Qualidade em alta
Da Reportagem
Enquanto o preço do café variou apenas 13% nos últimos 12 anos, no mesmo período o salário mínimo teve recuperação de 440%, segundo pesquisa realizada pela Associação Brasileira das Indústrias de Café (Abic). Paralelamente, uma parcela cada vez maior de consumidores se dispõe a pagar mais pelo café de qualidade, segundo Nathan Herszkowicz, diretor do Sindicato das Indústrias de Café do Estado de São Paulo (Sindicafé), diretor-executivo da Abic e presidente da Câmara Setorial do Café.
Herszkowicz confirma que a indústria cafeeira atravessa momento sensível, mas não apenas por responsabilidade das multinacionais que se instalaram no País. ‘‘As gigantes nacionais também afetam o mercado, exigindo do empresário mais agilidade na percepção e condução do negócio’’.
Outros fatores contribuem para agravar o quadro. O mercado cresce menos do que o número de empresas e, além disso, a concentração do varejo também tem inibido os empresários do setor, especialmente os pequenos. ‘‘Pão de Açúcar, Wal-Mart e Carrefour já concentram 48% da distribuição de todos os produtos no País, e quando falamos em café, este número aumenta ainda mais’’, analisa Herszkowicz. Há dez anos este volume não chegava a 20%.
Segundo ele, o aspecto mais dramático da concentração do varejo para a indústria cafeeira é a imposição dos contratos de fornecimento, que praticamente inviabilizam a presença de marcas menores nas gôndolas dos supermercados. ‘‘A indústria se submete a descontos compulsórios e tem que participar dos projetos de crescimento das lojas’’.
Conforme Herszkowicz, na prática a indústria cafeeira transferiu aos supermercados e consumidores os ganhos de produtividade conquistados desde a implantação do Plano Real. ‘‘Essa transferência se deu via preços, que se mantiveram praticamente inalterados’’.
O resultado não é animador: o setor hoje tem o menor estoque dos últimos anos. ‘‘A reposição tem que ser semanal e a maioria das empresas está descapitalizada’’.
O Brasil tem atualmente 1.200 indústrias de café, sendo 97% delas de micro e pequeno porte. Desde total, 250 estão instaladas no Estado de São Paulo e 380 em Minas Gerais.
Apesar dos obstáculos, que os menores julgam quase intransponíveis, o setor tem condições de reagir. Segundo Herszkowicz, o trabalho pioneiro desenvolvido no Estado para estimular a produção de grãos especiais deu frutos e já virou modelo nacional. ‘‘Insistimos há anos na necessidade do segmento apostar nos cafés de qualidade, na importância de agregar valor ao produto’’. O tempo mostrou que o diretor-executivo da Abic tinha razão. Hoje, os cafés gourmets são as grandes vedetes nas gôndolas dos supermercados.
A qualidade é fundamental na hora da compra. Enquanto o quilo do café tradicional custa em torno de R$ 8,50, o do especial chega a R$ 32,00. E o preço não inibe o consumo, conforme revelam as estatísticas da associação.
Perfil
Sob o comando da terceira geração da família Dias, o Café Dias completa, em 2007, 60 anos de fundação. Instalada na Rua Visconde de São Leopoldo, 468, no Centro de Santos, a empresa tem 12 funcionários e comercializa seus produtos de Bertioga até o Vale do Ribeira. Segundo o diretor José Maria Dias Neto, o objetivo é crescer no mercado da linha gourmet e no fornecimento às cafeterias.
O Café Menezes, segundo o diretor Eduardo Gherman Romano, com base em registro na Junta Comercial, já é centenário. Segundo ele, a empresa, criada há 101 anos, tem hoje cinco sócios, mas nenhum com laços familiares com o fundador, cujos dados ainda não foram localizados. Ele afirma que a linha gourmet é responsável por 15% da produção do Menezes, hoje instalado na Rua Visconde de São Leopoldo, 335, no Centro de Santos.
Há 50 anos no mercado, o Café Floresta possui 100 funcionários e um parque industrial que exigiu investimentos de R$ 2,5 milhões. Nos últimos dois anos e meio, ações de marketing e inovação do mix de produtos resultaram em investimento total de R$ 5 milhões. A sede fica na Rua São Bento, 116, Centro de Santos. Produz 150 toneladas de café por mês, sendo 10% deste total no segmento de especiais. Os diretores Auro Sato e Paulo Fernandes apostam no slogan ‘‘gostou, fidelizou’’.