Jornal de Brasilia – Diante da procura por esse sistema, a Embrapa Cerrados ensina como plantar sem agroquímicos – A busca por produtos que beneficiem a saúde e o meio ambiente transformaram os alimentos orgânicos em sinônimos de qualidade de vida, já que são produtos cultivados sem agrotóxicos ou adubos químicos. Em razão disso, este mercado experimenta uma fase de franca expansão. Os produtos detentores dessa certificação recebem melhor remuneração, o que contribui significativamente para a melhoria da qualidade de vida dos agricultores que optam por este sistema de produção.
Visando implusionar a produção e a comercialização do café orgânico produzido no Distrito Federal, a Embrapa Cerrados vai promover, entre os próximos dias 14 a 17, o Curso Básico pra o Cultivo Orgânico de Café, direcionado para pequenos produtores, extensionistas, técnicos do setor, estudantes e empreendedores do DF e Região do Entorno. O curso será na sede da unidade, na BR-120, Km 18, em Planaltina [DF].
Durante o curso serão abordados temas como atividade empresarial nas pequenas produções, características climáticas para o cultivo do café, importância da matéria orgânica na qualidade do solo, adubação verde para o cultivo do café, entre outros. O valor da taxa de inscrição ao curso é R$ 20 e estão sendo oferecidas 50 vagas.
Segundo João Batista Ramos Sampaio, pesquisador da Embrapa Cerrados, o mercado para esse tipo de café é promissor. ‘A estimativa é que dentro de dois anos a produção de café orgânico no DF esteja em 20 toneladas por ano’, afirma. Hoje, a produção registrada pela Associação dos Produtores de Café Orgânico do DF [Aprocor] gira em torno de 300 sacas do produto por ano, o equivalente a 18 toneladas.
Certificação só após três cultivos
A Aprocor nasceu em setembro de 2002 e conta com 13 integrantes. Com a capacitação e reciclagem dos produtores, dentro de dois anos, espera-se que esse número chegue à marca de 50 produtores de café orgânico. Dos 13 que atuam no mercado, cinco já possuem o selo do Instituto Biodinâmico [IBD], que certifica produtos orgânicos. Os outros oito estão em fase de transição. Isto porque a certificadora só concede o selo após três anos consecutivos de cultivo do café sem fazer uso de qualquer agrotóxico há, no mínimo, três anos.
Rudi Belter produz café orgânico na Fazenda Recanto Tô Atoa, em Planaltina [DF] e é secretário da Aprocor. Ali, ele possui aproximadamente 20 mil pés de café, e já preparou terreno para plantar mais dez mil até final deste ano. Para ele, o mercado de orgânicos só tende a crescer.
Segundo João Batista, o negócio é rentável, pois o café orgânico custa, no mercado, cerca de 30% a mais que o convencional. ‘O grande diferencial do sistema orgânico é que, além de ser benéfico para a saúde, oferece produtos de qualidade e assume responsabilidade social e ambiental’, avalia. O café orgânico também custa mais para o produtor. ‘Ele desembolsa 20% a mais. Esses gastos são remanescentes de todo o cuidado com o manejo do grão’, diz o pesquisador.
Produto é certificado
Moacir Pereira Lima cultiva produtos orgânicos há 20 anos em sua pequena propriedade, a Chácara Dom Bosco, que fica no setor de Fazendas Euler Paranhos, no Núcleo Rural do Paranoá [DF]. Dos dois hectares de terra que possui, dois terços são de área cultivada. Tudo o que ele cria e planta tem a técnica de adubação verde como base de sustentação. A consciência ecológica e social desse produtor, de 76 anos, é propagada por meio dos alimentos que ele produz e comercializa.
O café que Moacir produz é certificado pelo IBD. O produto recebeu o selo de identificação de produtos orgânicos em outubro de 2004. Mesmo nunca tendo usado agrotóxicos, antes da certificação ele teve de passar pelos três anos de inspeção exigidos pelo IBD.
Moacir tem muito orgulho dos produtos que cultiva. ‘Eu descobri os orgânicos porque minha propriedade está localizada em uma área de preservação ambiental. Trabalho com esse sistema por uma questão de consciência. Cultivo alimentos que produzem qualidade de vida’, diz.
Adubação verdeOs aproximadamente sete mil pés de café que ele tem em sua chácara recebem adubação verde com plantas como a leucena, flor do mel e bananeira. ‘A leucena fornece nitrogênio para o cafezal, e as demais plantas são ricas em potássio e outros minerais’, explica o produtor rural.
A irrigação é feita com água oriunda de um poço e Moacir verifica seu funcionamento periodicamente. As bandejas que servem para secar o café colhido foram fabricadas pelo próprio cafeicultor, assim como grande parte dos artefatos que facilitam o dia-a-dia no trabalho de sua propriedade.
Além do café, na Chácara Dom Bosco é possivel encontrar mamão, abóbora, abacate e até mandioca orgânica, que ainda está em fase de experimentação. ‘No local onde eu plantei essa mandioca, diziam que a terra só prestava para cemitério’, ironiza Moacir, animado com aprodução.
O café que ele produz é do tipo Catuaí Vermelho, mas o produtor alerta que estudos realizados pela Embrapa Cerrados determinaram que o melhor café para plantio nos solos do DF e Entorno é o Iapar 59. ‘Hoje o pequeno produtor de orgânicos tem apoio, as pesquisas da Embrapa abriram muitos caminhos. Eu estou me preparando para trocar alguns pés mais velhos do meu café por mudas do Iapar 59’, afirma.
Insumos vêm da fazenda
O café orgânico é produzido sem a utilização de defensivos ou de adubos químicos, que são substituídos por produtos da reciclagem vegetal e animal. Para o pequeno produtor, recomenda-se que ele use na adubação insumos que possua em abundância em sua propriedade, como esterco de galinha, de gado, de porco, ou adubação verde, que ocupa lugar de destaque no sistema de produção orgânica.
A adubação verde é caracterizada pela incorporação ao solo de plantas cultivadas com a finalidade de preservar e restaurar a produtividade da terra. Atua positivamente no combate a pragas, doenças e plantas daninhas e contribui, ainda, com o manejo e conservação de solo, recuperação e manutenção da fertilidade, e do potencial produtivo.
A adubação verde proporciona, ainda, maior reciclagem de nutrientes, melhoria da qualidade da matéria orgânica e da atividade biológica do solo, melhorando a infiltração e armazenamento de água, e promove a redução da compactação e erosão do solo.
Algumas leguminosas utilizadas neste tipo de adubação produzem entre 300 a 600 quilos de nitrogênio por hectare ao ano. A leucena Leucaena leucocephala, por exemplo, muito utilizada como forragem, produção de madeira, de carvão vegetal e melhoramento do solo, pode produzir 600 quilos de nitrogênio, quantidade mais do que suficiente para nutrir um cafezal, segundo João Batista. O feijão guandu e a petrósia também são ótimas fontes de nutrientes para o café orgânico.