O Projeto Genoma Café, iniciado em 2002 por pesquisadores da Embrapa Café, Fapesp e de instituições participantes do Consórcio Pesquisa Café, já desvendou mais de 200 mil sequências de cDNA e identificou cerca de 30 mil genes da planta. Agora, grande parte das sequências obtidas serão depositadas em um banco de dados internacional de informações biotecnológicas, o National Center for Biotechnology Information – NCBI (www.ncbi.nlm.nih.gov/), que permitirá o acesso a elas.
Nesse banco de dados serão disponibilizadas as sequências dos genes que foram expressos nos tecidos retirados do café nas suas fases de desenvolvimento ou no momento em que esses tecidos respondiam aos estresses bióticos ou abióticos. Por meio desses genes é possível remontar a molécula de RNA, ou seja, a cópia do DNA (cDNA) da planta que se expressa no momento dos estresses.
O pesquisador da Unicamp, Gonçalo Amarante Guimarães Pereira, um dos coordenadores do Projeto, explica que o estudo do genoma de um ser vivo pode ser comparado com a montagem de um livro a partir dos fragmentos de várias palavras soltas e frases recortadas de cerca de mil exemplares desse livro, reunidas a esmo. A comparação de todas estas palavras e das frases vai, aos poucos, formando o livro, ou seja, o genoma da bactéria, da planta ou do animal. Porém, quanto maior ou mais complexo for o ser, mais difícil é formar essas sequências.
Para o pesquisador, o estudo do genoma do café é muito importante, já que o Coffea arabica, a espécie mais consumida em todo o mundo, é um híbrido formado a partir de duas outras espécies, o Coffea canephora e o Coffea eugenioides. Por esse motivo, o Coffea arabica tem uma base genética muito estreita, tornando a planta muito suscetível a novas doenças. O conhecimento do genoma dessa espécie ajudará no desenvolvimento mais acelerado de pesquisas para o melhoramento genético dessa espécie, tanto pelo método tradicional, quanto por via da transgenia.
Segundo o pesquisador da Embrapa Café Luiz Filipe Protasio Pereira, que também participa do Projeto Genoma Café, a disponibilização desses dados, além de divulgar o trabalho realizado no Brasil, irá possibilitar maior ganho aos estudos biotecnológicos, pois facilitará o acesso de todos os pesquisadores brasileiros e de outros países à informação. Isso permitirá firmar novas parcerias para a continuação do trabalho de pesquisa.
Já Gonçalo Pereira afirma que o conhecimento do genoma do café não será importante, apenas, para as pesquisas com o melhoramento da planta, mas também para o desenvolvimento de novas tecnologias de manejo da lavoura. Ele explica que por meio dessa pesquisa será possível saber se a planta tem ou não resistência a certo fator químico ou biológico e saber qual o momento certo de se colocar na plantação o adubo, além de outras informações.
Luiz Gonzaga Esteves Vieira, que também participou da coordenação do projeto pelo Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), afirma que ao depositar a informação no NCBI, os dados conquistados com o Projeto Genoma possibilitarão que grupos de pesquisadores que não trabalham com o café sejam motivados a realizar pesquisas com o grão. Além disso, poderá estimular grupos de cientistas que trabalham com outras culturas a realizar estudos de genomas comparativos, aumentando o conhecimento na área.