O movimento deflagrado na semana passada pelo Conselho Nacional do Café (CNC) pela conversão do estoque da dívida de R$ 6 bilhões em Cédulas do Produto Rural (CPR) é um sinal de que a pressão da cafeicultura sobre o governo deve crescer neste ano eleitoral. E a pressão maior vem de Minas Gerais, mais especificamente do sul do Estado, onde o setor tem grande força política e justamente onde a questão do endividamento é mais preocupante. Por sua importância socioeconômica e poder de voto, a cafeicultura consegue agregar todos partidos políticos em Minas Gerais.
Uma das tradicionais lideranças do setor, o deputado federal Silas Brasileiro (PMDB-MG), que até o início do ano passado era secretário-executivo do Ministério da Agricultura, portanto um dos responsáveis pela política agrícola, escreveu artigo recente em que critica a falta de foco do governo para resolver os problemas da cafeicultura. O deputado tem uma proposta para reverter a atual situação de baixa renda da cafeicultura. Ele defende a elevação do preço mínimo de garantia para R$ 320,00/saca, o que possibilitaria remunerar o custo de produção.
Brasileiro diz que não é contra a revisão e transformação das dívidas defendidas pelas lideranças da cafeicultura, mas entende que se a questão da renda não for resolvida o problema do endividamento nunca terá fim. Na opinião do deputado, as lideranças e técnicos devem convencer o Poder Executivo a colocar o preço mínimo do café em linha com o custo de produção e que isto não irá gerar um movimento de venda dos produtores ao governo, por uma razão muito simples, o mercado não irá permitir que isto ocorra.
O ponto comum nas duas propostas é que ambas passam pelos cofres públicos, pois se o governo sinalizar com o preço mínimo terá que honrar os valores e se converter as dívidas em CPR terá de contar com uma fonte de recursos para quitar os financiamentos junto aos agentes financeiros. Elevar artificialmente o preço do café é negar as forças que regem o mercado, cuja precificação se dá por meio dos contratos futuros negociados nas bolsas, seja em Nova York , Londres ou na BM&FBovespa. Os cafeicultores, a exemplo de muitos produtores rurais, lamentam que os deputados não consigam derrubar a lei de oferta e demanda. No caso do café, não é por falta de tentativas.