“Evidentemente tem café no mercado, não sei por que existe esse recolhimento dos produtores, talvez porque os preços não evoluíram…”
SÃO PAULO (Reuters) – O setor de café no Brasil tem relatado dificuldades em conseguir produto para suas operações, apesar de a colheita deste ano ter acabado recentemente, em um sinal de que cafeicultores podem estar segurando a produção à espera de preços mais atrativos e definições sobre o tamanho da próxima safra, disseram representantes do setor à Reuters.
“Evidentemente tem café no mercado, não sei por que existe esse recolhimento dos produtores, talvez porque os preços não evoluíram (como querem os produtores). Pode ser uma reação a isso”, resumiu o diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), Nathan Herszkowicz.
Segundo dados da Abic, os preços do arábica subiram 33,3 por cento no mercado interno de julho de 2015 até agora, enquanto os do conilon (robusta) avançaram cerca de 36 por cento no mesmo período.
O Índice de Oferta de Café para a Indústria (IOCI) da Abic atingiu 5,45 pontos em 15 de setembro, em uma escala que vai de 1 a 9, sugerindo “suprimento seletivo”, ou seja, oferta irregular de café em grão para empresas de todos os portes, com o abastecimento sendo realizado de forma intermitente.
O indicador de oferta da Abic, que considera tanto arábica quanto conilon, apontou uma menor oferta nesta semana após a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) reduzir sua projeção para a safra 2017 no Brasil em cerca de 1 milhão de sacas, apontando uma queda de 12,8 por cento ante 2016.
Na semana anterior, o IOCI estava em 6,16 pontos –quanto maior o índice, maior a oferta.
“O que temos ouvido é que há resistência de venda neste ano, porque o produtor sentiu que a safra não foi do tamanho esperado e já vê que pode dar ‘zebra’ também no ano que vem, que está longe de ser uma supersafra”, afirmou o diretor do Escritório Carvalhaes, em Santos (SP), Eduardo Carvalhaes.
Agrônomos, produtores e cooperativas de café do Brasil estão minimizando perspectivas anteriores de que o maior produtor mundial colheria sua maior safra da história em 2018, uma vez que uma seca severa nas principais regiões está danificando os pés.
Na mesma linha, o corretor Thiago Cazarini, da Cazarini Trading Company, em Varginha (MG), afirma que, em razão da falta de chuvas, “dificilmente essas primeiras floradas vão resultar em algo bom… acreditamos que o potencial produtivo já está afetado no arábica”.
“E em relação à safra atual, tivemos uma perda grande de renda no café. Produtores de arábica foram surpreendidos com o resultado de suas lavouras”, disse Cazarini.
Segundo o superintendente de Informações do Agronegócio da Conab, Aroldo Antônio de Oliveira Neto, a safra de 2017 sofreu com um aumento de doenças e pragas, como a broca do café. Ele citou ainda problemas climáticos, como chuva na colheita e precipitações irregulares em períodos de floradas.
A redução da estimativa de 2017, no entanto, foi considerada acentuada por um corretor, apesar dos problemas registrados nas lavouras.
“É um pouco complicado dizer o que a Conab quer com isso. Sempre tenho a impressão que a Conab quer ajudar o produtor. Com essa revisão para baixo, a Conab pode estar querendo que os preços subam”, avaliou um corretor em Santos, sob condição de anonimato.
Ele disse que sua estimativa está em revisão.
Fonte: Reuters