16/12/2013
Uma forte queda nas cotações do café, nos últimos anos, interrompeu uma fase favorável de mercado e, segundo especialistas, nada indica que em 2014 será possível recuperar ao menos parte das perdas.
Mas os problemas dos cafeicultores não se resumem a preço baixo, embora reclamem que, pelas cotações atuais, estão pagando para trabalhar. Para se ter ideia, no mês de novembro de 2011, em Minas Gerais, principal Estado produtor, a saca de 60 quilos chegou a ser comercializada a R$ 500. Atualmente, o máximo que se consegue é R$ 240, menos da metade. O setor calcula que o custo de produção de um café de qualidade é de R$ 380, em média.
Outra preocupação é o avanço do café conilon, em lugar do arábica, no mercado internacional. Espécie de qualidade inferior e mais barata, o conilon – ou “robusta” – é cultivado principalmente pelo Vietnã, o 2º no ranking dos países produtores, cuja safra é exportada em sua maior parte para a Alemanha, onde é “melhorado”. Além disso, tem havido grandes safras nos últimos anos no Brasil, o que colabora para manter os preços deprimidos.
O aumento do consumo de café conilon afeta diretamente o Brasil, responsável por 70% da produção mundial de arábica. “O conilon ganhou espaço no exterior e isso colabora para piorar o cenário. Para completar, tivemos duas grandes safras e uma terceira se avizinha. A demanda lá fora está ficando pequena”, explica o cafeicultor Luiz Hafers, ex-presidente da Associação dos Produtores de Café do Norte do Paraná e proprietário de duas fazendas na região norte do Paraná.
Hafers explica que os médios produtores representam 70% da cafeicultura nacional. “O médio está em péssimas condições, porque tem alto custo e não possui escala de produção.”
Segundo Hafers, o pequeno cafeicultor ainda consegue se manter pois não utiliza mão de obra contratada e é amparado pelas linhas do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Já o grande sofre pouco porque tem capital de giro adequado. “Um programa para o médio produtor seria a solução neste momento”, defende.
Para Nelson Carvalhaes, diretor do tradicional Escritório Carvalhaes de corretores de café, apesar da crise, a atividade cafeeira conseguiu alguns avanços importantes nos últimos anos. “No campo, tem havido aumento de produtividade. Por outro lado, o consumo interno e externo cresceram de forma relevante. Hoje o Brasil detém 37% do mercado mundial de cafés.”
Há quem ainda insista na cultura
Em 2013, por causa das fortes geadas, muitos produtores de café que já estavam desanimados com a cultura, aproveitaram para erradicar o que ainda restava de cafezal em suas propriedades. No município de Cianorte, a 85 quilômetros de Maringá, a estimativa de técnicos é que pelo menos 40% dos cafezais foram eliminados. Nas últimas décadas, a cidade se destacou por ser polo de importante região produtora.
Entretanto, apesar das incertezas que tomam conta da atividade, há cafeicultores que não desistem. É o caso de Ivo Garcia, dono de 80 mil pés em sociedade com o irmão João Batista e o sogro Antonio Botian. Garcia se recorda que em 2007 vendeu a maior parte de sua produção a R$ 470 a saca de 60 quilos . Hoje, o preço do produto varia entre R$ 180 a R$ 230. “Não dá nem para empatar”, lamenta o produtor, explicando que 60% dos gastos, hoje em dia, são consumidos com mão de obra.
“A gente é persistente e continua cuidando bem do café”, afirma Garcia. Mas ele admite que já está cansado de ser chamado de louco por ainda insistir na cultura. “O pessoal vem, olha e diz que precisa arrancar logo esse negócio, porque não compensa mais”, acrescenta.
