Polícia prende 18 pessoas acusadas de integrar um dos maiores bandos especializados em roubo de cargas e de carros em Minas. Dois detetives e um militar estão entre os suspeitos
Ingrid Furtado
Uma megaoperação das polícias Civil e Militar desarticulou, na manhã de ontem, uma grande quadrilha especializada em roubo de cargas na Zona da Mata, região Central e Sul de Minas e considerada uma das mais atuantes do estado. O principal alvo eram caminhões carregados de café, que trafegam pela BR-040. O bando atacava os motoristas e roubava a mercadoria, vendida em outras regiões do país. Na operação, batizada de Ouro Negro, em referência ao café, 130 policiais de grupos de elite das corporações prenderam 18 pessoas, em nove cidades mineiras.
Estima-se que só nos últimos dois anos a quadrilha causou um prejuízo de R$ 500 mil. Entre os presos estão dois detetives da Delegacia de Furtos e Roubos Veículos, de BH, suspeitos de aceitar propinas da organização criminosa. Os detidos foram levados à Divisão de Tóxicos, onde foi formalizada a prisão temporária, sob acusação de estelionato, corrupção ativa e passiva, receptação e roubo.
As investigações começaram em novembro do ano passado, pela Gestão Integrada de Segurança Pública (Gisp), com o mapeamento das cidades em que a quadrilha instalou bases de operação: Barbacena, Santa Bárbara do Tugúrio e Ressaquinha, na região Central; Ervália, Bicas, Juiz de Fora, Viçosa e Paula Cândido, na Zona da Mata; e Varginha, na região Sul.
“A quadrilha agia há mais de cinco anos e é responsável por 80% dos roubos de cargas nessas regiões. A mercadoria era transportada pela BR-040, para driblar a fiscalização, devido ao tráfego intenso”, diz o delegado da Superintendência da Polícia Civil, Leandro Almada, responsável pelo planejamento da operação.
O policial aponta como um dos chefes do bando o ex-prefeito e presidente da Câmara de Santa Bárbara do Tugúrio, Antônio Salomão da Silveira, além de Adriano Tadeu de Lima de 28 anos, e Licinho Mendes Ferreira Heitor, de 48. “Cada um tinha um papel específico na quadrilha. Eles são suspeitos também de roubar carros para desmanche. Adriano, apelidado de Bitoca, foi reconhecido por uma das vítimas e agia como receptador de veículos furtados. Esses carros eram também usados nos assaltos. O ex-prefeito, que teve grande evolução patrimonial, levantando suspeita, era um dos operadores do esquema de roubo e revenda”, afirma Almada.
SUBORNO O advogado da quadrilha, Alexandre Milagres Diniz, de 35, também foi preso. De terno e com vários documentos em uma pasta de couro, ele foi algemado e transferido para BH, em um carro da polícia. Segundo as investigações, ele tinha um papel fundamental na gangue. É acusado de pagar propina aos detetives Vander Tavares Gomes e Ronaldo Fernandes de Melo, da Delegacia de Furtos e Roubos de Veículos, que já estão à disposição da Corregedoria-Geral de Polícia. Um militar, que há meses é investigado e cujo nome não foi divulgado, deve ser detido nos próximos dias. “O suborno era para facilitar a liberação dos seus clientes, quando eram presos ou indiciados”, diz o delegado.
Foram presos ainda Ronaldo Della Garza Júnior, o Naldo, de 29, acusado de repassar veículos roubados à quadrilha; Aldari Lino Martins, o Dari, suspeito de participar dos roubos para de levantar recursos usados pelo advogado no pagamento de propina; Marcelo Martins, reconhecido por uma das vítimas; Edmilson Batista Generoso, acusado de roubar cargas de café em Elói Mendes, no Sul de Minas; Willian Neves de Mello, de 46, que aparece nas interceptações telefônicas comprando carros adulterados; além de Alex Rodrigues Costa, Márcio Antônio da Silveira, José Antônio de Moraes, Gerson da Fonseca Rodrigues, Alan Pio Pereira, Aldailton Lino Martins e José Carlos Meireles Saraiva, o Zé Grande. Mauro Aloísio Fonseca Rodrigues, o Baby, é suspeito de receptar cargas roubadas, conseguiu escapar. Alexandro Martins Rodrigues também está foragido.