Ele ajuda a reduzir os níveis de colesterol ruim, contribui no combate à depressão, diminui os riscos de problemas coronarianos e diabetes e previne demências e o Mal de Alzheimer, além de proteger o fígado contra a cirrose. Não, não se trata de mais uma nova droga recém-lançada pelas grandes indústrias farmacêuticas, nem de uma fórmula milagrosa que vez por outra aparece se propondo a curar todas as mazelas do corpo. Longe disso, um velho conhecido – na verdade um hábito para lá de antigo que há séculos acompanha a humanidade – acaba de ser alçado da posição de vilão ao mais novo aliado da saúde: o nosso prosaico cafezinho.
De um simples prazer, a bebida campeã de popularidade no mundo todo ganhou, pela mão de pesquisadores, mil e uma utilidades. E à medida em que avançam os estudos, cresce na mesma proporção o rol de benefícios atribuídos à aparentemente simples infusão de água com o pó escuro, resultado da torrefação e posterior moagem do grão do café.
E para quem mantém o pé atrás para esta reviravolta, os indícios de que as maravilhas do café podem ir muito mais além do que o mero prazer em saborear e sentir o cheiro de um expresso bem tirado acabam de ganhar uma rubrica de peso. Há dois meses, foi assinado entre a Fundação Zerbini, vinculada ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, e a Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) um protocolo de intenções para a criação da Unidade Pesquisa Café-Coração do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo (Incor). O centro deve iniciar suas atividades ainda este ano.
Tanto interesse acerca do tema tem o respaldo científico de estudos já concluídos que, além de descobrirem novas utilidades para o nosso cafezinho, fizeram cair por terra mitos como os efeitos nocivos da bebida no aumento da pressão arterial, na alteração do sono e em problemas cardíacos. ‘Já não há mais motivos para aconselhar a interrupção do consumo de café para os pacientes’, atesta o coordenador da Unidade Café-Coração, Luis Cesar.
Como base para esta afirmação, estão estudos feitos no Brasil e no exterior. Um deles, levado a cabo nos EUA e batizado de pesquisa das enfermeiras – profissão do grupo populacional observado – concluiu que as consumidoras regulares do café apresentaram uma taxa menor de depressão e suicídios. Avaliações parecidas também dão conta de que o consumo moderado de café protege contra demências e reduz o risco de alcoolismo e vício em drogas. E até os alcoolistas contumazes receberam uma boa notícia na semana passada: de acordo com pesquisas, o café se mostrou eficaz na proteção do fígado contra a cirrose. Mas tais benefícios, salientam os especialistas, são comprovados em pessoas que costumam não exceder as quatro xícaras da bebida por dia.
Fã confessa de um cafezinho, a cardiologista Fátima Lôbo engrossa o coro. ‘Não contra-indico o consumo de café para os meus pacientes, contanto que não se exagere. Até três xícaras por dia não vão fazer mal nenhum’. Ela ressalva, entretanto, que o excesso pode, sim, trazer problemas. ‘O abuso é prejudicial, principalmente para pessoas ansiosas ou que têm gastrite. Muito café também pode provocar taquicardia. O segredo é moderar, tornar o hábito de tomar café um prazer. Saborear um café é como tomar um vinho’, ensina.
Para a fisioterapeuta Daniela Wanderley, a hora do café é um momento sagrado do seu dia. ‘O café para mim é um vício e funciona como o meu estimulante. Durante os plantões e principalmente depois do almoço, ele é indispensável e além de me manter em alerta, sei que ele faz muito bem’, diz ela