Produção cafeeira do Vietnã e possíveis impactos da nova safra para o mercado

Cenário de adversidades climáticas e rebaixamento das estimativas para a próxima safra

14 de outubro de 2010 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado
Por: Bureau do Café

Sendo responsável pela segunda maior produção de café do mundo, além de ser o maior produtor mundial em se tratando da variedade robusta, o Vietnã exerce considerável influência nos rumos do mercado cafeeiro internacional. Com um consumo interno que corresponde a apenas 5% de sua produção, o país é um grande exportador da commodity e assim, havendo adversidades climáticas, planos de estocagem, entre outros fatores que possam diminuir a disponibilidade de seus cafés no mercado, os preços, principalmente os do café robusta, podem ser influenciados.


Na safra 2009/2010, a produção do Vietnã girou em torno de 18 milhões de sacas de 60kg, aproximadamente 1,5 milhão de sacas a menos que na safra anterior. Para o próximo ano agrícola vietnamita, que dura de outubro a setembro, segundo autoridade da Associação Vietnamita de Café e Cacau (Vicofa, na sigla em inglês), o volume produzido pode ficar 10% abaixo das 18,72 milhões de sacas previstas pela OIC (Organização Internacional do Café). Ademais, devido ao clima quente e seco que acometeu as regiões produtoras do país, seguido de chuvas muito fortes, a estimativa de exportações para a próxima safra pode ser reduzida de 15% a 20%, devendo atingir cerca de 13,33 milhões de sacas, enquanto a previsão incial era de 16,7 milhões.


Paralelamente a esses números, noticiam-se atrasos, havendo a possibilidade de até um terço dos carregamentos esperados para o mês de setembro não serem disponibilizados no tempo esperado. Isso, segundo comerciantes, se deve ao fato de os estoques domésticos estarem sendo usados rapidamente em razão dos bons preços atingidos em julho, que aumentaram as vendas. O volume dos atrasos deve oscilar de 10 a 20 mil toneladas, tendo em vista que o carregamento do mês de setembro aumentou 57,4% comparativamente ao mesmo período do ano anterior. De acordo com um exportador da província de Dak Lak – que abriga a maior produção do pais – mesmo oferecendo quantias acima dos preços de mercado, não é possível comprar grãos robusta. Uma saída seria comprar dos depósitos construídos no país por companhias estrangeiras, mas ainda assim, além de preços elevados, tem-se uma oferta limitada. Há atrasos também no que se diz respeito à colheita da próxima safra, que deve começar apenas no final de novembro, já que se prevê uma estação chuvosa mais longa.


De acordo com uma autoridade da Vicofa, nas regiões de Gia Lai e Kon Tum – próximas de Dak Lak – a produção pode diminuir em até 20% na próxima safra, sendo essas áreas responsáveis por cerca de 10% da produção vietnamita. \”Teremos mais clareza sobre tais estimativas após observarmos o clima no mês que vem\”, afirmou ele. Além de algumas lavouras de café terem sido danificadas pelas chuvas, os produtores têm usado menos fertilizantes em razão dos altos custos de aplicação, fatores estes que, segundo a autoridade, podem reduzir a produtividade da safra em 2010/11. Ele acrescentou ainda que as plantações também estão envelhecendo, sendo que quase 30% dos cafezais no país têm mais de 20 anos de idade.


Outro aspecto relevante a se destacar é o dos planos de estocagem realizados no Vietnã. O primeiro deles aconteceu entre novembro de 2000 e maio de 2001 e envolveu 60 mil toneladas de café, como parte de um esquema da Associação dos Países Produtores de Café para reter cerca de 20% das exportações. O objetivo desses planos, claramente, é tentar forçar um aumento nos preços da commodity, por isso, o país está considerando um novo plano para estocar até 200.000 toneladas de café e garantir que os preços não despenquem quando a nova safra atingir o mercado em novembro. Na contramão, tem-se que o último plano dessa natureza, aprovado em abril deste ano pelo governo vietnamita, estocou uma quantidade bem menor que a planejada, na medida em que não houve um planejamento efetivo de financiamento para os produtores, e assim sendo, os mesmos acabaram por vender os grãos para cobrir seus custos de produção.


Ademais, tendo em vista o atual cenário do mercado internacional de café, com uma considerável escassez de grãos e, consequentemente, preços elevados, seria prudente questionar a necessidade da realização do plano vietnamita de estocagem. É claro que, como segundo maior produtor mundial, sua safra pode surtir impacto na dinâmica dos preços, no entanto, em contraponto, temos que a Indonésia, responsável pela segunda maior produção de café robusta, também sofreu com adversidades climáticas, o que pode ocasionar uma queda de até 9% em sua produção. Pode-se inferir então, que a força que a escassez dos grãos exerce atualmente requer políticas cautelosas e prudentes de controle dos preços e produção, de modo que os preços não caiam bruscamente, em prejuízo dos produtores, mas que também não falte produto para o consumidor.


Segundo a autoridade da Vicofa, já mencionada acima, os preços globais do grão devem permanecer elevados, tendo em vista os baixos níveis de estoques. O contrato de novembro do café robusta na Bolsa de Londres (Euronext Liffe) fechou cotado a US$ 1.696 por tonelada no dia 29 de setembro, o que representou uma elevação de 4,1% em relação à semana anterior.


 


Marcela Guimarães


Analista do Bureau do Café


Fontes: OIC, Agência Estado, Café Point, Reuters, Valor Online, Cepea, Safras & Mercado, Dow Jones.


 

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