O proprietário explica que só preserva sua lavoura de café porque mantém, com os sócios, outra fonte de renda que, aliás, tem sido bastante lucrativa: a mandioca. “Nunca ganhamos tanto dinheiro”, revela Garcia, lembrando que o preço da tonelada está entre R$ 570 e R$ 600. Com a escassez da matéria prima no país, a cotação da raiz acabou ficando “acima do normal” nos últimos meses, afirma o produtor. Segundo ele, em um alqueire é possível colher de 50 a mais de 70 toneladas e o custo de produção é inferior a um quarto do preço atual. “Um alqueire bem cuidado de mandioca pode render até 77 toneladas, como é o meu caso, assegurando um lucro líquido de R$ 30 mil. Não tem coisa melhor.”
Garcia acrescenta que em sua propriedade, a mandioca está garantindo a sobrevivência do café, mas não esconde a preocupação com o futuro dessa cultura: “se continuar assim, ninguém aguenta muito tempo”. E arremata: “Vamos ver gente arrancando café até mesmo no Triângulo Mineiro”.
No município de Floraí, a 50 quilômetros de Maringá, Laerte Ariosa se recorda dos bons tempos da cafeicultura, quando a atividade gerava emprego para muita gente e os proprietários conseguiam ganhar dinheiro. Dono de 5 alqueires, onde cultiva grãos, Ariosa conta que erradicou seu cafezal logo após a geada de 1975 e não quiser mais saber. “Hoje em dia, só se vê produtores arrancando sua lavoura”, conclui.
Consumo em alta aquece venda de café em cápsulas
Enquanto os cafeicultores brasileiros sofrem com os baixos preços do produto e a falta de perspectivas, há setores faturando alto na ponta do consumo, que cresce 5% em média por ano, no mundo. Um deles é o café vendido em cápsulas, uma verdadeira febre.
Estados Unidos e Europa são os principais mercados das “single cups” – outra denominação para o café em cápsula. Nos EUA o segmento já é o segundo método mais popular de preparo da bebida, sendo responsável por 17% do consumo. Já a Europa responde pela maior fatia do segmento de cápsulas de café e, em alguns países, a participação chega a 30% do consumo.
Principal produtor mundial, o Brasil é o segundo maior mercado consumidor, só abaixo dos Estados Unidos. O mercado de café em dose única se tornou conhecido há poucos anos dos brasileiros e atualmente representa apenas 2% do total das vendas. No entanto, a empresa Euromonitor, empresa especializada em máquinas de preparação do produto, trabalha com a expectativa de crescimento da demanda em torno de 18% ao ano até 2017. Segundo ela, as vendas de cápsulas de café saltaram de R$ 24,5 milhões em 2008 para R$ 206,4 milhões em 2012, um crescimento de mais de oito vezes.
Saída é a diversificação
O Ministério da Agricultura estuda a criação de uma linha de crédito exclusiva para que cafeicultores diversifiquem a produção em suas propriedades. A linha, que deve ser lançada o próximo ano, faz parte do pacote de medidas de apoio à cafeicultura, anunciado no último dia 22 pelo ministro da Agricultura, Antônio Andrade, que incluiu a renegociação das dívidas do setor. A proposta é que o produtor tenha 90% de sua renda com café e 10% com outras culturas. Andrade afirma que a pretensão é reduzir em cerca de 10% a área cultivada com café no país para diminuir a oferta.
NÚMEROS
• Em 2012, a produção de café no mundo, segundo a Organização Internacional do Café – OIC, foi cerca de 144,5 milhões de sacas de 60 kg. Desse total, o Brasil produziu mais de 50,8 milhões, seguido pelo Vietnã (22 milhões), Indonésia (10,9 milhões), Colômbia (8 milhões) e ainda Etiópia, Honduras, Índia, México e outros países.
• Pode-se dizer que de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é de origem brasileira. Em outras palavras, a produção de café no Brasil é responsável por cerca de um terço da mundial, o que faz do Brasil o maior produtor e exportador. O País é também o segundo maior consumidor, após os EUA.
