A produção de leite em Minas Gerais é uma tradição que vem de longa data. Com forte característica agropecuária, o Estado responde por cerca de 30% da produção leiteira do País. Apesar da sua participação importante na economia mineira, a atividade tem experimentado crises cíclicas que acabam por desanimar os produtores rurais que tentam sobreviver do negócio. Em Araxá, no sudoeste mineiro, um grupo produtores conseguiu superar as dificuldades por meio da organização em cooperativa e da capacitação em consultorias especializadas.
A chance de transformar a produção de subsistência em algo economicamente rentável só começou a se concretizar a partir do estímulo à união dos pequenos produtores rurais. “A forma artesanal de produção diminuía a possibilidade de o negócio dar certo”, admite o produtor Alexandre Luiz Rios, de 43 anos, da Fazenda Girassol, em Araxá, no sudoeste de Minas.
Ele se tornou um exemplo das mudanças necessárias à adaptação dos pequenos produtores às constantes mudanças que o mercado exige. Uma delas – e talvez a mais fundamental – seja a da profissionalização de quem se aventura no agronegócio, um segmento que agrega cada vez mais tecnologia em busca da qualidade e segurança dos produtos. “A idéia de ser um simples tirador de leite para mim é coisa do passado. Sou um empreendedor”, afirma Rios, convencido de que agora pôs o “trem nos trilhos”.
Alexandre conta que, desde criança, se acostumou a ver a fazenda como um lugar que produzia o necessário para viver. Já não é mais assim. Graças ao Projeto Leite na Região de Araxá, do Sebrae em Minas, os produtores locais uniram forças para aumentar a rentabilidade do negócio.
O trabalho de Alexandre é uma herança de família. Ele é filho de Antônia Auxiliadora Rios, 66 anos, mais conhecida por dona Dorinha. Ela recebeu vários prêmios pelo trabalho feito na fazenda. “Plantei uma semente, hoje os meus filhos colhem fruto no meu trabalho”, conta com orgulho. A façanha de Dorinha, de ter transformado a produção de leite em um negócio rentável, é relatada no livro Caso de Sucesso 2006, do Sebrae.
Formado em Zootecnia e orientado pelos técnicos do Sebrae sobre a estruturação da cadeia produtiva do leite e derivados, Rios foi rapidamente convertido às melhores práticas do setor. E fez questão de alertar os vizinhos. A Cooperativa trouxe o espírito de solidariedade. “Não adianta produzir se o meu colega passa por dificuldades”, comenta.
Ele conta ainda que a família já chegou a trabalhar com café, mas viu que, apesar das dificuldades, o leite ainda era o melhor negócio para eles. Há oito anos, sua fazenda produzia 400 litros de leite por dia. Hoje, esse número chega a 1.600 litros diários com ciência e controle de qualidade.
Educampo
Outro projeto do Sebrae que levou tecnologias e esperança para os pequenos produtores de leite da região foi o Educampo. O público-alvo da iniciativa são produtores de leite vinculados à Cooperativa Agropecuária de Araxá (Capal). Projeto tem a proposta de orientar e capacitar os produtores rurais nos aspectos técnico e gerencial. O foco está no desenvolvimento da propriedade, tornando-a mais competitiva eficiente, nos moldes que se exige de uma empresa moderna. Por meio do Educampo, os produtores têm condições de fazer do campo um lugar de bons negócios.
Missões empresariais em visita às fazendas leiteiras já são uma rotina em Araxá. São 40 produtores de leite a receber periodicamente a visita de consultores que buscam junto aos novos empresários a melhor forma de aumentar a produção, elevar a qualidade do leite e derivados e diminuir as perdas. “No primeiro ano de projeto conseguimos reverter os prejuízos numa escala de cinco para um centavo em cada litro de leite” contabiliza Rios.
Os treinamentos e consultorias do projeto são feitos de maneira sistemática. As capacitações integram os projetos desenvolvidos pelo Sebrae em Minas junto ao setor leiteiro em 24 municípios. Os conhecimentos são transmitidos em consultorias mensais, cursos, palestras, dias de campo e seminários. Graças às ações do Educampo, os produtores de leite de Araxá têm superado metas relacionadas à melhoria da qualidade do produto e à capacitação da mão-de-obra.
A técnica do Sebrae na microrregião de Araxá, Heloísa Tinoco, comemora os resultados. Um dos principais, segundo ela, é a adequação dos produtores à Instrução Normativa nº 51, do Ministério da Agricultura, que exige uma série de requisitos quanto à qualidade do leite. “Outro resultado importante foi o fortalecimento das parcerias e a valorização do produtor e do técnico da cooperativa”, completa.
“O diferencial que o Sebrae oferece é que o produtor não precisa sair da fazenda para aprender, pois os técnicos vão à propriedade apresentar as inovações e treiná-lo”, explica Heloísa Tinoco. Segundo ela, já foram realizados 12 encontros temáticos com os produtores.
A capacitação alcança ainda os técnicos da cooperativa. Nesse caso, a atenção se volta para o aumento da produtividade. Para isso, os especialistas do Sebrae estadual pesquisam novas tecnologias que possam ser aplicadas aos casos específicos apresentados pelos produtores. Um exemplo é o estudo do plantio da cana desenvolvido na região para melhorar a alimentação do gado visando à melhoria na produção.
“Aprendemos a fazer planejamento anual e adquirimos conhecimento administrativo e gerencial. A minha propriedade já melhorou muito e acredito que em dois anos vou conseguir alcançar minha meta de ser auto-suficiente”, almeja Dalva de Oliveira Lima, proprietária do Sítio Real e presidente da Associação dos Cerrados de Araxá.
Planejamento
A escolha da melhor abordagem técnica para atender às necessidades de cada produtor começa com um estudo minucioso da propriedade. Em seguida, traça-se um perfil onde se detectam os problemas e as principais potencialidades. O próximo passo é fazer um planejamento contendo as metas previstas e o prazo para alcançá-las.
As metas são acertadas com o produtor e com a indústria para a qual ele fornece seu produto. O Educampo é um projeto prático, que considera as necessidades dos produtores. O trabalho é desenvolvido em conjunto com as indústrias de laticínios que têm no leite sua matéria-prima. O trabalho é feito em grupo de 20 produtores, em média.
Isso reduz os custos da assistência gerencial e tecnológica – já que os gastos são rateados entre os participantes – e contribui para a troca de experiências. Planejamento, avaliação das propriedades e levantamento de custos de produção são conceitos praticados que devem tornar-se rotina no negócio do produtor rural. Essas ações permitem realizar os ajustes contínuos nos sistemas de produção, adequando-os às mudanças necessárias para o crescimento da empresa rural.
Mais programas
Em Araxá, os produtores rurais recebem a ajuda de quatro programas para incremento da economia local que mostram que o campo pode ser um ambiente tão favorável aos bons negócios quanto as grandes cidades. Isso faz com que a migração do campo para a cidade seja desacelerada, evitando o êxodo que incha os centros urbanos com drásticas conseqüências sociais: desemprego, aglomeração e violência. Os programas são o Educampo, Boas Práticas de Fabricação (BPF), Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (APPCC) e Procedimentos Padrões de Higiene Operacional (PPHO).
Outras atividades são aquecidas e passam a atrair os pequenos produtores. Dentre essas atividades estão as produções de cachaça, de alimentos artesanais e de artesanato que estimulam o crescimento dos setores agrário, turístico e cultural.