O primeiro plantio começou quando o cunhado dele lhe deixou 30 mudas de café
porque iria se mudar da fazenda ao lado da propriedade de Jório. “Aí eu fiquei
acostumado a tomar aquele café gostoso. Quando fui comprar café fora, quem disse
que eu aguentava?”, indaga Márcio Jório. Nessa época, ele ainda torrava o grão
de maneira artesanal.
Após o início da aposentadoria, em 1997, com a ajuda de um agrônomo, ele
passou a investir mais na produção. Buscando formas de agregar valor ao produto,
o matemático comprou uma máquina que permite torrar e descascar todos os grãos,
e ainda providenciou as embalagens. “Foi difícil achar uma máquina e um bom
financiamento para o pequeno produtor. Para o pequeno, tudo é mais difícil aqui
no Brasil.”
Foi só no final de 2014 que Jório passou a mandar o café que produz a uma
empresa portuguesa em Ribeirão Preto (SP) especializada em transformar o pó da
bebida em pequenas cápsulas para consumo. Contando com o frete, o custo todo sai
por R$ 0,80 a cápsula. “O que a cápsula trouxe foi praticidade”, conta o
empresário do DF, que chega a deixar o café colhido “descansar” por até um ano
só para que o gosto fique “apurado”.
“Estamos conseguindo conquistar mercado. Há vários apreciadores porque é um
café ‘gourmet’. Já temos cerca de cem clientes”, afirmou o pequeno produtor ao
G1. Uma embalagem com dez cápsulas é vendida por R$ 20. Por
mais que ele diga que a quantidade cultivada na chácara não torne “ninguém
rico”, ele revelou que espera dobrar a renda da família com a venda de 10 mil
unidades por mês, mesmo sem manter estoque. “Prejuízo eu não tenho.”
O gosto pela bebida vem desde criança. “Com 12 anos, era eu quem fazia café
para o meu pai. Sempre gostei de tomar, mas nunca imaginei que um dia eu poderia
ser um cafeicultor, ou pelo menos um microcafeicultor de qualidade”, brinca
Jório, que passou a frequentar palestras e cursos de degustação para se
aprofundar no assunto.
Envolvida no processo, a mulher dele, Elisa Leite, afirma que o produto que o
casal vende tem pelo menos três certificações de que é orgânico, o que
garantiria um café de qualidade. “Lidar com o orgânico é uma filosofia de vida.
As pessoas estão começando a ver o quanto é importante para a saúde. Mas também
tem a ver com pontos como o trato com meio ambiente e o relacionamento com as
pessoas”, disse a mulher. “É um café muito mais bem cuidado.”