Publicação: 07/02/07
Após reunião de equipe com Lula, Mantega reafirma política cambial Gustavo Freire, BRASÍLIA O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convocou os principais integrantes da equipe econômica para uma reunião no Palácio da Alvorada na noite de ontem, quando foi discutida, entre outros assuntos, a valorização do real em relação ao dólar.
À saída do encontro, que durou cerca de três horas, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que a situação cambial é apenas momentânea. Ainda ontem, o ministro havia sido cobrado pelo presidente do PT, Ricardo Berzoini, em relação à redução mais rápida dos juros, para conter a queda do dólar. O governo, segundo Mantega, não pensa em adotar nenhuma medida de controle de capitais por julgar que isso seria ineficiente.”Essa queda do dólar é um movimento passageiro e foi provocada por melhora do cenário internacional e em especial pela decisão do Fed (o Banco Central dos Estados Unidos) de não elevar os juros. A melhora dos fundamentos econômicos do Brasil também influiu”, disse o ministro.
Também estiveram no Alvorada o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo – o que transformou a reunião numa antecipação do encontro da Câmara de Política Econômica marcado para hoje. Mantega lembrou que os dólares que têm entrado no Brasil estão mais relacionados ao comércio externo do que com movimentos financeiros. “Uma boa forma de reverter a valorização do câmbio é o incentivo ao crescimento da economia dado pelo Programa de Aceleração do Crescimento, o PAC”, disse Mantega.
“É claro que eu gostaria que nós tivéssemos um câmbio chinês, pois um câmbio valorizado prejudica a produção. Mas acho que, como este é um movimento passageiro, não haverá prejuízo.” Ontem à tarde, ao sair de uma reunião com Mantega, Meirelles reafirmou que não trabalha com uma meta para a taxa de câmbio. “O BC trabalha com metas para a inflação e não tem meta para o câmbio.” Segundo ele, nada mudou nas atuações do Banco Central no mercado de câmbio. “Continuamos conduzindo a mesma política de recomposição das reservas iniciada em 2004.”
COBRANÇA
Fortalecido com a vitória de Arlindo Chinaglia para a presidência da Câmara, Ricardo Berzoini cobrou ontem do ministro Guido Mantega a redução mais rápida dos juros para conter a queda do dólar. Ele pediu também que as diretorias dos cinco bancos oficiais (Banco do Brasil, Caixa Econômica, Banco do Nordeste, Banco da Amazônia e Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) estejam comprometidas com a redução dos juros e o PAC. Berzoini disse que o PT está preocupado com o impacto do câmbio no crescimento da indústria, sobretudo o setor exportador.
E manifestou especial preocupação com o BNDES, vinculado ao Ministério do Desenvolvimento. “O importante é ter no BNDES gente capaz e competente, não importa que tenha filiação partidária ao PT ou não.” Segundo Berzoini, é preciso ter nos bancos “gente em sintonia com a meta de acelerar o crescimento”. O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, também fez reparos à política monetária ontem. “Aparentemente, ela é mal conduzida.” Na opinião do ministro, o BC “bobeou” ao desacelerar o ritmo da redução da taxa de juros. “O juro real muito alto valoriza a moeda e este é um debate que o BC vai ter de enfrentar de uma vez por todas.” Questionado sobre a proposta de controle do ingresso de capitais no País, que tem a simpatia de integrantes do PT, Marinho foi cauteloso. “Vamos devagar.”
Essa medida poderá ser incluída no documento final da reunião do diretório nacional no fim de semana, em Salvador. Berzoini disse que os setores de calçados, têxteis, móveis, autopeças e eletroeletrônicos já sofrem impacto negativo da valorização do real. Segundo ele, a solução não se dará apenas com a compra de dólares pelo BC. “O problema são os juros.” O presidente do PT não confirmou se entre as propostas levadas ao ministro está a adoção de medidas para o controle de capitais. Segundo Berzoini, Mantega está “bastante preocupado” em garantir a sustentabilidade do crescimento da economia. “O PAC terá um papel importante, mas é óbvio que temos de cuidar dos indicadores macroeconômicos.” Berzoini informou que convidou Mantega para fazer uma apresentação do PAC à Executiva do PT, no dia 26.
FRASES
Ricardo Berzoini Presidente do PT “O problema são os juros” Luiz Marinho Ministro do Trabalho “O juro real muito alto valoriza a moeda e este é um debate que o Banco Central terá de enfrentar” “Aparentemente, ela (política monetária) é mal conduzida. O BC bobeou (ao reduzir o ritmo de queda da taxa Selic)”
COLABORARAM ADRIANA FERNANDES, RENATA VERÍSSIMO e JOÃO DOMINGOS