QUEDA DO CONSUMO E ESTOQUES ELEVADOS?? Por Rodrigo Costa

O primeiro trimestre de 2012 fechou com altos ganhos para os principais índices de ações no mundo, com destaque para o desempenho positivo do Nasdaq de 18.67%, seguido pela alta de 17.78% da bolsa alemã (DAX), do S&P500 + 12%, e pela Bovespa que ganhou 13.67%.


Dentre os índices de commodities apenas o GSCI teve ganhos expressivos, enquanto o DJAIG e o CRB estão virtualmente no mesmo patamar que encerram 2011. Por outro lado se dermos um “zoom” nos componentes das cestas, notaremos que a gasolina subiu 19.35%, a soja 17.69% e a prata 16.33%. Os grandes perdedores foram o gás natural com baixa de 39.78%, o café em NY que caiu 19.79% e o níquel que escorregou 4.73%.


A queda do gás se justifica pelo inverno ameno nos Estados Unidos e pela oferta abundante do produto em função da extração via  “fracking”, e o café, tem algum fundamento por trás?


Como fui um participante convidado para fazer palestra e moderar um painel na última semana no encontro da NCA (National Coffee Association) aqui nos Estados Unidos, muito me surpreendeu a opinião de alguns analistas que vieram conversar comigo e que estão bastante baixistas para nosso mercado. No painel que moderei, um membro apontou para a queda da demanda nos Estados Unidos, Europa e Japão. Em papos pelos corredores e em reuniões, muitos apontaram para um estoque grande como o motivo das baixas do terminal. Outros finalmente vêem um prognóstico de aumento forte na produção mundial.


Claro que não são unânimes estas opiniões, mas acho excelente o debate de idéias tão diferentes, pois isto nos força a fazermos exercícios que nos deixem mais seguros em nossos pensamentos, ou simplesmente nos façam mudar de lado/opinião.


Então vamos lá: no que se refere a diminuição de consumo, informação para lá de difícil de ser coletada, as importações das regiões mencionadas não indicam que isto tenha ocorrido – com exceção do Japão que em função do triste tsunami e dos vazamentos radioativos em Fukushima provocaram uma grande queda da atividade econômica do país.


Olhando para os estoques mundiais, outro dado impreciso, o aumento que pudemos visualizar foi dos cafés certificados da LIFFE, que por sinal estão desaparecendo ainda mais rapidamente do que aumentaram. Os outros estoques, assunto para debate infindável e não-conciliatório, sofreram queda (foram utilizados) em função da alta dos preços, principalmente nos destinos. Nas origens, leia-se Brasil, aparentemente os estoques eram/são um pouco maiores do que se imaginava, mas dizer que há uma folga é exagero.


O último ponto dos baixistas, que mencionam aumento de produção, notou-se apenas em dois ou três países, enquanto nos demais ou estão estáveis ou caíram ainda mais – como no caso da Colômbia. Dirão que é efeito do ciclo da commodity, o que pode ser verdade, mas se a área plantada não incrementou significativamente de onde virá tanto café? Ganho de produtividade pode ser a resposta, esta sim de resposta mais rápida dada uma maior utilização de insumos/adubos, permitida pelo preço da saca que estava negociando a níveis vantajosos para os produtores – entretanto o efeito já está aí na colheita de safras maiores recentes, não é?!


Há um fator que surpreendeu negativamente a todos, inclusive a mim, que foi uma migração do consumo (ainda maior) para cafés de qualidades menos-nobres. O motivo é um melhor aproveitamento de cafés especiais em “pods” e cápsulas (que diminuem o desperdício) e também é fruto de uma aceleração do consumo em países que tomam o solúvel ou que não ainda não tenham um paladar “sofisticado”. Uma última explicação, complementar, é a maior participação de produtos com “private-label” que talvez tenham um menor comprometimento com as misturas.


Outro ponto que podemos culpar pelas baixas recentes é a consequência do comportamento do mercado futuro nos últimos 2 anos, que foi de altas constantes e que se sustentaram como nunca antes ocorrido no café. Isto fez com que os produtores tenham acertado em segurar seus cafés e venderem mais tarde, pois cada mês que passava maiores eram os preços. Quando então a queda aconteceu muitos mantiveram a calma, entretanto outros tantos acharam mais prudente se desfazer logo de suas “poupanças em grãos” antes que fosse tarde demais, o que fez com os diferenciais caíssem junto com a queda da bolsa – algo um tanto atípico.


Em suma, não creio que os baixistas estão certos em enunciar queda de consumo, estoques altos e perspectiva alta de produção como pano de fundo para apostar na continuação da queda do “C”. Acredito que os fundos vendidos em volume recorde, segundo o relatório CIT do CFTC, é um sinal de que estamos mais próximos do piso do que do teto.


Mas ao mesmo tempo teremos que ter paciência para ver os preços próximos de US$ 220 centavos por libra-peso, o que acho que só volta a acontecer no último trimestre deste ano.


Aproveito o espaço para me desculpar por não ter postado meu comentário na semana passada por motivos de viagem e agenda profissional cheia. É bom saber que muitos sentiram falta do relatório.


Tenham uma excelente semana e muito bons negócios,


*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting



Comentários

Aurélio
Bom! Como produtor de café o que vejo para a safra que se inicia em Abril/Maio de ano é seguinte: aqui não região de São Sebastião do Paraíso, Itamogi e Monte Santo de Minas, onde tenho acesso, não existe lavoura com carga cheia!


O que se nota é que as lavouras estão com meia carga, sofrendo pelas chuvas irregulares no mes de fevereiro e com grande incidencia de doenças, principalmente cercóspora! Não vejo como ter otimismo em safra recorde, visto que os grãos vão ficar miúdos pela falta de água!

Mais Notícias

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.