Depois da escalada registrada entre 2010 e 2011, os preços internacionais do café perderam força e acentuaram a queda neste primeiro trimestre. Entre analistas e representantes do setor, prevalece a aposta em uma recuperação, mas nada indica um retorno aos níveis observados em maio do ano passado, quando a commodity atingiu a marca de US$ 3,0615 em Nova York.
De acordo com o Valor Data, do início de dezembro até ontem, o valor dos contratos de café de segunda posição (normalmente os mais negociados) recuou 21,78 % na bolsa americana, para US$ 1,8530 a libra-peso. O indicador Cepea/Esalq, que apura o comportamento dos preços no mercado físico brasileiro, desabou mais de 23% no mesmo período, para o menor nível desde dezembro de 2010.
Os cafés de melhor qualidade, que em janeiro eram negociados na faixa entre R$ 510 e R$ 520 a saca, hoje oscilam entre R$ 400 e R$ 420, conta Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Em março do ano passado, quando o mercado atingiu um pico de preço, a mesma saca era comercializada entre R$ 550 e R$ 570. Os cafés mais finos chegaram a valer R$ 600 a saca.
Apesar disso, Carvalhaes avalia que os fundamentos do mercado são positivos, com uma oferta apertada e um consumo aparentemente indiferente às turbulências na economia mundial. Segundo ele, três fatores explicam as perdas recentes. O primeiro é o agravamento da crise na zona do euro, que derrubou o preço de várias commodities no semestre passado. O segundo é o fortalecimento do dólar diante do real, que estimulou as vendas de contratos de café em Nova York e no Brasil. O terceiro é a perspectiva de uma grande colheita no país a partir de maio próximo.
“Com a safra maior e a economia em crise, os participantes do mercado não querem ficar no contrato de café”, explica Carvalhaes. Ele pondera, porém, que o equilíbrio do mercado continua “precário”, com uma demanda total próxima de 55 milhões de sacas para abastecer os mercados doméstico e de exportação. “Não tem café sobrando”, resume.
Rodrigo Costa, analista da Caturra Coffee, afirma que os preços do café estão próximos de um patamar de equilíbrio em Nova York. Segundo ele, as cotações não devem ceder muito além dos níveis atuais e podem até retornar à faixa dos US$ 2 por libra-peso, a menos que haja novos abalos nos mercados financeiros.
Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), também prevê uma reação, motivada pelos baixos estoques do grão. “Quando o preço começa a cair, o produtor sente que a situação pode piorar e corre para vender, o que faz com que o preço caia ainda mais. Nós aconselhamos o produtor a não continuar nessa corrida”, explica.
A queda preocupa os cafeicultores, embora a maior parte da última safra tenha sido negociada a preços elevados. Segundo Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de produtores de café do Brasil, os cerca de 12 mil produtores associados venderam praticamente todo o café de que dispunham até o fim de 2011. Os estoques da cooperativa são hoje 32% menores do que os registrados no mesmo período do ano passado. O momento, diz Dias, é de “calmaria”.
Dias pondera que a rentabilidade neste ano não vai alcançar os patamares de 2011.
No ano passado, o preço médio pago pela mineira Cooxupé ao produtor foi de
477,86 a saca. Nesta semana, o valor oscilou em torno de R$ 385. “O produtor terá
de reduzir despesas com gastos e investimentos”, alerta. (Valor Econômico)
16/03/2012
Por Carine Ferreira | De São Paulo
Depois da escalada registrada entre 2010 e 2011, os preços internacionais do café perderam força e acentuaram a queda neste primeiro trimestre. Entre analistas e representantes do setor, prevalece a aposta em uma recuperação, mas nada indica um retorno aos níveis observados em maio do ano passado, quando a commodity atingiu a marca de US$ 3,0615 em Nova York.
