Problemas do Brasil são temporários, diz CEO da Nestlé

19 de dezembro de 2014 | Sem comentários Análise de Mercado Mercado

EXAME

O presidente mundial da Nestlé, Paul Bulcke


 
Paul Bulcke: ele disse esperar mudanças na política econômica brasileira que incentivem competitividade industrial

Tatiana Bautzer, de Revista EXAME 


 São Paulo – O presidente mundial da Nestlé, Paul Bulcke, considera que a economia brasileira está passando por problemas temporários, que não afetam decisões de investimento de longo prazo.


Bulcke lançou hoje a pedra fundamental da primeira fábrica de cápsulas de café fora da Europa, na cidade mineira de Montes Claros, que demandará investimentos de 200 milhões de reais.


Numa entrevista concedida a EXAME na sede da companhia, na zona sul de São Paulo, Bulcke disse esperar mudanças na política econômica brasileira que incentivem a competitividade industrial. A seguir, os principais trechos da entrevista.


EXAME – Vocês estão fazendo um novo investimento num momento em que a economia brasileira está praticamente parada. O PIB no país deve crescer cerca de 0,1% este ano e menos de 1% no ano que vem. Isso não preocupa a companhia?


Paul Bulcke – Estamos há quase 100 anos no país. Há muitos países com bons e maus momentos. Quando uma empresa se compromete com um país, é algo profundo e de longo prazo.


Por isso estamos começando a construir a primeira fábrica de cápsulas fora da Europa da marca Nescafé Dolce Gusto. Essa é uma marca que vai muito bem no Brasil.


A situação econômica mais difícil, a meu ver, é temporária, e uma empresa como a nossa tem que superar isso, não deixar de investir e esperar que tudo fique perfeito. Porque nunca existem as condições totalmente ideais.


O que temos que fazer é criar valor para a companhia. Temos confiança no país e na nossa relação com o consumidor brasileiro.


EXAME – Quais são os segmentos que a Nestlé considera mais promissores no mercado brasileiro?


Bulcke – Esta área de bebidas em cápsulas, de café, cresce muito. Esse conceito do café em cápsulas é novo, e vai muito bem, mas também está começando.


O Brasil é o primeiro produtor de café do mundo, mas o consumo ainda é baixo per capita, vemos uma oportunidade de expansão deste consumo, e o investimento nesta fábrica se insere nesta perspectiva.


Mas também temos linhas que crescem muito, como as de fórmulas infantis, laticínios, a área culinária. Temos marcas que vão muito bem aqui, como Garoto, Kit Kat, Nesfit, os refrigerados, cereais.


EXAME- O baixo crescimento da economia brasileira afeta pouco a Nestlé?


Bulcke – Claro que não estamos isolados, sempre temos que ficar atentos e acompanhar o comportamento do poder aquisitivo do consumidor.


Fizemos isso há dez anos no Nordeste, desenhando um portfólio diferente para uma população com poder aquisitivo e preferências específicas.


Não somos uma empresa estrangeira, nos sentimos brasileiros e temos produtos e marcas brasileiras, como o Leite Moça, o Nescau, por exemplo.


EXAME – Vocês estão voltando às aquisições no Brasil? Depois de muito tempo depois da briga judicial pela compra da Garoto, a empresa voltou a avaliar ativos como a empresa de lácteos da BRF e acaba de anunciar que a sua controlada farmacêutica Galderma está comprando uma fabricante brasileira de dermocosméticos, a Moderm.


Bulcke – Estamos sempre olhando oportunidades de aquisição, mas temos uma base grande no país também para crescer organicamente. Temos boas marcas e presença importante em muitas categorias.


Quando há uma oportunidade, temos alguns critérios. Só compramos se a empresa se adequa à nossa estratégia, ser um bom negócio – não compramos problemas. E, em terceiro lugar, tem que estar de acordo com nossos princípios.


EXAME – O que o senhor espera da nova política econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff?


Bulcke – Não vou dizer nada novo. O Brasil tem um problema de infraestrutura claríssimo, temos que investir nisso. São investimentos de longo prazo, mas precisam começar hoje.


A complexidade da legislação do país é muito grande, excessiva. Precisamos de vontade política de fazer o que todos sabemos que é necessário. Mas as mudanças provocam frustração e dor, é preciso fazer sacrifícios.


É necessário que haja vontade política, acima dos conflitos de curto prazo entre os partidos. Espero que a política faça o seu trabalho.


Estamos vendo iniciativas importantes anunciadas pelo novo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Esperamos que elas não fiquem apenas nas palavras.

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