Preservação ambiental não restringe a produção leiteira

MERCADO
01/07/2010 
  

 
 
MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI
ESPECIAL PARA A FOLHA

O agronegócio brasileiro vem evoluindo de forma surpreendente nas últimas décadas, permitindo ao país galgar espaço no mercado mundial.


Somos os maiores produtores e exportadores de café, de açúcar e de suco de laranja e os maiores exportadores de carne de frango, de soja, de tabaco e de etanol.


São setores do agronegócio brasileiro com alta tecnologia, gestão, produtividade e qualidade do produto final.


Essa tendência não é diferente na pecuária de leite. Mas ainda utilizamos extensas áreas de pastagens nativas. Somado a isso, em muitas propriedades a produção de leite não é a principal atividade econômica.


O bovino sempre foi utilizado para ocupar o espaço que não é usado pela agricultura. Assim, o produtor possui uma vaquinha para leite ou um boizinho para carne.


Em decorrência dessas condições e do baixo nível tecnológico, a produtividade média é baixa, com reflexos negativos sobre a renda dos produtores.


Com a expansão da agricultura nacional, os concorrentes da pecuária de leite não são somente os países exportadores, como os da União Europeia, a Nova Zelândia ou a Argentina.


Aparecem nesse cenário, no Brasil, as culturas de grãos e da cana-de-açúcar avançando sobre áreas de pastagens pouco produtivas e degradadas.


Na última década, ocorreram inúmeras liquidações de rebanhos leiteiros, principalmente no Estado de São Paulo. Na época, houve a preocupação no setor de que haveria redução da produção leiteira. Mas o que ocorreu foi a migração do leite para regiões até então não tradicionais, como o Centro-Oeste e parte do Norte.


Felizmente, a evolução da bovinocultura de leite não é horizontal, por meio da incorporação de áreas agrícolas ou pela derrubada de matas, mas sim vertical, pela incorporação de tecnologias, como a recuperação de áreas degradadas e da fertilidade do solo.


Também colaboram para essa evolução o manejo intensivo de pastagens, o confinamento, a utilização de modernas técnicas reprodutivas e o cruzamento de raças especializadas.


Isso é comprovado com a crescente produção nacional, de cerca de 4% ao ano, enquanto a área de pastagens diminuiu cerca de 3% na última década.


O resultado dessa especialização será a produção eficiente de leite em áreas menores, disponibilizando parte das pastagens para a agricultura e reduzindo o avanço da pecuária sobre áreas de vegetação nativa.


Isso virá a facilitar o atendimento das exigências legais na área ambiental sem comprometer a renda e a viabilidade da propriedade rural no país.


MARCO AURÉLIO BERGAMASCHI é médico veterinário, doutor e supervisor do sistema de leite da Embrapa Pecuária Sudeste.

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