De acordo com o Valor Data, do início de dezembro até ontem, o valor dos contratos de café de segunda posição (normalmente os mais negociados) recuou 21,78 % na bolsa americana, para US$ 1,8530 a libra-peso. O indicador Cepea/Esalq, que apura o comportamento dos preços no mercado físico brasileiro, desabou mais de 23% no mesmo período, para o menor nível desde dezembro de 2010.
Os cafés de melhor qualidade, que em janeiro eram negociados na faixa entre R$ 510 e R$ 520 a saca, hoje oscilam entre R$ 400 e R$ 420, conta Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Em março do ano passado, quando o mercado atingiu um pico de preço, a mesma saca era comercializada entre R$ 550 e R$ 570. Os cafés mais finos chegaram a valer R$ 600 a saca.
Apesar disso, Carvalhaes avalia que os fundamentos do mercado são positivos, com uma oferta apertada e um consumo aparentemente indiferente às turbulências na economia mundial. Segundo ele, três fatores explicam as perdas recentes. O primeiro é o agravamento da crise na zona do euro, que derrubou o preço de várias commodities no semestre passado. O segundo é o fortalecimento do dólar diante do real, que estimulou as vendas de contratos de café em Nova York e no Brasil. O terceiro é a perspectiva de uma grande colheita no país a partir de maio próximo.
Ainda há muita especulação sobre o tamanho da produção no Brasil, principal player do mercado global. De acordo com o Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2012/13 deve somar entre 48,97 e 52,27 milhões de sacas, mas o mercado projeta números maiores. Na última segunda-feira, o banco holandês Rabobank estimou uma colheita de 57 milhões de sacas, o que ajudou a derrubar o preço da commodity para o menor nível em 17 meses em Nova York, a US$ 1,8360 a libra-peso, na quarta-feira.
“Com a safra maior e a economia em crise, os participantes do mercado não querem ficar no contrato de café”, explica Carvalhaes. Ele pondera, porém, que o equilíbrio do mercado continua “precário”, com uma demanda total próxima de 55 milhões de sacas para abastecer os mercados doméstico e de exportação. “Não tem café sobrando”, resume.
Rodrigo Costa, analista da Caturra Coffee, afirma que os preços do café estão próximos de um patamar de equilíbrio em Nova York. Segundo ele, as cotações não devem ceder muito além dos níveis atuais e podem até retornar à faixa dos US$ 2 por libra-peso, a menos que haja novos abalos nos mercados financeiros.
Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), também prevê uma reação, motivada pelos baixos estoques do grão. “Quando o preço começa a cair, o produtor sente que a situação pode piorar e corre para vender, o que faz com que o preço caia ainda mais. Nós aconselhamos o produtor a não continuar nessa corrida”, explica.
A queda preocupa os cafeicultores, embora a maior parte da última safra tenha sido negociada a preços elevados. Segundo Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de produtores de café do Brasil, os cerca de 12 mil produtores associados venderam praticamente todo o café de que dispunham até o fim de 2011. Os estoques da cooperativa são hoje 32% menores do que os registrados no mesmo período do ano passado. O momento, diz Dias, é de “calmaria”.
Dias pondera que a rentabilidade neste ano não vai alcançar os patamares de 2011. No ano passado, o preço médio pago pela mineira Cooxupé ao produtor foi de 477,86 a saca. Nesta semana, o valor oscilou em torno de R$ 385. “O produtor terá de reduzir despesas com gastos e investimentos”, alerta.
De acordo com Silas Brasileiro
Depois da escalada registrada entre 2010 e 2011, os preços internacionais do café perderam força e acentuaram a queda neste primeiro trimestre. Entre analistas e representantes do setor, prevalece a aposta em uma recuperação, mas nada indica um retorno aos níveis observados em maio do ano passado, quando a commodity atingiu a marca de US$ 3,0615 em Nova York.
