamento se tornam fatores de sobrevivência e permanência nesse mercado. Investir em qualidade, seja pelo produtor, torrefador ou cafeterias, só faz sentido se o consumidor final entender a proposta e gostar da experiência, seja pela história contada, seja pela complexidade da bebida.
Boa parte das pessoas que consomem a rapidez de apertar um botão e o requinte de uma máquina não trocarão essa praticidade pelo ritual de obter uma xícara rica em notas sensoriais de um processo mais lento e meticuloso. No entanto, boa parte delas não voltará atrás, pois a qualidade conseguida dessa forma é notória e envolvente. Como diz um amigo: é uma viagem sem volta.
O real valor que essa experiência proporciona, mais do que o marketing do produto, é a geração de prazer associado a humanização de histórias, e essas precisam ser contadas a cada café vendido. Esse é o primeiro passo para se diferenciar um produto excelente e que não tem um astro de Hollywood para rotular.
Uma cadeia bem fortalecida é sinônimo de preservação ambiental e dias melhores para quem se alimenta dessa bebida.
Senhores e senhoras consumidoras, o cafezinho de todo dia corre riscos, do mais caro ao mais baratinho, cuide bem do seu fornecedor, ele precisa da sua atenção.
O artigo foi escrito por Hugo Wolff Sanches de Oliveira, da Wolff Café