Etileno é um fitohormonio gasoso que, em condições de síntese controlada, atua em vários processos do desenvolvimento vegetal tais como: germinação, florescimento, senescência e maturação de frutos.
Por outro lado, em resposta a estresses bióticos e abióticos, tem sua síntese acentuada promovendo diversos distúrbios fisiológicos como amarelecimento, murcha e abscisão de folhas; abortamento de botões florais; queda de frutos; morte de raízes; senescência e morte acelerada das plantas. Vê-se, portanto, que a ação desse hormônio é dose-dependente, o que implica em dizer que seus efeitos, de eficácia ou adverso, estão diretamente relacionados com a concentração endógena. Portanto, especial atenção deve ser dada para este particular, especialmente nas intervenções de manejo na pré-colheita como o uso de indutores e retardadores de maturação, para que o sucesso não se transforme em frustação. Para tanto há que se conhecer o modo de ação fisiológica do etileno nesse processo a fim de se obter ganhos na qualidade dos frutos e agregar valor ao produto.
Nos últimos 10 anos, estudos mostraram consistentemente, a natureza climatérica dos frutos de café por apresentarem uma elevação na taxa respiratória provendo os frutos verdes e em máxima expansão, da energia necessária para sua maturação. Logo após a formação do endosperma, quando os frutos se encontram no estádio verde-cana, ocorre um súbito aumento na síntese autocatalítica do etileno onde a presença do mesmo, estimula sua própria síntese, até atingir um pico de produção nos frutos cerejas, quando estão fisiologicamente maduros. Durante estes processos, ocorrem drásticas variações nos teores de pigmentos, caracterizadas por diminuição da clorofila e aumentos de outros pigmentos, responsáveis pela coloração vermelha ou amarela, própria dos frutos maduros. Paralelamente, os frutos adquirem os atributos da maturação como textura, sabor e aroma pela degradação de parede celular, degradação de amido e acúmulo de açúcares e síntese de voláteis.
Para que os frutos tenham todas essas características físico-químicas, deve-se minimizar a colheita de frutos verdes, secos e passa. Via de regra, a colheita deve ser iniciada quando 90% dos frutos estiverem maduros e que seja feita o mais rápido possível. O problema é que na época da colheita, dificilmente vamos encontrar lavouras com esse percentual de maturação. Normalmente, o que se vê em uma mesma planta são frutos verdes, maduros e secos. Neste ano agrícola, mais do que em outros, por uma infeliz associação de clima com fatores fisiológicos ligados à própria cultura, os cafeeiros floresceram de julho a fevereiro o que automaticamente, fez com que houvesse uma enorme variação na maturação de frutos entre plantas e dentro da própria planta. Em uma mesma lavoura é comum encontrar plantas com frutos maduros e plantas com frutos verdes, amadurecimento diferenciado entre terços da planta (ponteiro com frutos seco e passa; terço médio com frutos verde, verde-cana e cereja e saia com frutos verdes) bem como amadurecimento diferenciado entre as faces da planta onde na face norte, mais ensolarada, a proporção de frutos maduros é maior que na face sul.
Para contornar a desuniformidade de maturação e colher o máximo de cereja, muitos cafeicultores usam, com sucesso, indutores ou retardadores de maturação obtendo maior rendimento de colheita e do beneficiamento do café via úmida, além da melhoria na qualidade. Os indutores tem a característica de ativar a produção de etileno, induzindo os frutos a maturação e são aplicados quando 90% dos frutos do terço médio ou da saia são cerejas, o que na prática, coincide com 96% de frutos granados em todo o cafeeiro. Já os retardadores, inibem temporariamente a produção desse hormônio retardando a maturação dos frutos e são aplicados quando no máximo 10% dos frutos do terço médio encontram-se como verde-cana. Obviamente, devido às restrições técnicas de aplicação não se consideram nessas recomendações as variações dentro e entre plantas.
