21/10/14 – Os setores de agricultura e pecuária, de extração de minerais metálicos e a indústria de alimentos perderam rentabilidade nos embarques e contribuíram para a queda de 0,9% na margem de lucro das exportações totais de janeiro a agosto deste ano, contra igual período do ano passado. Juntos, esses três segmentos são responsáveis por praticamente metade -48,4% de janeiro a agosto – do valor das exportações totais brasileiras.
Os fatores que tiraram a rentabilidade nos embarques totais foram a queda de 3,8% nos preços médios das exportações e a elevação de custo de produção de 5,9% de janeiro a agosto, na comparação com os mesmos meses do ano passado. O câmbio nominal evoluiu de forma favorável à rentabilidade do exportador, com desvalorização de 8,8% do real frente ao dólar no mesmo período.
Foram os básicos que puxaram a queda de preços, com recuo de 5,9%. A redução neutralizou boa parte da alta de 10,1% no volume exportado dessa classe de bens. Os semimanufaturados também tiveram redução de 4,8% nos preços médios de exportação e os manufaturados, recuo de 0,3%. Os dados são da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). Em agosto, contra igual mês de 2013, a rentabilidade sofreu mais, com queda de 6,3%. Nesse período, o custo de produção aumentou 2,8% e a queda de preços médios foi de 0,5%, mas houve valorização cambial de 3,2%.
Dos 29 setores de atividade acompanhados pela Funcex, apenas 6 tiveram queda de rentabilidade no acumulado até agosto, contra igual período do ano passado. O problema, porém, é que entre os que tiveram queda estão segmentos muito representativos na pauta de exportação brasileira.
José Augusto de Castro, presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), lembra que, pelo menos para produtos importantes, como soja e minério de ferro, as perspectivas de preço até o fim deste ano e para 2015 não prometem recuperação. Até setembro o preço médio da soja foi de US$ 350 a tonelada. No ano passado, no mesmo período, o preço médio foi de US$ 510 a tonelada. Para o ano que vem, a previsão é de média de US$ 400 a tonelada.
Considerando que o grão mantenha em 2015 o mesmo volume exportado este ano, haverá perda de US$ 6 bilhões em receita por conta da queda de preço. Castro avalia que não deve haver grande elevação de volume da exportação brasileira, porque a previsão é de que com a supersafra americana, haja alta oferta do grão no mercado mundial.
Para minério de ferro, Castro estima que em 2015 haverá queda de 5% a 10% no preços médios em relação a este ano. O minério foi vendido, até setembro, por US$ 81,75/tonelada, em média, o que significa redução de 17% em relação ao mesmo período do ano passado. A vantagem do minério é que a expectativa é de aumento de 5% no volume de exportação, com uma desaceleração menor da economia chinesa. O aumento na quantidade exportada, porém, não deverá compensar a queda de preço.
A redução do valor de negociação do minério deve acontecer porque, com a produção de novas usinas na Austrália, haverá elevação da oferta no mundo. Ou seja, os preços de soja e minério ainda deverão trabalhar contra a rentabilidade e a elevação de receitas nos embarques no ano que vem.
Artur Passos, economista do Itaú Unibanco, diz que as receitas de exportações de commodities ainda deverão refletir no início do ano que vem a forte queda indicada atualmente pelos contratos futuros. Ele diz que ao fim do ano passado o preço das commodities pelos contratos futuros indicava queda de 6% em relação ao fim de 2012. Neste ano, ao fim de setembro, os preços recuaram 20% em relação ao fim de 2013.
O cálculo leva em consideração as principais commodities agrícolas exportadas pelo país – soja, milho, açúcar e café -, além de minério de ferro e petróleo. Até o fim do ano, Passos diz que haverá uma recuperação de 3% em relação aos preços de setembro. E ao fim de 2015, recuperação adicional de 3% em relação ao fim deste ano. “Apesar da recuperação, a mensagem é que os preços não voltarão aos patamares anteriores”, afirma.
O comportamento dos preços atualmente, principalmente no caso da soja e do minério de ferro, diz ele, é resultado de investimentos e elevação de produção impulsionados durante o período em que os preços das commodities tiveram seu auge, em 2011, e deram forte rentabilidade aos agentes econômicos desses setores. “A questão nesses casos não é de demanda, mas de excesso de oferta.”
Para Passos, porém, mesmo com a pressão da queda de preços sobre a rentabilidade, a redução de margem para soja e minério de ferro não inviabiliza a produção brasileira. O Brasil, diz o economista, tem alta produtividade com a soja e tem disponibilidade de terras. “O Brasil é ainda a fronteira para investimentos que levam à elevação de produtividade.” Além disso, destaca, mesmo com a desaceleração econômica, a China deve aumentar a demanda por soja, por conta da transição de uma política econômica do país asiático mais centrada no consumo interno do que nas exportações e nos investimentos em infraestrutura.
No minério de ferro, avalia Passos, a queda de preços pode inviabilizar a produção em depósitos de baixa qualidade na costa chinesa, mas a produção brasileira e a da Austrália não serão afetadas. O minério de ferro, cuja demanda é mais ligada ao investimento, deve enfrentar desaceleração de crescimento no volume de vendas à China, mas não deve haver queda, estima o economista.