Os preços do café arábica, apreciado por seu sabor suave por torrefadores sofisticados, como a cafeteria norte-americana Starbucks, atingiram no mês passado o nível mais baixo em sete anos depois que uma safra cheia sul-americana chegou ao mercado.
Mas investidores estão atentos às cotações do café arábica em relação ao café de qualidade inferior, da variedade robusta. Durante vários anos, o arábica foi negociado com um grande prêmio em relação ao robusta, mas, no início deste mês, a diferença de preços entre os dois tipos de grãos caiu para US$ 0,28 centavos por libra – a menor desde outubro de 2008.
Alguns investidores veem a convergência nos preços como um sinal para apostar numa reviravolta no mercado do café arábica, que movimenta US$ 6,3 bilhões por ano. O motivo: os torrefadores provavelmente vão incluir mais grãos do arábica em suas misturas, se os preços do arábica e robusta estiverem quase idênticos. Quando os preços de referência chegam a uma diferença de US$ 0,30 a libra, isso significa que grãos arábica mais velhos, de menor qualidade, estão mais baratos do que o robusta nos mercados físicos, explica Ross Colbert, estrategista do Rabobank.
Qualquer aumento na demanda pelos torrefadores ajudaria a reduzir a oferta excedente de café arábica e elevar os preços, dizem analistas e investidores. Na sexta-feira, os contratos futuros de arábica para entrega em março subiram 3,6%, para US$ 1,1525 por libra, a maior alta em quase dois meses, na bolsa americana de futuros ICE. Os contratos futuros de robusta na bolsa NYSE Liffe subiram 1,4 %, para US$ 1.799 a tonelada, o valor mais alto desde 21 de agosto.
Shawn Hackett, presidente da Hackett Financial Advisors, corretora e consultoria da Flórida que administra uma carteira de cerca de US$ 20 milhões fez apostas de que o mercado de arábica se beneficiaria de um aumento dos preços. “Quando a produção de robusta for pequena, para onde eles irão? Ao arábica de baixa qualidade”.
O aumento dos preços do café podem levar meses para serem sentidos pelos consumidores de cappuccinos e expressos. As torrefadoras costumam comprar café muito antes de a safra ser colhida. Os grãos também são apenas uma parte do custo que os consumidores de café pagam. Nas lojas da rede Starbucks, por exemplo, o café representa apenas de 8% a 10 % das despesas operacionais.
Investidores de commodities vêm reduzindo as apostas pessimistas em relação ao café arábica nas últimas semanas. No total, as apostas de que os preços recuariam caíram 26%, para 23.002 contratos, desde que o número de apostas pessimistas atingiu, em 5 de novembro, seu nível mais alto desde pelo menos 2006, de acordo com a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities dos Estados Unidos.
Joseph Fernandes III, vice-presidente da torrefadora e trading norte-americana Socafe, em New Jersey, disse que começou a receber telefonemas em setembro de torrefadores interessados em mudar do café robusta para o arábica. Desde então, a maioria de seus clientes alterou a quantidade de cada tipo de grão em suas misturas em favor do arábica.
Ele disse que várias das empresas de café com que trabalha tinham mudado para o robusta em 2011, quando os grãos de arábica custavam mais de US$ 3 a libra, muitas vezes chegando a custar quase US$ 2 a mais que o robusta. Agora, porém, “o robusta está muito caro”, diz Fernandes. “Você vê um monte de empresas de café voltando para suas formulações originais”.
Os preços do café robusta têm subido nos últimos meses depois que um tufão atrasou a colheita no Vietnã, o maior exportador mundial da variedade. Os contratos futuros acumulam alta de 24% desde o início de novembro, antes da tempestade. Alguns produtores de robusta também estão esperando que os preços subam ainda mais antes de vender o produto, o que reduz a oferta mundial. O Vietnã exportou 27 % menos café robusta em novembro em comparação a um ano antes.
Mas o excesso de arábica no mercado mundial é muito grande para ser absorvida por apenas alguns torrefadores aprimorando suas misturas. A Organização Internacional do Café estima que suprimentos globais arábica irão superar a demanda por cerca de quatro milhões de sacas de 60 quilos, no ano comercial que termina em 30 de setembro.
Informações: The Wall Street Journal
Tradução: Fernanda Bellei
Fonte: Notícias Agrícolas