A proximidade da colheita, a movimentação de fundos nas bolsas de valores e, principalmente, a desvalorização do dólar, estão fazendo os preços do café cair nas principais regiões produtoras do país. Em março, a maior queda ocorreu em Minas, fazendo a cotação da saca do produto despencar 26,3%. Em média, os valores pagos aos cafeicultores brasileiros no período foram 25% inferiores aos do mesmo período do ano passado.
De acordo com o presidente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores em Guaxupé (Cooxupé), Carlos Paulino, responsável por 17% do café colhido em Minas, o preço médio já está próximo ao custo de produção, o que contribui para agravar as perdas acumuladas pelos produtores nos últimos três anos. Em janeiro, a saca de café comercializada pela cooperativa era vendida a R$ 300, em média, e ontem foi comercializada a R$ 240. Para produzir a saca, o agricultor gasta R$ 230. “Em muitas regiões, os produtores estão praticamente pagando para colher café”, afirma o presidente do Conselho Nacional do Café (CNC), Maurício Miarelli.
“Não dá para entender o que está ocorrendo, porque os fundamentos do mercado são todos positivos”, argumenta Paulino. Ele se refere à demanda equilibrada com a oferta, ao aumento do consumo mundial do produto e aos estoques em baixa em todo o mundo. Segundo o produtor, a única explicação razoável é que os fundos que estabelecem os preços mundiais, ligados à Bolsa de Valores de Nova York, estão jogando os preços para baixo, desconsiderando a realidade do mercado.
Também na opinião do gerente da Cooperativa Regional dos Cafeicultores do Vale do Rio Verde (Cocarive), Álvaro Coli, no Sul de Minas, a retração ocorre por causa da movimentação dos fundos. O presidente da Cooperativa dos Cafeicultores de Três Pontas (Cocatrel), Francisco Miranda, concorda. Segundo ele, diante da situação favorável do mercado, a principal razão para a queda de preços está ligada aos fundos.
Responsável por 15% do café colhido no Sul de Minas, a Cocatrel estima que desde janeiro os preços da saca tenham caído em torno de 30% entre os produtores associados. “Também estamos preocupados com a desvalorização do dólar em relação ao real e com a elevação dos custos de produção”, explica. Além disso, a previsão de aumento de até 23% na safra deste ano é outro motivo apontado para a oscilação verificada nos valores pagos aos produtores em todo o país.
Segundo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a partir de maio, o Brasil vai colher 40,6 milhões de sacas, 50% delas produzidas em Minas e das quais 10 milhões são do Sul do estado. “Ao contrário do que se pensa, o café não vive um bom momento. Passamos por um período de crise e enfrentamos, anualmente, a sazonalidade da produção”, diz o presidente da Cooxupé. Segundo ele, o preço razoável do produto é o que vinha sendo negociado em janeiro: R$ 300 por saca de 60 quilos.
A tendência é de que tudo continue como está pelo menos até o início da colheita. Paulino explica que a volatilidade de preços é uma característica da produção do café e lembra que, em março de 2005, a saca era comercializada a R$ 340. Em junho, na época da colheita, caiu para R$ 200. Seguiu variando entre R$ 200 e R$ 250 pelo restante do ano até chegar a R$ 300 em janeiro.