Fonte: Umuarama Ilustrado
16/12/2013
Uma forte queda nas cotações do café, nos últimos anos, interrompeu uma fase favorável de mercado e, segundo especialistas, nada indica que em 2014 será possível recuperar ao menos parte das perdas.
Mas os problemas dos cafeicultores não se resumem a preço baixo, embora reclamem que, pelas cotações atuais, estão pagando para trabalhar. Para se ter ideia, no mês de novembro de 2011, em Minas Gerais, principal Estado produtor, a saca de 60 quilos chegou a ser comercializada a R$ 500. Atualmente, o máximo que se consegue é R$ 240, menos da metade. O setor calcula que o custo de produção de um café de qualidade é de R$ 380, em média.
Outra preocupação é o avanço do café conilon, em lugar do arábica, no mercado internacional. Espécie de qualidade inferior e mais barata, o conilon – ou “robusta” – é cultivado principalmente pelo Vietnã, o 2º no ranking dos países produtores, cuja safra é exportada em sua maior parte para a Alemanha, onde é “melhorado”. Além disso, tem havido grandes safras nos últimos anos no Brasil, o que colabora para manter os preços deprimidos.
O aumento do consumo de café conilon afeta diretamente o Brasil, responsável por 70% da produção mundial de arábica. “O conilon ganhou espaço no exterior e isso colabora para piorar o cenário. Para completar, tivemos duas grandes safras e uma terceira se avizinha. A demanda lá fora está ficando pequena”, explica o cafeicultor Luiz Hafers, ex-presidente da Associação dos Produtores de Café do Norte do Paraná e proprietário de duas fazendas na região norte do Paraná.
Hafers explica que os médios produtores representam 70% da cafeicultura nacional. “O médio está em péssimas condições, porque tem alto custo e não possui escala de produção.”
Segundo Hafers, o pequeno cafeicultor ainda consegue se manter pois não utiliza mão de obra contratada e é amparado pelas linhas do Programa Nacional de Agricultura Familiar (Pronaf). Já o grande sofre pouco porque tem capital de giro adequado. “Um programa para o médio produtor seria a solução neste momento”, defende.
Para Nelson Carvalhaes, diretor do tradicional Escritório Carvalhaes de corretores de café, apesar da crise, a atividade cafeeira conseguiu alguns avanços importantes nos últimos anos. “No campo, tem havido aumento de produtividade. Por outro lado, o consumo interno e externo cresceram de forma relevante. Hoje o Brasil detém 37% do mercado mundial de cafés.”
Há quem ainda insista na cultura
Em 2013, por causa das fortes geadas, muitos produtores de café que já estavam desanimados com a cultura, aproveitaram para erradicar o que ainda restava de cafezal em suas propriedades. No município de Cianorte, a 85 quilômetros de Maringá, a estimativa de técnicos é que pelo menos 40% dos cafezais foram eliminados. Nas últimas décadas, a cidade se destacou por ser polo de importante região produtora.
Entretanto, apesar das incertezas que tomam conta da atividade, há cafeicultores que não desistem. É o caso de Ivo Garcia, dono de 80 mil pés em sociedade com o irmão João Batista e o sogro Antonio Botian. Garcia se recorda que em 2007 vendeu a maior parte de sua produção a R$ 470 a saca de 60 quilos . Hoje, o preço do produto varia entre R$ 180 a R$ 230. “Não dá nem para empatar”, lamenta o produtor, explicando que 60% dos gastos, hoje em dia, são consumidos com mão de obra.
“A gente é persistente e continua cuidando bem do café”, afirma Garcia. Mas ele admite que já está cansado de ser chamado de louco por ainda insistir na cultura. “O pessoal vem, olha e diz que precisa arrancar logo esse negócio, porque não compensa mais”, acrescenta.