Todavia, uma maturação tão heterogênea como a que estamos vendo neste ano, gera problemas operacionais. Um deles é o “timing” da aplicação principalmente dos indutores de maturação. Normalmente quando o terço de referência atinge o percentual recomendado, os frutos do ponteiro já estão nos estádios passa e seco. Neste caso, quando se aplica os indutores na planta toda é comum aumentar a percentagem e queda dos frutos secos do ponteiro. O problema pode-se agravar com as chuvas que derrubam ainda mais os frutos secos, com influências negativas da fermentação do café de varrição. Uma vez que o produto age por contato, uma boa estratégia é aplicar o indutor nos dois terços inferiores da planta. Esta estratégia tem diminuído significativamente o café de varrição, aumentando a permanência dos frutos na planta.
Em relação aos retardadores de maturação, que será objeto de futura publicação, o “timing” de aplicação não chega a ser problema uma vez que nesse período, os frutos se encontram, em sua grande maioria verdes, sem a presença de cereja, passa e seco. Esses produtos chegam a segurar a maturação dos frutos por 20-30 dias.
Outro problema muito comum enfrentado pelos cafeicultores que aplicam indutores de maturação é esperar até 40 dias para colher o café com a perspectiva de chuva. Como consequência das chuvas, os frutos cerejas que não foram colhidos entram na fase de pós-maturação e evoluem para frutos passas ou secos, ficando mais vulneráveis à queda e aumentando a parcela de cafés de chão. A despeito da maior percentagem de verde, muitos cafeicultores, a meu ver acertadamente, preferem antecipar a colheita e com uma segunda passada, diminuir a varrição com menores prejuízos à qualidade da bebida.
Coincidentemente quando estava terminando este artigo, consultores da RR Consultoria relataram um fato que gostaria de descrever como um “estudo de caso” que ilustra muito bem como é dinâmica a produção do etileno no cafeeiro. Eles observaram que em resposta a aplicação de um indutor da síntese de etileno, “houve um adiantamento na maturação dos frutos de café, antes da data planejada”. Relataram também que nos dias que antecederam e alguns dias depois da aplicação, um grande volume de chuva atingiu a lavoura. A observação de que as chuvas potencializaram os efeitos da aplicação, diminuíram dosagem do produto em outras lavouras da região, obtendo os mesmos benefícios. Em vista desses fatos, indagaram “se chuva em excesso poderia influenciar a eficiência do produto”. De fato, chuvas pesadas diminuem a concentração de oxigênio no solo levando-o à uma condição de hipóxia. Como o cafeeiro é sensível ao encharcamento do solo, a hipóxia induz a uma elevação do etileno na parte aérea provocando a maturação antecipada dos frutos. Esta ocorrência se deve à um rápido aumento na produção e transporte do ácido 1-carboxílico-1-aminociclopropano (ACC) da raiz para a parte aérea onde ele é convertido em etileno. Se a concentração desse hormônio subir muito, pode provocar vários distúrbios fisiológicos no cafeeiro como queda de folhas e de frutos. Aliás este fato já está sendo relatado em diversas lavouras em resposta à chuvas pesadas. Portanto na programação do uso de indutores de maturação o cafeicultor deve ficar atento às chuvas na região.
Pelo exposto, dado ao modo de ação dose-dependente e sua síntese autocatalítica, vê-se que o etileno, apesar de ser um hormônio essencial a vida da planta, no que concerne a antecipação da maturação de frutos climatéricos é de difícil regulação. Entretendo, resultados de pesquisas, observações pessoais e depoimentos de cafeicultores e de consultores, abonam esses produtos indutores da síntese de etileno que conseguem, com sucesso, uniformizar a maturação e antecipar a colheita do café, desde que o clima não atrapalhe muito. De qualquer modo, a retrospectiva desse ano agrícola leva a concluir que teremos sérios problemas com a qualidade da safra de café que está sendo colhida.