Previsão de paridade entre euro e dólar ressurge com ação do BCE

Valor Econômico
09/03/15


A campanha de Mario Draghi para levar o Banco Central Europeu (BCE) a uma nova era em matéria de política monetária está reacendendo as previsões de que o euro se desvalorizará até atingir a paridade com o dólar.


A moeda comum de 19 países caiu para menos de US$ 1,10 pela primeira vez em mais de 11 anos na quinta-feira, quando o presidente do BCE apresentou detalhes sobre as compras de dívida soberana planejadas para deter a ameaça da deflação e restabelecer o crescimento econômico na zona do euro. As opções mostram que os investidores estão ficando ainda mais baixistas em relação à moeda comum.


O Royal Bank of Scotland (RBC) disse que é possível que o euro caia e atinja a paridade já no próximo mês, depois que Draghi chamou o programa de compras de bônus de “conjunto final de medidas” do BCE. Isso poderia fazer com que a moeda desvalorizada seja a principal ferramenta de estímulo quando os governos da zona do euro implementarem medidas de austeridade e reformas econômicas.


“Não temos créditos bancários, nem investimentos corporativos, nem investimentos do governo – dependemos de que a taxa de câmbio dê conta do recado -“, afirmou Alberto Gallo, diretor de pesquisa macroeconômica sobre créditos no Royal Bank of Scotland, com sede em Londres, em entrevista à Bloomberg Radio no fim da semana passada. “Definitivamente, o euro está sendo pressionado para se desvalorizar ainda mais rumo à paridade no mês que vem”.


A média de estimativas de 93 previsões em uma pesquisa da “Bloomberg” é que o euro encerre o ano a US$ 1,10, em comparação à cotação de US$ 1,18 projetada no começo deste ano.


Os bônus dos governos da zona do euro passaram por um rali, e a moeda despencou quando Draghi disse que o plano de aquisição de dívida de ? 1,1 trilhão não incluiria títulos com yields (retorno ao investidor) inferiores à sua taxa de depósitos, de -0,2%, incentivando a demanda por dívida com vencimentos mais prolongados.


A aceleração do estímulo se dá ao mesmo tempo em que o Federal Reserve (Fed) se prepara para aumentar as taxas de juros quase zeradas pela primeira vez desde a crise financeira mundial, o que tornará mais atraentes os ativos denominados em dólares.


“A taxa de câmbio entre o euro e o dólar com certeza vai cair”, disse Chris Turner, diretor de estratégia cambial do ING Groep em Londres. “E se, como esperamos, as taxas de curto prazo dos EUA começarem a subir rapidamente nos próximos meses”, é possível que a paridade seja atingida até o fim do ano, disse ele.


A moeda comum, que se desvalorizou durante oito meses consecutivos, foi negociada abaixo da paridade pela última vez em dezembro de 2002. O euro atingiu o valor mínimo recorde de 82,30 centavos de dólar em outubro de 2000.


O Barclays e o TD Securities Inc. são alguns dos bancos consultados em uma pesquisa da “Bloomberg” que afirmam que a cotação do euro cairá para US$ 1 até o fim deste ano. O Morgan Stanley, o Goldman Sachs e o Citigroup estimam que a paridade será atingida até 2016.


O custo adicional de se proteger contra declínios no euro, em comparação com o custo de se proteger contra ganhos, mais do que dobrou nos últimos seis meses, para uma brecha de 1,8 ponto porcentual na quinta-feira, mostram as taxas de swap de três meses. Os operadores estão mais baixistas em relação ao euro do que em relação a qualquer outra moeda de importância de um país desenvolvido, excetuando se a Suécia e a Noruega.


Ao analisar os dados econômicos, os estrategistas encontram muitas razões para ser baixistas. Os preços ao consumidor na zona de 19 países caíram 0,3% no mês passado, e os preços ao produtor recuaram 0,9% em janeiro, o que destaca o risco de deflação para o bloco monetário.


“Isso confirma os motivos que nos levam a adotar uma posição baixista em relação ao euro”, disse Shahab Jalinoos, diretor de estratégia cambial internacional do Credit Suisse em Nova York. “Na verdade, passamos por um longo período de consolidação do euro, quando a moeda não foi a lugar nenhum. Isso deu tempo para que o mercado recarregasse suas armas para vender euros”.

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