Irineu Nalin
Entre tantos: viagens, veleiros, gastronomia, vinhos, que cada pessoa estabelece em sua escala de prioridades como objetivos na vida, o vinho se constitui um ótimo prazer quando considerado como parte de nossa nutrição. Vou falar não como um especialista em enogastronomia, o qual não sou, mas como um modesto consumidor e apreciador: enófilo. Segundo especialistas existem cerca de oito mil variedades de uvas no Planeta. Comercialmente são conhecidas e exploradas algumas centenas. O comércio de vinho, nas últimas décadas, tomou novos rumos, direcionado pelas avaliações (notas) de organizações especializadas como: Robert Parker, Wine Spectator, Decanter, Gambero Rosso, Guide Hachette, etc. e, os preços acompanham essas pontuações.
O mercado brasileiro ainda restrito, mas crescente, despertou a entrada de novas importadoras, cada uma tentando oferecer mais alternativas ao consumidor. Surgiram especialistas na imprensa e ocorre uma tendência do consumidor ficar condicionado pelos formuladores de opinião, diante de tantos rótulos à sua disposição. Como o enófilo é um eterno garimpador de novidades, imagine: apenas as principais castas, espalhadas por várias regiões no mundo, cada terroir (clima/solo/topografia), multiplicada pelas safras e produtores, originando diferentes tipos, sem dúvida, um infinito de rótulos a perder de vista. Beber vinho envolve ser consumidor sofisticado, atento e bem informado, conhecedor de história, cultura e tradição.
Assim, na eterna busca da otimização “preço/prazer”, que é uma relação dinâmica e pessoal, vamos consumindo e mudando de opinião, até que a evolução olfativa/gustativa rejeite ou imponha novas opções. Particularmente, passei por inúmeras fases: houve época que defendia, com a evolução dos chilenos e argentinos, essa relação como mais favorável, diante dos europeus, mais afetados com a desvantagem cambial. Ultimamente, passou a ocorrer uma invasão de sul-americanos de baixa qualidade, como também já ocorrera com os europeus e, os nacionais que evoluíram em qualidade tornaram-se não competitivos em preço. Com novas garimpagens de algumas importadoras seletivas e a exploração por produtores do velho mundo de uvas raras e autóctones, principalmente na Itália, voltei às origens de meus antepassados e, não sei, se mais por condicionante genética ou organoléptica.
Minha infância era cercada, no verão, pelo buquê das vinhas. Muito embora, a região tivesse se especializado em uvas de mesa (inclusive, dando origem por mutação genética a Niagara rosada), existiam muitas vinícolas, que não sobreviveram, por razões mercadológicas e transformação urbana. Em frente de casa passavam carregamentos direcionados à Vinícola Traldi, que ficava no centro da cidade, local hoje ocupado, com instalações adaptadas, por um supermercado.
A variedade predominante plantada pelos imigrantes italianos era a Corvina, que ainda predomina na região do Vêneto (nos Amarone, Valpolicella, Bardolino), de onde grande parte deles vieram com a ilusão de “fazer a América”, que na realidade era para substituir a mão-de-obra escrava nas lavouras de café. Aqueles que não se adaptaram formaram assentamentos rurais, que na região de Jundiaí, direcionaram-se inicialmente para a viticultura.
As novas ofertas que o mercado disponibiliza no momento e que vale experimentar são vinhos com uma boa relação preço/prazer, além da novidade, para quem quer sair um pouco das castas mais exploradas, como: Cabernet Sauvignon e Franc, Merlot, Pinot Noir, Syrah, Malbec, Tempranillo, Tannat, Sangiovese, Nebbiolo, Dolcetto, Barbera, Touriga Nacional. Produzidos a partir de castas primitivas, como a Montepulciano, Lacrima, Aglianico, Foja Tonda, Lagrein, Wildbacher, entre outras, nas tintas. Isso leva-me a questionar um fator importante no enófilo: a componente genética. Certamente, nossos antepassados nos legaram alguma influência e hábito. Se essa cultura é ou não um fator predominante não posso afirmar, pois a degustação envolve um processo de aprendizagem. Entretanto, o que não dá para entender é encontrar hoje muita gente rotulada de sommelier, sem esses antecedentes.
Irineu Nalin é economista, enófilo, ambientalista e velejador. Sobre o mesmo tema consulte: Amigos & Vinhos/Vinhos brasileiros adquirem excelência.
Internet: http://www.litoralvirtual.com.br/irineu.htm