28/12/2012
Preços dos grãos têm marca histórica em 2012
Por Fernando Lopes, Gerson Freitas Jr., Fernanda Pressinott e Mariana Caetano | De São Paulo
Para produtores, tradings e consumidores de grãos, 2012 será um ano difícil de esquecer. A quebra da produção na América do Sul (safra 2011/12) e nos Estados Unidos (ciclo 2012/13) colocou os preços em níveis históricos. Em Chicago, os contratos de soja e milho atingiram o maior valor médio anual da história e os de trigo só ficaram aquém dos patamares de 2008.
Mesmo com os sustos gerados pela crise europeia, a vacilante recuperação americana e os temores de uma forte desaceleração chinesa, a redução da oferta em virtude de severas estiagens abaixo e acima do Equador deprimiram as relações globais entre estoques e consumo, sobretudo de milho e soja, e garantiram as altas.
Com o escoamento da safra americana de 2012/13 – mesmo menor – e a expectativa de uma grande produção na América do Sul, as cotações perderam força nos últimos meses. Contudo, a maior parte dos analistas não vê espaço para quedas agudas em meio à expectativa de recuperação, ainda que modesta, da economia mundial no ano que vem.
De acordo com os cálculos do Valor Data baseados nos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez), a soja foi a commodity mais “beneficiada” pela seca. A oleaginosa fecha 2012 com preço médio anual de US$ 14,5830 por bushel, 10,22% mais que em 2011. Até ontem, o preço médio de dezembro (US$ 14,449) era 26,21% superior ao registrado um ano antes.
O resultado foi garantido pela escalada dos preços no terceiro trimestre, quando os problemas com a safra dos EUA ficaram evidentes. No período, a cotação média do grão chegou a US$ 16,5250 por bushel, tendo recuado para US$ 14,82 nos três meses seguintes.
O preço médio anual do milho subiu apenas 0,41% em relação a 2011, para US$ 6,8530 por bushel, mas a commodity acumulou alta de 18,76% nos 12 meses até dezembro. Se a soja foi o produto que mais subiu, o milho foi o que mais surpreendeu neste ano. Ao fim do primeiro semestre, os preços amargavam queda de 12,7% ante à média dos seis primeiros meses de 2011 – à época, o mercado precificava a expectativa de uma safra recorde nos EUA.
Com a estiagem americana e uma perda de mais de 100 milhões de toneladas, os preços dispararam no terceiro trimestre, tendo alcançado US$ 8,0858 por bushel em agosto. Desde então, os preços cederam e devem encerrar dezembro perto de US$ 7,25 por bushel.
Embora tenha um calendário agronômico distinto, o trigo acompanhou a tendência ditada pela soja e o milho, uma vez que o cereal pode substituir esses grãos como matéria-prima para a produção de rações. A média anual do cereal (US$ 7,64 por bushel) em 2012 superou em 3,29% a de 2011, mas o preço em dezembro (US$ 8,2443 por bushel) é 32,53% maior que o registrado no fim do ano passado.
Nesse contexto, os fundamentos comprovaram uma vez mais que são capazes de “desafiar” a crescente “financeirização” do mercado de commodities e guiar os investimentos especulativos – mais cautelosos neste ano -, e não viver a reboque desse tipo de aposta.
Para 2013, preveem os analistas, a tendência é de acomodação nos preços dos grãos em meio à expectativa de recuperação na oferta. Contudo, o baixo nível dos estoques globais deve deixar o mercado volátil e sensível às variações do clima. Após um 2012 desastroso, praticamente não há espaço para perdas de produção no próximo ano.
Se o ano foi de alta nos preços dos grãos, as “soft commodities” da bolsa de Nova York caminharam na direção oposta em um ano marcado por aumento acima do esperado na produção e demanda anêmica – as “softs” são mais suscetíveis que os grãos às turbulências macroeconômicas, uma vez que possuem uma demanda mais elástica.
Com uma relação entre estoques e consumo bastante confortável, o algodão é o destaque negativo de 2012. A média anual dos contratos de segunda posição do produto fecha o ano com baixa de 38,97% sobre 2011 em Nova York. Nos 12 meses encerrados em dezembro, a desvalorização acumulada foi de 15,13%.
