POR BIANCA MELO
Em dez anos, a produtividade média do café brasileiro no campo mais do que dobrou, passando de oito sacas (de 60 quilos) por hectare (ha) para 17 sacas. Em Minas Gerais, o crescimento foi o mesmo, mas a produtividade é maior: dez sacas por ha em 1997 e 20 sacas hoje.
As pesquisas para aprimorar o processo produtivo e melhorar a genética do grão respondem pelo avanço. O período de dez anos coincide com a criação do Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café, que reúne 40 instituições de pesquisa.
O gestor do consórcio e chefe da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa Café), Gabriel Ferreira Bartholo, explica que não haveria cafés especiais e gourmets no mercado se não fosse o aperfeiçoamento do processo produtivo.
“Antes eram apenas o café mais forte e o mais fraco, mas hoje o cafeicultor consegue chegar bem perto do tipo de café que ele deseja comercializar, considerando aroma, sabor, acidez, cor e espessura.”
O mercado interno ganha em qualidade do café muito em função da necessidade de melhorar para agradar aos importadores. O mercado internacional demanda cada vez mais grãos selecionados e finos, aumentando a rentabilidade dos comerciantes do produto.
Em Minas, maior produtor do país, as exportações de café saltaram de US$ 899 milhões, em 1996, para US$ 2,117 bilhões, em 2006, uma alta considerável de 135,5%. O aumento também se deu no volume exportado.
Ciência
As pesquisas da Embrapa e do consórcio conseguiram adequar vários tipos de solo ao plantio do café, desenvolver técnicas de irrigação específicas para a cafeicultura e identificar e combater pragas que atacam a planta.
Uma solução aparentemente simples na colheita de café representa uma grande mudança para a cafeicultura convencional nos últimos anos. O descascador para o grão vermelho (cereja), que começou a ser usado em meados da década de 90, ajuda a selecionar os melhores grãos, eliminando os inferiores.
“O grande gargalo era no processamento da colheita e pós-colheita, que não levavam em conta a seleção de grãos”, explica Bartholo. A tecnologia que utiliza o descascador e as outras pesquisas do consórcio são transferidas às unidades de extensão rural num esforço de levá-las ao produtor.
“A tecnologia também leva em conta o tempo de secagem e a temperatura ideal do café”, detalha Gabriel Bartholo. Outra frente importante de pesquisas é a cafeicultura irrigada.
O consórcio está desenvolvendo estudos para controle do florescimento por meio de manejo de irrigação, dependendo do local de plantio. Segundo informações da Embrapa Café, atualmente os produtores do cerrado de Minas e sudoeste da Bahia já utilizam a técnica, que deve ser estendida para outras regiões.
Desperdício
A boa novidade para os próximos anos, afirma o gestor do consórcio, é a produção integrada do café, sistema de gerenciamento que pode zerar os desperdícios do processo produtivo, que hoje elevam em 30% o custo final. As perdas ocorrem, por exemplo, na dosagem de insumos e extravio de grãos.
Minas perde competitividade na industrialização
Minas Gerais é o Estado que mais colhe café no Brasil, mas fica bem longe de uma liderança quando o assunto é industrialização. Os empresários reclamam, há anos, atrativos para instalação de indústrias no Estado, mas ainda não foram atendidos.
De Minas sai metade dos grãos produzidos pelo Brasil, o equivalente a 21 milhões de sacas por safra. Apesar disto, no Estado são beneficiados apenas 12% dos 16 milhões de sacas que o país consome, cerca de 1,8 milhão de sacas.
Em outubro do ano passado, foi criado um grupo de trabalho para elaborar um plano de ação para a cafeicultura em Minas, mas, segundo o presidente da Câmara Técnica do Café, Aguinaldo José de Lima, não há sinalização de mudanças, muito menos de redução de impostos para tornar a indústria mineira competitiva.
A câmara é ligada à Secretaria Estadual de Agricultura. “Estamos parados no tempo, deixando nossa indústria fraca e com matéria-prima na porta.” O maior beneficiador de café no país é São Paulo, Estado que possui carga fiscal mais atraente para o produto. (BM)
Com produção orgânica, grão consegue valorização de 69%
O processo é moroso e cheio de detalhes, mas a remuneração para o café orgânico tem atraído interesse de muitos produtores. Enquanto a saca de café comum é cotada no mercado internacional a R$ 260, a orgânica vale R$ 440, uma valorização de 69%. Mais caro, o produto tem como destino os Estados Unidos e a Europa.
A demanda, afirmam os cafeicultores, também é garantida. “A tendência mundial é de produtos cada vez mais ecologicamente corretos e saudáveis. E o café orgânico tem muito espaço para crescer”, aposta o presidente de uma cooperativa de produtores de orgânicos no Sul de Minas, Luís Adalto de Oliveira.
Dados da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) mostram que o mercado de café orgânico cresce a um ritmo de 10% a cada ano. Hoje, o Brasil só perde para o México em produção. Quem resolver investir em café orgânico deve saber que terá custo de produção 20% a 30% acima do normal.
É preciso descontaminar o solo, suspender o uso do agrotóxico e esperar três anos para converter o sistema convencional para o orgânico. No Sul de Minas, produtores de Andradas, Poço Fundo e Campestre se organizaram em uma cooperativa para exportar.
São 113 cafeicultores que aderiram ao sistema de produção orgânica a partir de 1997.
A colheita de cerca de 30 mil sacas por safra é voltada para exportação. No Brasil, ficam apenas 15% dos grãos que não passam no teste de qualidade para envio a outro país. O presidente revela que em seis anos os produtores planejam construir uma usina própria de beneficiamento de café. (BM)