Comentário Semanal – de 11 de 15 de maio de 2015
PREVISÕES QUE SE DISTANCIAM EM 10 MILHÕES DE SACA NO MESMO DIA
O índice do dólar americano retomou a tendência negativa iniciada no dia 13 de abril último ajudado pelo indicador de venda no varejo americano mais fraco e também sentindo o efeito de cobertura de posições dos investidores que estavam (ainda mais) comprados na moeda americana.
O arrefecimento da economia chinesa provocou mais um corte dos juros no país com expectativas de que mais medidas de expansão monetária sejam postas em prática em breve. Na Europa a situação Grega sinaliza melhora, ainda que sem fatos materiais relevantes – ao menos noticiados.
As commodities tiveram uma semana positiva com uma contribuição importante da queda da moeda americana e tendo o gás natural e a prata ganhado quase 8%, seguidos com altas de 6.24% do trigo, 4.22% do cacau e 3.57% do ouro. Dos componentes do CRB só o suco de laranja, o açúcar, a soja e o níquel fecharam no vermelho.
O café teve sessões enfadonhas, com baixo volume, mas ao mesmo tempo no final dos últimos cinco dias encerrou com uma cara tecnicamente positiva – ainda que limítrofe. O real mais firme, a pouca venda de origens, e talvez uma interpretação questionável da possibilidade do El Nino foram sinais que ao menos deram algum suporte aos preços.
As chuvas que são esperadas para o fim de maio na principal origem produtora do arábica pode ser um ponto altista que os bulls não estão errados em levar em consideração. Já sobre o fenômeno que aquece as águas do pacífico os efeitos que se esperam de chuvas no Brasil de fato acontecem, mas segundo diversos estudos, nas áreas abaixo de Curitiba. Para outros países produtores gera seca – eu só não sei se quem compra a notícia está olhando para a falta de chuva em outras origens ou o excesso na região Sul Brasileira.
O mercado físico não mudou muito em termos de movimentação, ainda que possa se notar diferenciais mais próximos dos interesses de compra dos torradores e dealers internacionais. No Vietnã as idéias de preços dos produtores já não estão mais na casa dos US$ 2000.00 por tonelada, e se a bolsa não subir logo, junto com uma maior disponibilidade de cafés da Indonésia, é provável que fixações de preço sejam encontradas a partir de US$ 1800/ton.
Os estoques de café nos Estados Unidos em Abril, divulgados pelo GCA (Green Coffee Association), subiram 168,969 sacas para 5.2 milhões de sacas, ou 51, 520 sacas abaixo do mesmo período de um ano atrás. Por outro lado os certificados da bolsa de Nova Iorque (que inclui armazéns europeus), cederam um pouco mais estando agora em níveis de outubro de 2012, ou 2,185,299 sacas.
Por falar em estoques, o USDA divulgou dados da cafeicultura brasileira prevendo que o estoque de passagem no final de junho próximo será de 4,289 sacas – número que é positivo para os preços. O órgão estima que o Brasil produzirá 52.40 milhões de sacas na safra 15/16, sendo 38 milhões de arábica e 14.4 milhões de conilon. No ano corrente, 14/15, a entidade diz que a colheita foi de 51.2 milhões de sacas (34.2m de arábica e 17m de conilon). Mais um do time que “confirma” um potencial de produção de arábica maior – apesar da seca do ano passado.
O curioso, e ao mesmo tempo passível de discussões infindáveis, é que no mesmo dia o IBGE soltou sua estimativa prevendo a produção de 42.4 milhões de sacas, divididas em 31.4 de arábica e 11 de conilon. A diferença é de incríveis 10 milhões de sacas entre as duas autarquias, ou quase o equivalente a produção do quarto maior produtor do mundo. Não faço aqui julgamento a favor de um ou de outro, mas não posso deixar de novamente dizer que se “plugarmos” o consumo e a exportação local de nosso país, e considerarmos o número do IBGE e da CONAB, falta café.
Por sinal imagina se um determinado setor queira defender a importação de café, como fica relativamente mais fácil usar em sua defesa a “necessidade” do país em trazer mais matéria-prima para a indústria torrefadora, quando a produção “não consegue” abastecer a demanda local e internacional…
Sei que é um comentário que dá pano para manga, mas não se pode ignorar os fatos, e principalmente tentar visualizar e analisar tentando se colocar em diferentes cadeiras da cadeia.
Segunda e terça-feira o setor se encontra para o mais charmoso evento de café no mundo, o Coffee Dinner organizado pela CECAFÉ. Talvez eu esteja falando como um brasileiro saudoso e apaixonado, que está morando há muito tempo fora do Brasil, mas convenhamos: que outro lugar de encontro dos profissionais de café é mais rico historicamente para esta commodity, e ao mesmo tempo tão bonito e bem mantido como a Estação Júlio Prestes com sua magnífica Sala São Paulo, aonde, inclusive, vimos uma das últimas apresentações do mestre Jair Rodrigues na edição passada??
Nos vemos lá!
Uma ótima semana e bons negócios a todos,
Rodrigo Costa*
*Rodrigo Corrêa da Costa escreve este relatório sobre café semanalmente como colaborador da Archer Consulting