Açúcar, café, cacau e suco de laranja também registraram recuos expressivos em suas médias anuais. No café, o preço médio anual foi 30,41% inferior ao de 2011 e a desvalorização acumulada nos 12 meses, de 34,42%. No entanto, a expectativa de queda na relação entre estoques e consumo (que dependerá do ritmo de crescimento da economia global) pode abrir as portas para alguma recuperação de preços em 2013.
O suco de laranja amargou mais um ano de queda da demanda global e de superoferta da fruta no Brasil. Em 2012, o preço médio anual caiu 20,02%. Segundo analistas, o quadro não deverá mudar muito em 2013, até porque as primeiras previsões sinalizam que a próxima safra paulista será novamente grande.
No mercado de açúcar, as perspectivas também são baixistas em virtude da recomposição da oferta mundial após colheitas maiores do que o esperado no Brasil e em outros grandes produtores. Em 2012, o preço médio da commodity recuou 16,95% em Nova York.
Finalmente, o cacau encerra 2012 com queda de 20,32% no preço médio anual, com oferta folgada e relativa tranquilidade no frequentemente conturbado ambiente político da Costa do Marfim, maior produtor mundial da commodity.
BM&FBovespa vê maioria das commodities caírem no ano
Por De São Paulo
A maioria das commodities agrícolas negociadas no mercado futuro da BM&FBovespa fechou 2012 no vermelho. Os contratos de boi gordo, café arábica e etanol terminam o ano com médias de preço inferiores à registrada nos 12 meses anteriores, embora o milho tenha ficado estável e a soja tenha subido.
Produto com pior desempenho no ano, o café arábica desabou 30,85% em relação à média de 2011, para US$ 228,29 por saca. Já o preço médio de dezembro (US$ 187,22) foi 37,47% inferior ao registrado no mesmo período do ano passado – e o mais baixo desde junho de 2010.
O contrato negociado na bolsa paulista acompanhou de perto a tendência observada em Nova York, principal praça de negociação do café arábica. A colheita de uma safra recorde no Brasil (maior produtor mundial da commodity) e o enfraquecimento da demanda internacional pesaram sobre os preços no mercado futuro.
A expectativa é que, com a colheita de uma safra menor em 2013 (ano de baixa produtividade no ciclo bianual dos cafezais brasileiros), as cotações possam se recuperar nos próximos meses.
Outro destaque de baixa foi o boi gordo. O preço médio da commodity em 2012 (R$ 96,11 por arroba) foi 5,26% menor do que o apurado no ano passado, enquanto a média de dezembro (R$ 94,60) representa uma queda de 3,58% ante o mesmo período do ano passado.
Os contratos futuros de boi gordo refletiram a maior disponibilidade de gado para abate no ano que marcou a virada do chamado “ciclo pecuário” no Brasil. Isso porque, com a queda nos preços do bezerro, pecuaristas começaram a destinar mais vacas para o abate, ampliando a oferta como um todo. O momento é particularmente favorável para a indústria frigorífica, que passou a pagar menos pela matéria-prima responsável por 70% dos custos de produção.
Já o preço médio anual do etanol recuou 3,37%, para US$ 1.166,52 o metro cúbico, enquanto a média de dezembro (US$ 1.177,97) foi 9,12% mais baixa que a registrada um ano antes. A desvalorização do biocombustível deve-se, em grande parte, ao aumento acima do esperado na produção brasileira de cana-de-açúcar na safra 2012/13 – fator que, em boa medida, também explica a recente queda nos preços internacionais do açúcar.
Em contrapartida, os futuros de grãos registraram valorização na bolsa paulista. O preço médio anual da soja subiu 7,61% (a US$ 31,73 por saca), sendo que o preço em dezembro (US$ 30,52) é 16,14% mais alto que o registrado 12 meses antes. Já os futuros de milho caíram 0,07% na média anual, mas subiram 24,53% nos 12 meses encerrados em dezembro. Na média, a commodity foi negociada a R$ 29,09 por saca em 2012 e R$ 32,39 em dezembro.
Os futuros de grãos negociados em São Paulo atingiram as máximas do ano em agosto e, desde então, encontram-se em queda. Neste momento, pesa sobre os preços a expectativa de uma colheita recorde de soja em 2013 e também uma grande produção de milho, embora provavelmente inferior à de 2012. A confirmação de uma safra cheia depende, porém, do comportamento do clima nos próximos meses. (GFJ)