21/09/09
Mauro Zanatta, de Brasília
Um projeto de “inteligência comercial” da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex) está abrindo um amplo mercado para produtos do agronegócio nacional. O incentivo para a associação estratégica de indústrias produtoras e tradings exportadoras deve render ao país US$ 1,5 bilhão em vendas no exterior neste ano, sobretudo nos segmentos de alimentos e bebidas – em 2008, o projeto alavancou US$ 800 milhões dos US$ 2 bilhões em negócios fechados por pequenas e médias tradings.
Os estímulos ao consórcio produtor-exportador conseguiram reunir, desde meados do ano passado 560 tradings, quase três mil empresas na empreitada de abrir novos mercados. A experiência, que começou com um encontro em Angola, avançou para uma missão comercial com participação de 32 tradings na África do Sul. As 376 indústrias representadas fecharam US$ 40 milhões em negócios nos segmentos de alimentos, bebidas, têxteis, móveis, calçados e cosméticos, entre outros.
“Elegemos as tradings porque elas são um caminho para abreviar a inserção de empresas no mercado internacional”, diz o coordenador da Unidade de Projetos da Apex, Juarez Leal. Na parte técnica, segundo ele, as tradings ajudam a acelerar as transações por dominarem o “ambiente de negócios” e “reduzir custos”, já que assumem as ações de comércio exterior. “É vital conhecer os canais para essas vendas. Muitas vezes a empresa tem produto bom, mas não sabe como vender lá fora”. No Japão, diz, pequenas empresas são a base de grandes tradings como Mitsubishi, Sumitomo e Mitsui.
A Apex tornou o projeto estratégico em suas ações. As tradings vão ocupar papel de vanguarda das empresas nacionais. A aposta em novos negócios incluirá mercados da África, Oriente Médio e Ásia em 2010. A meta é selecionar 1 mil tradings e apoiar 5 mil empresas brasileiras. Para entrar no projeto, é preciso comprovar vendas de US$ 50 mil nos últimos três anos.
Há 15 anos no mercado, a capixaba Getec Exportadora está no projeto de Apex. Sócio da trading com receita de R$ 40 milhões, Gilberto Tarantino vende para Mercosul e EUA. Mas abriu os olhos para África e Oriente Médio. Na missão da África do Sul, a Getec fechou com a indústria de massas Adria e outras dez empresas de bebidas, especiarias, chás e castanha – a têxtil Hering e a Penalty, de artigos esportivos, também contrataram os serviços. “Nos surpreendeu o retorno. É bom ver as dificuldades e trocar experiências com outros empresários”, afirma.
Dono da trading paulista General Products, Nicolau Saad já tinha participado da missão a Angola. E gostou: “Perseguíamos uma chance dessas há muito tempo”, diz. A exportadora, que faturou US$ 16,5 milhões em 2008, levou produtos de 70 indústrias de móveis, couro, material de construção, máquinas pesadas e auto-peças. “Às vezes, a empresa tem produtos interessantes, mas falta estrutura e cultura exportadora”, afirma Saad. “Temos que voltar sempre aos clientes, estar com o pé na estrada”. As cinco indústrias de couro e as 17 empresas de móveis representados pela General Products vendem para 18 países. A trading Simões Moita, de São Carlos (SP), fatura R$ 1 milhão com miúdos de bovinos, sucos tropicais e carne de frango e bovinos. Vende para Hong Kong, China, Vietnã e África, atendendo a frigoríficos médios no Brasil. “Somos um condutor de negócios”, diz o dono Antonio Simões Moita, comemorando a venda de 900 toneladas de carne na África do Sul via parceria da Apex.