O proprietário explica que só preserva sua lavoura de café porque mantém, com os sócios, outra fonte de renda que, aliás, tem sido bastante lucrativa: a mandioca. “Nunca ganhamos tanto dinheiro”, revela Garcia, lembrando que o preço da tonelada está entre R$ 570 e R$ 600. Com a escassez da matéria prima no país, a cotação da raiz acabou ficando “acima do normal” nos últimos meses, afirma o produtor. Segundo ele, em um alqueire é possível colher de 50 a mais de 70 toneladas e o custo de produção é inferior a um quarto do preço atual. “Um alqueire bem cuidado de mandioca pode render até 77 toneladas, como é o meu caso, assegurando um lucro líquido de R$ 30 mil. Não tem coisa melhor.”
Garcia acrescenta que em sua propriedade, a mandioca está garantindo a sobrevivência do café, mas não esconde a preocupação com o futuro dessa cultura: “se continuar assim, ninguém aguenta muito tempo”. E arremata: “Vamos ver gente arrancando café até mesmo no Triângulo Mineiro”.
No município de Floraí, a 50 quilômetros de Maringá, Laerte Ariosa se recorda dos bons tempos da cafeicultura, quando a atividade gerava emprego para muita gente e os proprietários conseguiam ganhar dinheiro. Dono de 5 alqueires, onde cultiva grãos, Ariosa conta que erradicou seu cafezal logo após a geada de 1975 e não quiser mais saber. “Hoje em dia, só se vê produtores arrancando sua lavoura”, conclui.
Consumo em alta aquece venda de café em cápsulas
Enquanto os cafeicultores brasileiros sofrem com os baixos preços do produto e a falta de perspectivas, há setores faturando alto na ponta do consumo, que cresce 5% em média por ano, no mundo. Um deles é o café vendido em cápsulas, uma verdadeira febre.
Estados Unidos e Europa são os principais mercados das “single cups” – outra denominação para o café em cápsula. Nos EUA o segmento já é o segundo método mais popular de preparo da bebida, sendo responsável por 17% do consumo. Já a Europa responde pela maior fatia do segmento de cápsulas de café e, em alguns países, a participação chega a 30% do consumo.
Principal produtor mundial, o Brasil é o segundo maior mercado consumidor, só abaixo dos Estados Unidos. O mercado de café em dose única se tornou conhecido há poucos anos dos brasileiros e atualmente representa apenas 2% do total das vendas. No entanto, a empresa Euromonitor, empresa especializada em máquinas de preparação do produto, trabalha com a expectativa de crescimento da demanda em torno de 18% ao ano até 2017. Segundo ela, as vendas de cápsulas de café saltaram de R$ 24,5 milhões em 2008 para R$ 206,4 milhões em 2012, um crescimento de mais de oito vezes.
Saída é a diversificação
O Ministério da Agricultura estuda a criação de uma linha de crédito exclusiva para que cafeicultores diversifiquem a produção em suas propriedades. A linha, que deve ser lançada o próximo ano, faz parte do pacote de medidas de apoio à cafeicultura, anunciado no último dia 22 pelo ministro da Agricultura, Antônio Andrade, que incluiu a renegociação das dívidas do setor. A proposta é que o produtor tenha 90% de sua renda com café e 10% com outras culturas. Andrade afirma que a pretensão é reduzir em cerca de 10% a área cultivada com café no país para diminuir a oferta.
NÚMEROS
• Em 2012, a produção de café no mundo, segundo a Organização Internacional do Café – OIC, foi cerca de 144,5 milhões de sacas de 60 kg. Desse total, o Brasil produziu mais de 50,8 milhões, seguido pelo Vietnã (22 milhões), Indonésia (10,9 milhões), Colômbia (8 milhões) e ainda Etiópia, Honduras, Índia, México e outros países.
• Pode-se dizer que de cada três xícaras de café consumidas no mundo, uma é de origem brasileira. Em outras palavras, a produção de café no Brasil é responsável por cerca de um terço da mundial, o que faz do Brasil o maior produtor e exportador. O País é também o segundo maior consumidor, após os EUA.
Fonte: Umuarama Ilustrado