Que tenha a santa paciência e continue a ser orgânico

27 de janeiro de 2007 | Sem comentários Café Orgânico Produção
Por: 26/01/2007 12:01:12 - Beef Point

De vez enquanto recebemos verdadeiros alertas que são, em primeira instância, considerados ameaçadores, como aconteceu recentemente numa reportagem sobre problemas de contaminação com a bactéria E. coli encontrados em alguns lotes de espinafre orgânico nos EUA.


Como gostamos de enquadrar tudo em quadrinhos e rótulos bem conhecidos e identificáveis à longa distância e com uma ou duas palavras-chaves, creio que pouca gente foi inspirada para ler com mente aberta e espírito crítico o artigo na revista Exame depois de ver o título “O Mito dos Orgânicos”.


Ser corintiano é ser sofredor, ser orgânico é não usar fertilizantes, agrotóxicos, hormônios, vitaminas etc, e pelo jeito ainda ser mais susceptível ao ataques microbiológicos e dos fungos do que os produtos produzidos da maneira convencional.


Norman Borlaug aponte a espada na direção dos orgânicos porque se todo mundo optasse pelos produtos orgânicos teríamos uma falta física de áreas produtivas e o desmatamento de matas virgens seria necessário para a produção dos “improdutivos” orgânicos que teriam uma produção até 35% menor do que aquela obtida no sistema convencional.


Nunca li tanto besteirol junto e por cima ainda disfarçado com uma manta que tem um forte cheiro pseudocientífico.


Quem não se lembra de casos seríssimos de contaminação com Salmonela sp. de leite, carne, ovos e até a própria E.coli já andou freqüentemente nas redondezas de produções convencionais.


Estes, no meu ver, são acidentes de percurso e resultado de falhas individuais na cadeia, apesar de que estão muito mais fáceis de ocorrer com produtos convencionais do que com os orgânicos, e isto não é muito estranho porque está mais que provado que:


O período de validade (shelf life) de produtos orgânicos é muito maior; será porque têm uma proteção maior contra alguns microorganismos do que os convencionais?


O gosto é muito melhor, por que?


A percepção de qualidade pelo consumidor é muito maior nos orgânicos do que no convencional.


Justus von Liebig está presente também como ancora de nutrição vegetal através de minerais que podemos fornecer via fertilizantes em doses cada vez maiores fazendo assim parte do pacote de “revolução verde”.


A miséria e a fome continuam na grande parte da África e Ásia apesar da produção de alimentos ter incrementado e a AIDS dizimado grande parte da população na África; o problema não é tanto a produção, mas a política de distribuição destas e outras riquezas.


A separação da química orgânica e da química inorgânica é um erro estratégico enorme porque nós sentimos ser o todo poderoso no campo da inorgânica mas somos ainda aprendizes na orgânica e o bio-dinamismo entre os dois então é ainda quase desconhecido.


Lendo um livro sobre a fertilidade do solo escrito em 1910 e se tratando da hoje Indonésia, onde meu avô trabalhou como agrônomo de uma plantação industrial de chá, tive a surpresa de constatar que a maioria das grandes perguntas existentes naquele tempo ainda permanece sem respostas adequadas.


Um grande nome ausente é do Rudolf Steiner da antroposofia e agricultura biodinâmica; aquele que previu a cura do câncer através do corpo copiar um módulo-modelo de proteínas saudáveis e originais (Células tronco?) e também previu o surgimento das doenças como a da vaca louca por causa de se usar alimentos de origem animal na alimentação animal.


Para ser um produtor orgânico de verdade tem que ter muito conhecimento e coragem, mas acima de tudo realismo e bom senso.


A prática de rotação de culturas mesmo na horta tem que ser muito mais rigorosa do que no convencional para evitar problemas possíveis de contaminação e quedas de produção.


Principalmente alguns hortalícios se desenvolvem rente à terra, que pode facilitar a contaminação com microorganismos indesejáveis que podem vir da matéria orgânica mal curtida, e uma outra fonte pode ser a água contaminada de irrigação.


São pontos a serem lembrados e considerados na hora de controle de qualidade e da certificação.


O grande segredo é de deixar que a natureza trabalhe para o nosso bem-estar, em vez de agredi-la do jeito que conhecemos tão bem, e aproveitar os presentes que são dados na forma de fixação biológica do Nitrogênio, micorrizos que ocorrem num ambiente favorável.


O aumento explosivo da demanda pelos produtos orgânicos que cresce algo em torno de 25% ao ano fez com que muita gente se aproveitasse disto e entrou no mercado, porém nem sempre podendo cumprir com as regras básicas e nem honrar a confiança dada pelo consumidor em forma de uma disposição de pagar mais para os orgânicos.


A ganância é um mal companheiro em qualquer situação e pode estragar anos de trabalho em um estralo de dedos.


Tem ainda grande parte dos orgânicos produzidos sem a certificação e / ou com um processo de certificação falho e até abusos fraudulentos ocorrem, mas mesmo assim estou convencido que produzir alimentos saudáveis sempre valerá a pena para quem tem condições para fazer isto.


Para mudar para o orgânico tem que ter uma análise e diagnóstico da fazenda com uma lista com fatores e pontos fracos que devem ser resolvidos, quase sempre de maneira convencional, antes da mudança. Esta é a chamada fase de transição e forma a verdadeira fundação sobre qual podemos construir os sistemas orgânicos. Qualquer falha nesta transição que não for corrigida adequadamente será responsável pelos problemas na frente.


Em nossas condições no Brasil temos teores de Fósforo e de Matéria Orgânica na terra que ficam anos-luz dos desejados e estas deficiências terão que ser corrigidas antes de poder embarcar na viagem orgânica ou biodinâmica.


Uma vez no sistema é necessário manter o fluxo de nutrientes num tipo de ciclo mais fechado possível, onde se perde o mínimo e se aproveita o máximo, e isso implica na quase imposição de haver produção animal dentro da fazenda.


A vida biológica na terra aumenta muito com microorganismos e fungos para dar conta da enorme quantidade de matéria orgânica que substitui o adubo convencional.


Uma vez no sistema, a perda de produtividade quando comparada ao convencional se reduz muito, e em muitas casos ou se iguala ou até pode superar os resultados convencionais.


Tem muitos exemplos de sucesso com os orgânicos e com culturas difíceis como o café, cana de açúcar e grãos e até a bovinocultura, com o boi orgânico que já está atravessando fronteiras, com resultados de produtividade e retorno financeiros satisfatórios.


Infelizmente, esta parte da história pouca gente conta e por isso mesmo eu estou escrevendo estas linhas. 

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