O indicador Cepea Esalq para conilon alcançou R$ 452,61 por saca, recorde em termos nominais. O valor também é recorde se deflacionado, considerando o IGP-DI de agosto.
29 set 2016
A escassez de oferta de café da espécie conilon no Brasil em decorrência, sobretudo, da seca no Espírito Santo levou os preços dessa matéria-prima a patamares recorde no país. Diante desse quadro, as torrefadoras têm dificuldade de encontrar café para seus blends assim como as empresas de solúvel. Além disso, a alta fez diminuir a diferença entre os preços do conilon e do arábica, espécie mais valorizada no mercado.
Ontem, o indicador Cepea Esalq para conilon alcançou R$ 452,61 por saca, recorde em termos nominais. O valor também é recorde se deflacionado, considerando o IGP-DI de agosto.
O principal motivo para a valorização do conilon foi a quebra da safra 2016/17 no Espírito Santo, maior produtor da espécie no país. De acordo com a Conab, a produção brasileira no ciclo deve somar 8,35 milhões de sacas, 25,3% abaixo do colhido na safra 2015/16. No Estado, a colheita deve recuar 30,7%, para 5,380 milhões de sacas, reflexo da falta de chuvas e altas temperaturas. Neste momento, aliás, o Espírito Santo enfrenta racionamento de água, inclusive nas regiões produtoras de café, muitas delas com áreas irrigadas.
A menor disponibilidade de conilon no mercado fez as torrefadoras mudarem o blends dos cafés. As empresas que produzem café torrado e moído tradicional utilizavam, em média, 50% de conilon e 50% de arábica em seus blends, de acordo com Nathan Herszkowicz, diretor-executivo da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Agora, com a escassez de conilon, as torrefadoras tiveram de aumentar a quantidade de arábica no blend para entre 80% e 90%, em média, afirma.
Os cafés que estão substituindo o conilon nos blends, acrescenta, são o arábica consumo interno duro e o arábica tipo 8, considerados tipos mais fracos.
Dados compilados pela Abic de preços de cafés em grão levantados por diferentes fontes no mercado brasileiro mostram que a menor oferta de conilon fez a diferença entre a cotação dessa espécie e a do arábica diminuir. “O preço do conilon era entre 15% e 20% mais barato que o do arábica”, diz. Mas isso mudou.
Segundo os dados compilados pela Abic, em julho de 2015, a diferença entre o conilon bica corrida tipo 7 e o arábica bebida dura tipo 7 era de 25%. No último dia 21 deste mês, o conilon estava 13% mais barato que o arábica. E acompanhamento Pharos Commodity Risk Management mostra que há conilon mais caro do que o arábica no mercado.
Com essa substituição da matéria-prima, há um aumento do custo da indústria, de acordo com o diretor-executivo da Abic. A maior procura também acaba dando sustentação às cotações dos arábicas no mercado.
Indústria que demanda 4,5 milhões de sacas de conilon por ano, a de café solúvel tem tido cada vez mais dificuldades para encontrar matéria-prima no mercado. Aguinaldo José de Lima, diretor de relações institucionais da Associação Brasileira da Indústria de Café Solúvel (Abics), afirma que a situação é preocupante por dois motivos: “Os preços não caíram mesmo com a colheita concluída e há dificuldade de encontrar lotes, que quando surgem são muito disputados”, relata.
Das 4,5 milhões de sacas de café conilon que consome, a indústria de solúvel exporta o equivalente a 3,6 milhões de sacas. Mas a redução da competitividade do produto brasileiro em relação a outras origens preocupa, diz Lima, que defende como saída a importação, se necessário. Segundo ele, o conilon brasileiro hoje está mais caro que o de outras origens importantes, como Indonésia, Vietnã e Uganda.
Afora a produção menor de conilon nesta safra, há menos oferta da matéria-prima porque os produtores estão vendendo com “parcimônia”, afirma Herszkowicz. Edimilsom Calegari, gerente geral da Cooperativa dos Cafeicultores de São Gabriel (Cooabriel), de São Gabriel da Palha (ES), diz que os produtores estão segurando a venda do café por causa da estiagem persistente, que já coloca em xeque a próxima safra, a 2017/18, no Estado.
Os cafezais do Estado já tiveram as primeiras floradas, mas agora são necessárias chuvas para que outras ocorram e para que as flores vinguem. “Os produtores estão esperando o clima mudar para poder investir novamente nas lavouras. [Senão] Vender para quê? Para aplicar no banco?”, indaga.
Moris Mermelstein, consultor sênior da Pharos, afirma que há pouco conilon disponível porque o produtor está “meio temeroso em vender”. Além de avaliar que o preço pode subir mais, os produtores estão esperando as próximas chuvas e floradas para estimar a safra 2017/18, diz. “Se forem boas, ficarão mais agressivos” nas vendas, acredita.
Para ele, a tendência é os preços do conilon continuarem firmes, até porque há menor oferta também em nível internacional e a demanda por robusta – outra denominação do conilon – cresce mais que pelo arábica.
Thiago Cazarini, da Cazarini Trading, também acredita em continuidade da valorização, uma vez que os indícios são de que a próxima safra capixaba ainda deve ser prejudicada pelo clima seco.
Os estoques baixos de café no país reforçam a tendência de alta, diz Herszkowicz, da Abic.
Fonte : Valor