Falta de chuva e calor excessivo atingiram regiões produtoras no Estado e prejudicaram o desenvolvimento dos cafezais e afetaram até lavouras irrigadas
Por Globo Rural
O calor excessivo e as chuvas escassas que atingiram o Cerrado Mineiro no último trimestre de 2023 afetaram a lavoura do produtor de café Rubens Alexandre Pieroli, que cultiva 14 hectares em Araguari (MG), no Triângulo Mineiro. O produtor espera para a safra de 2024 uma quebra de 25% por conta dos problemas climáticos. A produtividade deve ser de 45 sacas por hectare.
“Este ano, a produção vai ser inferior por conta da falta de chuva e da temperatura muito alta na época de floração e de enchimento dos grãos. O clima nos últimos anos tem ficado muito quente. Está difícil manter a média de produção mesmo com irrigação”, afirmou Pieroli.
O produtor de Araguari diz que o município enfrentou dias com 45º C de temperatura. “O clima tem causado um descontrole grande na produção. A gente esperava uma floração mais uniforme, mas tivemos de quatro a 5 floradas, de agosto até novembro. Já tem café pintando para maturar agora, o que era para começar só em abril”, acrescentou o produtor.
O presidente da Associação dos Cafeicultores de Araguari (MG), Cláudio Morales Garcia, diz que a safra na região terá uma perda de 25% a 30% nesta safra. A associação engloba 450 produtores que cultivam 23 mil hectares em Araguari e municípios vizinhos. A produção no ano passado chegou a 930 mil sacas.
“Essa perda leva em conta a queda de chumbinho na lavoura, por causa da alta temperatura. Teve pouca chuva também no fim do ano, não dá para saber qual vai ser o prejuízo total”, afirma Garcia.
Os efeitos do El Niño devem aprofundar a queda na produção já esperada para a região do Cerrado Mineiro, por causa da sazonalidade da cultura bianual. O diretor-executivo da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal, estima uma quebra de 30%, com a colheita entre 5 milhões e 5,2 milhões de sacas. A região engloba 55 municípios. São 4,5 mil produtores com 250 mil hectares de cafezais.
“Além da questão da sazonalidade, a gente teve em novembro um período de calor muito elevado e chuvas irregulares em dezembro. Em janeiro choveu dentro de um ritmo mais normal e as temperaturas não foram tão elevadas”, afirma Tarabal.
No Sudoeste Mineiro, produtores enfrentaram os dias mais quentes em 150 anos, segundo o presidente da Associação dos Cafeicultores do Sudoeste de Minas, Fernando Barbosa. “Já tivemos problema de seca e granizo que afetou 18% da lavoura nos anos anteriores. Este ano a gente esperava uma safra mais positiva. Mas não sabemos mensurar ainda as perdas”, afirmou Barbosa.
A região engloba 11,8 mil produtores de café, com área de 178,5 mil hectares e produção de 2,6 milhões de sacas em 2023. Renan de Souza cultiva 30 hectares de cafezais com sua família nos municípios mineiros de Juruaia e São Pedro da União. Ele estima uma quebra na produção da ordem de 15%.
“A gente vê um abortamento de grãos muito alto, mesmo levando à risca a adubação, o manejo do mato, o uso dos defensivos biológicos”, afirma o produtor, que faz roçada ecológica em suas propriedades.
Souza acrescentou que tem visto queda de grãos cheios, não apenas mais jovens (chumbinhos). “A gente teve uma sequência de chuva de granizo e depois seca muito grande. O estresse da planta está muito alto. Acredito que o calor está atrapalhando demais a lavoura. As chuvas voltaram e amenizaram o calor, mas o dano é irreversível”, diz.
A Associação dos Cafeicultores do Campo das Vertentes também prevê uma quebra de pelo menos 20% na safra deste ano. A região concentra 4,3 mil produtores familiares e 863 médios e grandes produtores, que juntos cultivam 43,3 mil hectares de lavouras de café e produzem 1,3 milhão de sacas por ano.
“Tivemos apenas 350 milímetros de chuva em dezembro. No ano anterior foram 800 milímetros. É uma fase de desenvolvimento do grão, com certeza vai ter prejuízo no rendimento”, diz o presidente da associação, Gabriel Lamounier.
Frustração de safra
De acordo com o primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgado em janeiro, a produção de café na safra de 2024 em Minas Gerais terá um crescimento de 0,6% em relação ao ciclo anterior, totalizando 29,18 milhões de sacas. A produção do Brasil deve aumentar 5,5%, para 58,08 milhões de sacas.
Fatores climáticos são a principal causa para esse desempenho abaixo da média nacional, aponta a Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG). A empresa deve divulgar neste mês um levantamento com dados mais atualizados da safra.
“Faltou chuva nas regiões produtoras na época de floração no ano passado. E as lavouras ainda estão se recuperando da geada de 2021. Devido a esses fatores, a produção em 2024 ficará abaixo do esperado, frustrando uma safra maior em Minas Gerais”, afirma, em nota, o engenheiro agrônomo e coordenador estadual da Emater-MG, Willem de Araújo.
Ele acrescenta que parte dos produtores atrasou a aplicação de fertilizantes em decorrência da falta de chuvas no fim do ano passado e dos preços elevados dos insumos. Há ainda, segundo a Emater-MG, o risco de disseminação de doenças causadas por fungos com as chuvas intensas e constantes observadas neste início de ano.
“As chuvas também atrasam as práticas culturais como a adubação, o que pode acarretar aumento da queda de frutos e folhas, no período de maior demanda de nutrientes pela planta”, afirma Araújo.
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