SÃO PAULO – A crise financeira global chegou à agricultura brasileira. Por conta das dificuldades de acesso ao crédito enfrentadas por produtores, na próxima semana, representantes da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) vão se reunir com membros da Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e do Banco do Brasil para pressionar por acesso mais fácil à liberação de recursos.
Além disso, a CNA também vai solicitar maior volume de verba do Orçamento Geral da União para o apoio à comercialização da safra 2008/09. Levantamento será concluído e apresentado ao governo federal em três ou quatro dias apontando para o volume de recursos necessário para “garantir alguma subvenção para a comercialização da safra 2008/09”, afirmou ontem ao DCI José Mário Schreiner, vice-presidente da CNA. “Um dos pontos preocupantes agora, além da falta de crédito, é a relação custo e receita. O mercado sinaliza preços mais baixos para as commodities no próximo ano e o custo subiu muito para o plantio da safra. Por isso vamos reivindicar recursos do Orçamento Geral da União para garantir ajuda à comercialização”. O custo subiu cerca de 40% em comparação à safra anterior
A verba seria utilizada por meio de instrumentos já existentes, como o PEP e via PGPM (Política de Garantia de Preços Mínimos), além de outros.
No caso da soja, segundo Rui Prado, presidente da Associação dos Produtores de Soja do Mato Grosso (Aprosoja-MT), o preço mínimo remunerador seria de R$ 34 a saca. O mercado sinaliza R$ 27 a saca para negociações futuras (preço de referência). Além de solicitar mais recursos para a comercialização da safra, os produtores do MT também querem que o governo prorrogue o pagamento das dívidas renegociadas em julho.
Crédito
Quanto ao crédito, Schreiner, da CNA, afirma que nenhum produtor está conseguindo acesso ao dinheiro que o governo disponibilizou – adiantamento de R$ 5 bilhões via Banco do Brasil. “Não conheço nenhum produtor que tenha conseguido acesso a esses recursos. E o crédito no sistema privado está travado. Os bancos estão investindo em outro lugar. A situação está complicada”, disse, ainda, o vice-presidente da CNA. “Há muita burocracia e má vontade”, completou, referindo-se à dificuldade do acesso ao crédito oferecido pelo governo federal.
Além dos R$ 5 bilhões antecipados, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse nesta semana que seriam liberados outros R$ 2,5 bilhões para socorrer os agricultores. No entanto, a oficialização do anúncio deverá ocorrer nos próximos dias, para quando é esperada reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN).
Por causa de falta de verba para aquisição de 20% dos insumos restantes necessários, muitos produtores terão como alternativa plantar 80% da área ou reduzir o uso de tecnologia e deixar a cultura vulnerável.
“As tradings não liberam recursos e há indústrias que não estão entregando produtos comprados a prazo. Os insumos para os tratos culturais, como o de controle de insetos, por exemplo, são fundamentais. Estamos bastante preocupados”, comentou o presidente da Aprosoja do MT. O plantio de soja está no início (20% da área destinada à cultura foi plantada no estado) e o de milho (segunda safra) e algodão ainda não começaram na região. Além de capital de giro para os produtos que faltam, os agricultores também precisam de dinheiro para custear o pagamento dos trabalhadores, entre outros gastos.
Como o clima é incerto e a safrinha está indefinida por conta da falta de recursos, a CNA já projeta redução entre 5% e 7% na colheita das 144 milhões de toneladas projetadas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em seu último levantamento da safra, divulgado no início do mês. Vale lembrar que o estudo foi feito antes do estouro da crise.
Prado, da Aprosoja, afirma que os produtores brasileiros precisam de R$ 22 bilhões para esta safra, sendo que no MT a necessidade é de R$ 4 bilhões. O estado é o maior produtor de soja do País.
Embora os agricultores estejam alarmados, o ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, afirmou ontem que a safra está garantida. Segundo ele, aproximadamente 80% dos produtores estão em condições de fazer o plantio e têm crédito. Stephanes adiantou que se for preciso o governo pode liberar mais crédito para o setor. O ministro reconheceu que existem questões “residuais”, principalmente no Centro-Oeste, onde agricultores estão com dificuldades para o financiamento. Ele disse que enviou equipe para visitar diferentes regiões do MT, considerado o que está em situação mais crítica.
A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) irá se reunir semana que vem com a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) de forma a pressionar por acesso mais fácil a crédito.
Erica Polo