19/12/2014
Dentre os mecanismos de governança das cadeias produtivas, a coordenação via preços é, talvez, aquela de maior emprego no funcionamento das transações mercantis, independentemente da especificidade do ativo envolvido. Apesar de sua abrangência no funcionamento dos mercados, nove entre dez economistas derrapam quando perguntados no que consiste exatamente um preço e como ele é estabelecido, afirma Celso Luís Rodrigues Vegro, pesquisador do Instituto de Economia Agrícola (IEA/Apta) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo.
Por serem relativos, os preços são intrinsecamente instáveis. Do ponto de vista conjuntural, a natureza biológica da produção submetida à imprevisibilidade de longo prazo do clima, a descentralização da produção (o café, por exemplo, é produzido em mais de 150 nações), a geração de expectativas quanto ao equilíbrio entre oferta e demanda mundiais e a relação de paridade entre as moedas nacionais constituem o bojo das flutuações dos preços. Ademais, na origem dessa instabilidade encontram-se as distintas naturezas, específicas de cada ativo.
No mercado global das commodities (petróleo, metálicas/minerais e agrícolas), o estabelecimento das cotações ocorre dentro de bolsas de valores, organizadas com o intuito tanto de minimizar os custos de transação quanto de adicionar confiança às transações, uma vez que somente operadores registrados – que ultrapassam a casa dos milhares – podem nelas atuar, permitindo assim funcionamento eficaz para a compra e venda dos ativos. As cotações que diariamente ali se estabelecem transmitem-se instantaneamente para todo o sistema econômico, contribuindo decisivamente para que se aproxime de almejado “preço justo” da commodity transacionada.
No mercado das commodities existem hierarquias. Aquela que pode ser considerada a rainha de todas as demais é, indubitavelmente, o petróleo. Sob a hipótese dos preços relativos, a demanda global – em grandes quantidades diárias – pelo produto estabelece nas cotações desse ativo parâmetro para todas as demais negociações.
Confrontando as cotações mensais do petróleo com as registradas pelo café arábica, constata-se que existe ligeira correlação com a trajetória das curvas, ao menos em seu sinal. Movimentos ascendentes ou descendentes do ativo primordial (petróleo) são acompanhados pelo secundário (café). Ainda que tênue, esse vínculo possibilita a construção de cenários para cotações futuras.
Desde agosto de 2013, os preços do barril do petróleo tipo Brent vêm caindo US$10/mês, atingindo cotações próximas dos US$70/barril. Em reunião recente da Organização dos Países Produtores de Petróleo (OPEP), o mais temido de todos os cartéis, ratificou-se a decisão de manter a oferta diária em 30 milhões de barris ao dia. Esse patamar de oferta tende a manter as cotações deprimidas, contribuindo inclusive para acentuação da tendência de queda.
No mercado de café, prevalece insegurança entre os investidores /especuladores quanto ao patamar que alcançará a colheita da safra 2015/16 no Brasil. Estimativas privadas e da Organização Mundial do Café indicam que o consumo de estoques nas duas últimas safras tenha atingido entre 10 milhões e 13 milhões de sacas para atender a escassez de oferta. Assim, à primeira vista, as causas da escalada nas suas cotações decorre de aspectos intrínsecos ao seu mercado e a seus fundamentos. Todavia, um olhar mais atento constata que as cotações do café em poucas ocasiões desgarraram-se das do petróleo, havendo paralelismos entre ambas as curvas.
“As cotações do petróleo em baixa têm o potencial de trazer consigo as cotações do conjunto das demais mercadorias globalmente transacionadas, levando a economia a operar em patamar menos dinâmico. Certamente, nesse quesito se adiciona mais um condimento para a estagnação que ronda o ambiente de negócios, ressalta Vegro.
Fonte: IEA