Cotações de cinco das oito principais commodities agrícolas comercializadas pelo Brasil no exterior encerraram fevereiro em patamares inferiores aos observados em janeiro
As cotações de cinco das oito principais commodities agrícolas comercializadas pelo Brasil no exterior encerraram fevereiro em patamares inferiores aos observados em janeiro, em mais uma indicação de que a pressão sobre esses mercados permanece intensa, em consequência de fatores financeiros e ligados a fundamentos de oferta e demanda.
Conforme cálculos do Valor Data baseados nas médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega (normalmente os de maior liquidez) dos produtos negociados nas bolsas de Chicago (soja, milho e trigo) ou Nova York (açúcar, algodão, cacau, café e suco de laranja), apenas soja, milho e suco escaparam da maré baixista no mês passado. Mas foram variações positivas tão modestas que soam como estabilidade, não valorizações.
O dólar forte segue a limitar o espaço para altas expressivas, já que, em princípio, tira competitividade dos produtos americanos. E o dólar forte em relação ao real, particularmente, tem grande peso nos mercados nos quais o Brasil é um grande exportador mundial, como açúcar, café, suco de laranja, soja e milho. E é com essa realidade que os fundamentos convivem.
O contexto ajuda a explicar a queda de 5,32% da cotação média dos contratos de açúcar em Nova York em fevereiro na comparação com janeiro. Novas estimativas confirmaram que a produção global será inferior à oferta nesta safra internacional 2015/16, que terminará em outubro, mas há uma tendência de que a produção aumente no Centro-Sul do Brasil na safra nacional 2016/17, que começará em abril. Assim, diminuiu a aposta dos fundos de investimentos na alta dos preços da commodity.
Segundo a Comissão de Negociação de Futuros de Commodities (CFTC), os movimentos dos gestores de recursos (“managed money”) reduziram em 35,8% o saldo líquido comprado no mercado de açúcar em Nova York na semana encerrada no dia 23 de fevereiro em relação à semana anterior.
No mercado de algodão, cuja cotação média recuou 4,6% em Nova York em fevereiro, o saldo líquido vendido caiu 17,8% na mesma comparação, o que indica uma perda de fôlego do pessimismo. Mas novas retrações podem estar por vir, em parte por causa das perspectivas de redução das importações da China e do aumento das vendas dos estoques do país asiático. Os primeiros sinais sobre plantio nos EUA no ciclo 2016/17, que indicaram um área maior, também já começaram a pesar.
No café arábica, cujo valor médio dos contratos de segunda posição caiu 0,76% em fevereiro, o saldo líquido vendido também diminuiu (26,3%). Aqui, como de costume, as atenções estão voltadas para as lavouras do Brasil. Mas existe uma expectativa de que as chuvas possam beneficiar regiões produtoras, o que poderá tirar um pouco mais de fôlego das cotações.
Segundo o CFTC, no mercado de cacau, o valor médio dos contratos de segunda posição já recuou 1,19% sobre média de janeiro, mas houve um aumento de 4% do saldo líquido comprado em Nova York na semana até o dia 23, o que sinaliza que poderá haver alguma reação. No caso do suco de laranja, cujo preço médio fechou fevereiro com leve aumento de 0,11% na bolsa de Nova York, o saldo líquido vendido cresceu mais de 25 vezes, o que indica uma erosão da sustentação que vinha sendo oferecida por problemas na oferta global.
Na bolsa de Chicago, soja e milho ficaram praticamente estáveis e o trigo caiu 2,63%. Os movimentos dos fundos sinalizaram que a pressão poderá aumentar nos mercados de milho e trigo e diminuir um pouco no de soja.
Fonte: Valor Econômico via Portos e Navios