De acordo com o Valor Data, do início de dezembro até ontem, o valor dos contratos de café de segunda posição (normalmente os mais negociados) recuou 21,78 % na bolsa americana, para US$ 1,8530 a libra-peso. O indicador Cepea/Esalq, que apura o comportamento dos preços no mercado físico brasileiro, desabou mais de 23% no mesmo período, para o menor nível desde dezembro de 2010.
Os cafés de melhor qualidade, que em janeiro eram negociados na faixa entre R$ 510 e R$ 520 a saca, hoje oscilam entre R$ 400 e R$ 420, conta Eduardo Carvalhaes, do Escritório Carvalhaes. Em março do ano passado, quando o mercado atingiu um pico de preço, a mesma saca era comercializada entre R$ 550 e R$ 570. Os cafés mais finos chegaram a valer R$ 600 a saca.
Apesar disso, Carvalhaes avalia que os fundamentos do mercado são positivos, com uma oferta apertada e um consumo aparentemente indiferente às turbulências na economia mundial. Segundo ele, três fatores explicam as perdas recentes. O primeiro é o agravamento da crise na zona do euro, que derrubou o preço de várias commodities no semestre passado. O segundo é o fortalecimento do dólar diante do real, que estimulou as vendas de contratos de café em Nova York e no Brasil. O terceiro é a perspectiva de uma grande colheita no país a partir de maio próximo.
Ainda há muita especulação sobre o tamanho da produção no Brasil, principal player do mercado global. De acordo com o Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a safra 2012/13 deve somar entre 48,97 e 52,27 milhões de sacas, mas o mercado projeta números maiores. Na última segunda-feira, o banco holandês Rabobank estimou uma colheita de 57 milhões de sacas, o que ajudou a derrubar o preço da commodity para o menor nível em 17 meses em Nova York, a US$ 1,8360 a libra-peso, na quarta-feira.
“Com a safra maior e a economia em crise, os participantes do mercado não querem ficar no contrato de café”, explica Carvalhaes. Ele pondera, porém, que o equilíbrio do mercado continua “precário”, com uma demanda total próxima de 55 milhões de sacas para abastecer os mercados doméstico e de exportação. “Não tem café sobrando”, resume.
Rodrigo Costa, analista da Caturra Coffee, afirma que os preços do café estão próximos de um patamar de equilíbrio em Nova York. Segundo ele, as cotações não devem ceder muito além dos níveis atuais e podem até retornar à faixa dos US$ 2 por libra-peso, a menos que haja novos abalos nos mercados financeiros.
Silas Brasileiro, presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), também prevê uma reação, motivada pelos baixos estoques do grão. “Quando o preço começa a cair, o produtor sente que a situação pode piorar e corre para vender, o que faz com que o preço caia ainda mais. Nós aconselhamos o produtor a não continuar nessa corrida”, explica.
A queda preocupa os cafeicultores, embora a maior parte da última safra tenha sido negociada a preços elevados. Segundo Lúcio Dias, superintendente comercial da Cooxupé, a maior cooperativa de produtores de café do Brasil, os cerca de 12 mil produtores associados venderam praticamente todo o café de que dispunham até o fim de 2011. Os estoques da cooperativa são hoje 32% menores do que os registrados no mesmo período do ano passado. O momento, diz Dias, é de “calmaria”.
Dias pondera que a rentabilidade neste ano não vai alcançar os patamares de 2011. No ano passado, o preço médio pago pela mineira Cooxupé ao produtor foi de 477,86 a saca. Nesta semana, o valor oscilou em torno de R$ 385. “O produtor terá de reduzir despesas com gastos e investimentos”, alerta.
De acordo com Silas Brasileiro, a margem de lucro do produtor girou em torno de 30% a 35% no ano passado. “Estamos trabalhando para conseguir a mesma rentabilidade de 2011”, afirma ele. O executivo diz que, com o custo de produção em torno de R$ 330 a R$ 370 a saca, os atuais preços recebidos pelo produtor não são remuneradores.