Pronunciamento do governador Aécio Neves no 3º Forum Coffe e Dinner Cecafé

26 de maio de 2009 | Sem comentários Comércio Exportação

3º Forum Coffe e Dinner – Cecafé – Conselho dos Exportadores de Café do Brasil em São Paulo no dia 25/05/2009


 


SEM REVISÃO


Meus amigos,


É uma honra estar aqui hoje, compartilhando com os senhores idéias e propostas para o Brasil que sonhamos construir e que estamos construindo, juntos, todos os dias.


Antes de qualquer outra palavra, em nome dos mineiros, devo um sincero agradecimento ao Conselho dos Exportadores de Café Verde, por esta oportunidade e esta relevante homenagem.


Nós a recebemos como um reconhecimento ao incessante trabalho da nossa gente, que, desde as primeiras gerações de produtores, tem no café uma das nossas mais caras vocações.


Mais que qualquer outro produto nacional, o café é um capítulo essencial da história de Minas e também da história do Brasil. História que continuamos a escrever ainda hoje, com o trabalho de cerca de oito milhões de brasileiros, direta ou indiretamente envolvidos na agricultura, no transporte, na indústria, no comércio e nas exportações do produto.


Acredito que os próximos capítulos dessa história podem ser ainda mais decisivos ao nosso futuro, se nos permitirmos ousar mais, investir mais, multiplicando as parcerias para a conquista de novos mercados e a imprescindível renovação do consumo.


As bases fundamentais para responder a esse desafio já estão conquistadas.


Temos, hoje, o café mais competitivo do mundo.


Mesmo que sua importância relativa no conjunto das vendas externas tenha diminuído, devido à diversificação da nossa pauta de exportações, o café continua sendo um dos fundamentos da economia nacional e um setor estratégico, do ponto de vista social.


Com importantes investimentos em pesquisa e desenvolvimento, superamos algumas barreiras históricas e conseguimos melhorar a qualidade do produto que produzimos.


Esta não é, no entanto, uma tarefa concluída.


Entendo que é fundamental a garantia de que não faltarão recursos para continuarmos investindo na modernização e na sustentabilidade da produção.


Sendo os maiores produtores mundiais, os maiores exportadores e o segundo mercado consumidor do mundo, é nosso dever e nossa responsabilidade exercer a liderança que nos cabe no mercado internacional.


Para exercê-la em plenitude, é preciso também melhorar internamente a governança do café, por maiores que sejam os esforços do ministro Reinhold Stephanes, que os reconheço.


Precisamos compreender o que os consumidores de todo o mundo exigem e, com competência, posicionar o nosso produto através de um amplo programa de marketing internacional.


É preciso que toda a cadeia do setor –  produção, indústria e comércio -, se envolvam nesta importante tarefa.


Principalmente, precisamos compreender a nova lógica que se impõe, acompanhando a modernização dos mercados.


Sabem muito bem os senhores que tem havido transferência de renda entre os países que tem importante participação na cadeia do setor.


Vejam que, em 1990, o PIB mundial do setor era de 30 bilhões de dólares, sendo que os países produtores representavam 30% .


Hoje o PIB mundial gira em torno de 70, 80 bilhões de dólares e os países produtores representam apenas 8% desse total.


Mais uma vez, perdemos porque não avançamos o suficiente, na difícil tarefa de agregar mais valor ao nosso produto.


O Brasil, por sua liderança incontestável no setor e por sua vocação em conciliar e incluir, precisa saber liderar os países produtores e consumidores de café na tarefa compartilhada de indução da política mundial do café.


Precisamos avançar ainda mais no programa Café e Saúde, explorando as suas qualidades anti-oxidantes.


Precisamos continuar investindo continuamente na melhoria da produtividade do setor, com a colaboração de  empresas como a Fapemig, Epamig e Embrapa, que  já contribuíram muito e podem contribuir cada vez mais.  


Apesar das melhorias que ocorreram nos portos, desde a reforma do setor e a privatização dos serviços, ainda estamos muito distantes da qualidade e eficiência dos portos mais modernos do mundo.


Mas o maior problema a ser enfrentado, que, aliás, é comum a todas as commodities, é a volatilidade do preço do café, que é hoje a segunda maior commoditie do mundo, só suplantada pelo petróleo.


A volatilidade do preço tem sido espantosa.


E desafia ainda mais a demanda por estabilidade no processo de comercialização.


Parece estranho voltarmos, uma vez mais, a uma antiga pauta de reivindicações, que há tantos e tantos anos está colocada para os governos e as nossas lideranças.


Neste importante momento de transição de patamar para o pleno desenvolvimento, nunca foram tão absolutamente necessários os instrumentos de uma política agrícola eficiente e séria:


 – preço mínimo de garantia.


– crédito de custeio para o cultivo.


– crédito para a comercialização.


– hedding, instrumento de oferta em mercados futuros.


– e finalmente, seguro rural.


Um país que detém 35% do mercado mundial de café não pode ficar desguarnecido  de uma política de comercialização mundial.


O governo federal precisa adotar medidas que protejam o café brasileiro do oportunismo do mercado internacional.


O princípio da Política de Garantia de Preço Mínimo deve garantir ao produtor uma remuneração que cubra pelo menos os custos de produção.


E os dados atuais demonstram que os valores estipulados pelo governo federal não atendem sequer a esse patamar.


O governo federal precisa praticar a política de garantia comprando o excedente da produção brasileira com preços compatíveis com a realidade da cafeicultura brasileira.


Ou seja, o que reclamamos –  e há muito tempo – é a formação de uma política agrícola moderna, eficaz, que esteja inclusive à altura do Brasil como grande produtor de alimentos para o mundo.


Isso evitaria, certamente, agendas como a que compartilhamos, há quase dois meses atrás, quando fomos, lado a lado com os cafeicultores, a Brasília, apoiar uma extensa pauta de reivindicações do setor.


Ainda anteontem voltei ao ministro Mantega para cobrar a concretização das sinalizações positivas e os compromissos firmados naquele encontro e até hoje não concretizados em plenitude….


E mais uma vez aqui estamos aguardando a boa vontade de Brasília, em que pese o ministro ter reafirmado sua palavra quanto alguns avanços possíveis.


Entendo que é este exatamente o ponto da nossa reflexão.


Reivindicamos –  e em especial o governo federal defende – uma nova posição para o Brasil no mundo.


Mas internamente não nos permitirmos remover problemas estruturais que não condizem com este Brasil contemporâneo.


Brasília tem sido, meus amigos, um extenso corredor onde se formam filas e mais filas de representantes do setor em situação de fragilidade, quando deveríamos estar protagonizando uma nova interlocução nacional, em busca de saídas para os nossos problemas e a travessia para o pleno desenvolvimento.

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