Cibele Aguiar
A linha de pesquisa que abrange os métodos alternativos na indução de resistência contra doenças, do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia do Café (INCT), está próxima de ultrapassar a barreira acadêmica para agregar valor à cadeia produtiva do café. Em breve estará em operação, na Universidade Federal de Lavras (Ufla), a biofábrica para o processamento em escala comercial do composto desenvolvido sob a coordenação do professor Mário Lúcio Vilela de Resende (foto), que inova ao aliar a indução de resistência a doenças ao aproveitamento dos resíduos da cultura do café (folhas, cascas e restos de podas). A Ufla é uma das fundadoras do Consórcio Pesquisa Café, cujo programa de pesquisa é coordenado pela Embrapa Café.
O composto é resultado de mais de cinco anos de pesquisa de base biotecnológica voltada para a inovação do manejo integrado na agricultura. Diferente dos outros produtos disponíveis no mercado, a formulação atua diretamente no sistema de defesa da planta e não nos agentes causadores das doenças. “É como uma vacina”, explica o professor Mário Lúcio, que direciona suas pesquisas para aplicações práticas no campo. Este direcionamento já rendeu dois pedidos de patentes, sendo que duas empresas já se mostraram interessadas em comercializar o produto.
Para a cultura do café, a tecnologia é duplamente benéfica. Primeiro, porque os compostos são produzidos a partir de extratos denominados EFID 100 e ECFC, tendo como matéria prima principal o resíduo processado das lavouras de café. “Usa-se uma matéria prima abundante, rica em compostos e de baixo custo”, complementa o professor. Para completar, testes do composto em lavouras cafeeiras demonstraram sucesso no controle da ferrugem, cercosporiose e phoma. O produto natural demonstrou eficiência semelhante ou melhor quando comparado aos produtos protetores comerciais disponíveis.
Estes resultados vêm sendo avaliados e já renderam diversas dissertações e teses de doutorado. Os compostos passaram por testes de laboratório, avaliação em casa de vegetação e experimentos de campo. Dentre as culturas estudadas, além do café, destacam-se as culturas de eucalipto, roseira, algodão e tomate. Por ser um composto natural, também vem sendo avaliado seu resultado em lavouras orgânicas. PhD em Fitopatologia e especilista em bioquímica de plantas, Mário Lúcio destaca que embora o composto não traga imunidade total, pode ser considerado multiuso na defesa contra fungos e bactérias.
Os compostos serão submetidos a pedido de registro no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Do ponto de vista científico, Mário Lúcio adianta que a próxima fase será direcionar os estudos sobre os compostos com o auxílio de ferramentas da nanotecnologia. Concedido o registro, o produto poderá ser comercializado. Os compostos fazem parte de um amplo projeto que participa do Programa de Incentivo à Inovação da Ufla e do Programa Prime, da Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Também participam do projeto o consultor em cafeicultura Clayton Grillo Pinto e o biólogo Moisés Antônio de Pádua, além de vários estudantes de pós-graduação e pós-doutores.
INCT/Café
Além deste projeto, o INCT/Café possui 14 linhas de pesquisa, a maioria com enfoque biotecnológico, por meio da integração de competências institucionais, capacitação de recursos humanos, estímulo à capacidade de inovação e geração de negócios de alto valor agregado. Participam do INCT/Café 62 pesquisadores das instituições de pesquisa signatárias do projeto: Ufla, Universidade Federal de Viçosa (UFV), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar), Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia, Embrapa Café, Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural (Incaper) e Instituto Agronômico de Campinas (IAC). O INCT/Café tem o aporte financeiro do CNPq e da Fapemig.
Cibele Aguiar – MTb 06097/MG
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