Valor
07/04/2014
Em um estudo realizado a pedido do Conselho Nacional de Café (CNC) para apurar os danos e perdas provocadas pela seca e altas temperaturas este ano no cinturão produtor no país, a Fundação Procafé estima que a safra brasileira do grão este ano (2014/2015) tenha uma quebra aproximada de 14% sobre o volume projetado no primeiro levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para a temporada ? de 46,5 milhões a 50,1 milhões de sacas.
Assim, a produção no ciclo 2014/2015 deverá recuar para um intervalo entre 40,09 milhões e 43,30 milhões de sacas. As perdas variam conforme regiões e condições das lavouras. No Sul e oeste de Minas, as perdas médias são estimadas em 30%, ou 4 milhões a 4,2 milhões de sacas a menos. Na Zona da Mata de Minas, a perda média foi de 19,2% (1,014 milhão de sacas) da colheita esperada antes da seca, conforme o estudo.
No Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba e noroeste mineiro, o regime de chuvas em janeiro e fevereiro, melhor em relação a outras áreas do Estado, e com muitas lavouras irrigadas, a perda média percentual estimada foi de 10 pontos – 630 mil sacas.
Na região dos Vales de Jequitinhonha e de Mucuri e no norte de Minas, na média, chegou-se a uma perda estimada de 12%, equivalente a um intervalo entre 70 e 80 mil sacas.
Com base nos cálculos acima, o principal Estado produtor de café do Brasil registrou perda média levemente superior a 22% em relação ao primeiro levantamento da Conab, com sua produção sendo prevista, agora, entre 19,77 milhões e 20,97 milhões de sacas.
No Espírito Santo, os especialistas da Procafé relataram que as regiões cafeeiras tiveram condições climáticas um pouco mais favoráveis do que as demais analisadas. Primeiramente, em dezembro de 2013, quando houve excesso de chuvas (mais de 500 milímetros), causando graves enchentes, em especial nas partes central e norte do Estado. Seguiram-se precipitações regulares na região mais baixa e mais ao norte, onde se cultiva o café robusta, que, portanto, não sofreu perdas consideráveis, por isso a variedade não foi objeto de avaliação.
No que diz respeito ao café arábica, foi registrada uma quebra média de 11% nos cafeeiros capixabas, representando cerca de 300 mil sacas, o que reduziu a produção total para valores entre 2,47 milhões e 2,73 milhões de sacas.
Em São Paulo, as principais perdas ocorridas nos cafezais paulistas foram registradas na região da Mogiana, o que conduziu a redução no Estado para um percentual de 10 pontos, ou entre 250 mil e 300 mil sacas a menos. Dessa forma, a nova projeção passou a ser de 3,95 milhões a 4,40 milhões de sacas.
Os pesquisadores da Fundação Procafé explicam que o efeito da seca e das altas temperaturas foram mais acentuados nos cafezais com menor nível tecnológico, nos quais o produtor utilizou poucos insumos, principalmente os fertilizantes, devido aos preços baixos do mercado antes da estiagem.
A avaliação foi realizada pela equipe de técnicos especializados em cafeicultura da Procafé, visando estimar os reflexos da estiagem e do forte calor em relação aos aspectos vegetativos e produtivos das lavouras, o que gerou “chochamento” dos grãos (ficam ocos por dentro) e redução do tamanho e do peso dos frutos.
O trabalho, em nível de campo, ocorreu ao longo de março, após a retomada de precipitações suficientes para o retorno do processo fisiológico normal dos cafeeiros, cessando, portanto, a maior parte dos efeitos do veranico. A Fundação Procafé é uma instituição participante do Consórcio Pesquisa Café, coordenado pela Embrapa Café.
Para a safra 2015, a expectativa inicial, com o reflexo residual da seca e em função da observação dos ciclos produtivos das distintas regiões, espera-se que o Brasil colha de 38,7 milhões a 43,6 milhões de sacas, caracterizando nível baixo, semelhante ao que se espera na safra atual após os efeitos do veranico.
Para a definição de qual das pontas desse intervalo será alcançada na temporada seguinte, pesará a recuperação hídrica na pós-estiagem, por meio de chuvas normais em março, abril e maio, de forma a favorecer a recomposição da folhagem, em final de ciclo de crescimento, e o sistema radicular danificado.
Os pesquisadores da Fundação Procafé informaram que, em março, algumas áreas ainda não voltaram ao regime pluviométrico normal, verificando-se chuvas totais na faixa de 70 a 100 milímetros, volumes insuficientes para a recomposição de água armazenada em maior profundidade no solo, fato que poderá afetar diretamente a indução floral, já em curso, e, indiretamente, o “pegamento” da florada, via desfolha das plantas.
A equipe da Procafé utilizou-se de metodologia realista e analisou lavouras nas diversas regiões produtoras de Minas Gerais, Espírito Santo e São Paulo, onde o impacto do veranico e das altas temperaturas foi mais significativo na safra a ser colhida.
Já o Grupo Técnico de Café, formado por 170 engenheiros agrônomos e especialistas no setor cafeeiro, calcula uma quebra média de 17% na safra brasileira do grão 2014/15 em função da seca, tomando por base o levantamento da Conab. A perda equivale a entre 6 milhões e 7 milhões de sacas de 60 quilos na produção nacional, número considerado significativo pelo mercado.
O levantamento foi feito em algumas regiões produtoras no país, que representam 1,6 milhão de hectares perante a área atual total de 2,2 milhões de hectares.
As perdas, porém, variam de região e de acordo com as condições de lavouras. Foram verificadas perdas de até 100% em lavouras novas de café, mas em alguns locais praticamente não houve danos com o clima desfavorável. A região mais afetada foi o Sul de Minas, com quebra de 30% na região.
Por outro lado, pode haver mais quebra na produção se não chover de forma satisfatória no inverno, diz um representante do grupo. Entretanto, chuvas acima da média no inverno podem prejudicar a colheita.
Para a safra 2015, o grupo técnico não traz estimativas.